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Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil| Foto:

Símbolos que unam o país são importantes para governos. Fernando Henrique Cardoso assumiu com a prioridade de garantir o Plano Real. Lula tinha o Fome Zero. Dilma Rousseff era a gerente do PAC. Jair Bolsonaro ainda não tem ideia melhor do que combater fantasmas socialistas.

Nenhum desses símbolos inaugurais fazem bons ou maus governos, é preciso deixar claro. Mas são ferramentas políticas que funcionam para reduzir atritos, guiar uma agenda positiva e fazer com que os esforços do governo sejam mais concentrados do que seriam na ausência de prioridades.

É claro que esses símbolos não sobrevivem por muito tempo se não avançarem para a prática. A sustentação da estabilidade do real e o sucesso do Bolsa Família são exemplos de que o foco vale a pena. FHC em seu primeiro ano de governo rodou o país visitando supermercados ou padarias, enquanto preparava em Brasília privatizações e uma sucessão de ajustes, incluindo uma reforma da Previdência. O real foi um legado, gostem ou não do governo tucano. Lula abriu as porta nos altos escalões de grandes empresas com a causa do combate à fome – deixando o Bolsa Família como um programa que nenhum candidato ao Palácio do Planalto encerraria. O PAC fez de Dilma uma estrela entre prefeitos e governadores – uma ilusão de ótica que se desfez com a mistura de corrupção e incompetência que acabou com seu governo.

Bolsonaro tateou com símbolos ao chamar Sergio Moro para o Ministério da Justiça. O pacote anticrime poderia ser uma prioridade com resultados palpáveis para a população. Em outra frente, o presidente poderia encampar as reformas econômicas, como tentou Michel Temer antes de ser engolido pela divulgação de sua conversa na calada da noite com Joesley Batista.

A agenda presidencial, no entanto, não está concentrada na mobilização em torno dos seus dois núcleos mais capacitados para fazer alguma diferença ao longo dos próximos quatro anos. Bolsonaro conseguiu desidratar a reforma da Previdência antes mesmo de começar a negociar com o Congresso. A impressão sobre Moro é a de que o presidente não está interessado nos detalhes de um projeto que só terá resultados no longo prazo – a ponto de desgastar o ministro no episódio da nomeação de Ilona Szabó, algo totalmente periférico diante do desafio de reduzir a violência no país.

A presença de Bolsonaro no Twitter só reforça essa impressão de que o foco do presidente não está em resolver de forma prioritária alguma das dores dos brasileiros. Ele prefere alimentar velhas causas, como o alerta antissocialista, a proteção a policiais que matam em serviço e uma espécie de guerra cultural contra a esquerda. Podem ser os assuntos do momento para o cidadão Jair Bolsonaro, alarmado com o que vê em determinado bloco de carnaval, mas não para o país.

Conforme as dificuldades para se aprovar a reforma da Previdência aparecem e o mercado começa a acordar para os efeitos da guerra comercial americana, as perspectivas de crescimento começam a ser reduzidas, dificultando o trabalho de Paulo Guedes. Corremos o risco de mais um ano com crescimento abaixo de 2%, insuficiente para o desemprego cair no ritmo necessário para ir abaixo dos dois dígitos. Sergio Moro precisará de apoio para reconstruir a segurança pública no país. E o trabalho fica mais difícil a cada vez que ele precisa se explicar sobre laranjas e afins. O trabalho do presidente era fazer com que agendas desse tipo se acelerassem e não fazer o país perder tempo em polêmicas secundárias.

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