Roque de Sá/Agência Senado| Foto:

Salvo alguma reviravolta nada incomum na Justiça brasileira, o ex-presidente Lula poderá passar o Natal em seu apartamento em São Bernardo do Campo. Seu alvará de soltura deverá ser emoldurado, como um símbolo do funcionamento de Brasília. É lá que o termo “apagar das luzes” acaba de ganhar uma nova dimensão, pelas mãos do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello.

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Atos políticos tomados no fim do ano, no fim de um governo ou na calada da noite não são novidade. É nos últimos diários oficiais do ano que foram publicadas algumas pérolas que explicam o quanto o mundo político está descolado da vontade popular. Agora, o apagar das luzes se tornou uma arma do Judiciário, prova de que as práticas no Brasil vão demorar a mudar.

Lula vai sair da cadeia no seu tamanho real. Um político condenado por corrupção, fraco e sem autoridade. Não terá capacidade de liderar qualquer coisa além da ala petista que se recusa a admitir que organizou o maior esquema de corrupção já descoberto no país. Talvez gaste seus dias tuitando contra o presidente eleito Jair Bolsonaro, que bem vai gostar da prosa via redes sociais. No mais, o país está voltado para a frente e não quer saber mais de ouvir a tese da prisão política e das conspirações contra o homem do povo.

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Esse Brasil para onde a maior parte das pessoas olha não comporta mais a impunidade. Nem um modelo de Estado que cria desigualdades e castas como a do funcionalismo público, também beneficiado pelo apagar das luzes com a decisão de Ricardo Lewandowski que derrubou a MP que atrasaria o reajuste de servidores federais.

O choque entre expectativas da população e a prática política gerou muito atrito nos últimos anos e está ligado de modo fundamental à eleição de Jair Bolsonaro. O novo governo terá pouco tempo para provar que entendeu como o funcionamento de Brasília não é aceito pela maioria das pessoas.

A prisão após a condenação em segunda instância havia se tornado um mecanismo para a redução da impunidade. Sem ela, volta a valer a procrastinação do cumprimento das penas com base na infinidade de recursos permitidos na Justiça brasileira. Há quem argumente que é preciso antes mudar a causa da procrastinação, sem adiantar o cumprimento da pena. É um raciocínio válido, mas desconectado da realidade prática: como regra, os recursos não alteram a condenação.

Pelo segundo ano, o governo tentou atrasar o reajuste do funcionalismo. A ideia de direito adquirido se sobrepôs à situação do orçamento público com a decisão de Lewandowski. Para o contribuinte, resta esperar que isso não leve a mais impostos.