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Olhos honestos não negarão as más notícias semanais sobre o avanço da pandemia de Covid-19 no Brasil e sobre as “ajudas” que ele recebe de autoridades desastradas; mas tampouco se deixarão submergir por elas. Notícias do esforço de milhões de brasileiros no combate a essa praga e, particularmente, de gente em todo o mundo incansavelmente dedicada à pesquisa científica oferecem consolos igualmente semanais a quem quiser encontrá-los.

Foi como recebi as notícias sobre uma pesquisa muito relevante para o combate à pandemia (e a outras pragas, literais ou não), vindo não da epidemiologia, da infectologia ou da farmácia, mas de um campo aparentemente improvável: da computação científica e da pesquisa moderna sobre o fenômeno do “contágio social”.

No dia 20 de dezembro foi premiado, na BraSNAM 2020, um trabalho de Eric Araújo (professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Lavras, UFLA, e doutor pela Vrije Universiteit Amsterdam), Mariza Ferro e Gabrielli Dutra Silva (Laboratório Nacional de Computação Científica, LNCC), sobre como as relações entre as pessoas afetam a adesão ou recusa das medidas de prevenção, no contexto da pandemia. O estudo, intitulado “Desconectando para o bem: um modelo de rede orientada pelo contágio social de opiniões e intervenções em redes sociais para aumentar a adesão ao distanciamento social”, mostrou que “intervenções para fortalecer a prática de distanciamento social em 10% da população podem influenciar a taxa de adesão geral em até cerca de 700%”, como consta no site do LNCC.

O resultado é evidentemente importantíssimo, fornecendo parâmetros para a construção de políticas públicas e de comunicação governamental, por exemplo, para a gigantesca campanha de vacinação contra a Covid-19 que deve ocupar os próximos dois anos.

Nossos leitores se lembrarão de que Eric Araújo já contribuiu com artigos iluminadores sobre fake news e contágio social na internet. Ele é nosso convidado da semana para a coluna, explicando um pouco mais a contribuição de sua pesquisa nesse momento tão difícil para o mundo e para o país.

Eric, você estuda há bastante tempo o fenômeno do “contágio social”. Que diabos é isso?

Todos nós já ouvimos falar que somos a média das cinco pessoas com as quais passamos mais tempo juntos. Essa é uma das frases que nos ajudam a entender do que se trata o contágio social. Somos a média porque as pessoas com as quais passamos mais tempo são aqueles que mais nos influenciam. Também sabemos que todos nós temos uma necessidade de pertencimento, o que nos leva muitas vezes a ter atitudes que contradizem as nossas crenças, simplesmente pelo fato de existir uma pressão social que espera algo de nós. Dessa forma, um novo emprego pode torná-lo mais fisicamente ativo se os colegas costumarem correr juntos nas horas vagas, ou torná-lo mais beberrão, caso o happy hour seja sempre no bar.

O interessante do contágio social é que ele pode ser observado na formação de opiniões, sentimentos ou comportamentos. As opiniões podem ser políticas, sobre um produto, sobre uma religião, ou até mesmo sobre uma cor preferida. Os sentimentos já são os fenômenos de contágio social mais observáveis, pois ocorrem em uma escala de tempo menor. Uma pessoa começa a bocejar de sono, e de repente você está bocejando e se sentindo sonolento também. As mudanças de comportamento são mais difíceis de serem observadas. Nicholas Christakis e James Fowler conduziram um estudo amplo sobre como os amigos dos amigos dos amigos afetam tudo que sentimos, pensamos e fazemos (em seu livro Connected). Este estudo mostrou que até a obesidade é passível de ser compreendida por meio das influências de nossas relações mais próximas!

Assim, contágio social é o que ocorre de forma inconsciente com todos nós ao nos relacionarmos com outras pessoas diariamente. É o que afeta as nossas percepções do mundo, e nos faz aderir mais a essa tribo ou àquela outra. É o poder que as pessoas conectadas a nós têm de mudar nossas opiniões, sentimentos e comportamentos.

“Todos nós já ouvimos falar que somos a média das cinco pessoas com as quais passamos mais tempo juntos. Isso porque as pessoas com as quais passamos mais tempo são aqueles que mais nos influenciam.”

Eric Araújo

A pesquisa que você e as pesquisadoras do LNCC desenvolveram é um modelo teórico a respeito de como o contágio social acontece, aplicado especificamente ao cenário da pandemia, não é? Poderia explicar seu trabalho de forma simples para o leitor?

Há seis anos trabalho com um modelo de contágio social temporal e orientado às redes de relacionamentos. Este modelo leva em conta que existem três fatores preponderantes no espalhamento de comportamento entre as pessoas: 1. a abertura que uma pessoa tem pra receber as influências, 2. a expressividade de quem influencia, e 3. a força da conexão entre os indivíduos. Este modelo foi utilizado para estudar o espalhamento de comportamentos saudáveis em grupos de crianças, jovens adultos e adultos em três bases de dados diferentes, e mostrou-se promissor.

O trabalho mais recente considerou que o espalhamento de opiniões sobre manter ou não o distanciamento social também é um fenômeno que pode ser explicado pelo contágio social. Dessa forma, cada pessoa em nosso modelo tem as duas características, de abertura para mudanças e expressividade, além de uma rede criada para conectar essas pessoas, tal como é no mundo real. Essas conexões foram geradas com pesos diferentes, de acordo com o tipo de relacionamento entre as pessoas. Para isso, usamos um princípio chamado de homofilia, que basicamente afirma que pessoas que pensam igual têm conexões mais fortes. E pessoas que pensam diferente têm conexões mais frágeis.

Definimos também que as agências públicas de saúde (APS) podem influenciar a rede como um todo. Dessa forma, a atuação das APS pode favorecer o contágio positivo ou favorecer o contágio negativo das opiniões, caso promovam ou não campanhas informativas sobre os protocolos a serem adotados.

Então, para ficar simples, temos dois eventos acontecendo ao mesmo tempo: 1. o contágio social entre as pessoas conectadas, onde a influência é maior se a pessoa receptora tiver maior abertura, a pessoa emissora tiver maior expressividade e a força da conexão entre elas for maior; e 2. temos o agente exógeno, as APS, que atuam reforçando determinados fluxos de contágio.

O estudo mostrou que se pode, inclusive, intervir na rede de forma a melhorar positivamente o processo de contágio de opinião favorável ao distanciamento social. Uma seleção baseada em posicionamento na rede de 10% dos indivíduos aumentou significativamente a opinião geral, desconsiderando-se as APS. Foi também mostrado que um esforço por parte das APS permite que mais de 90% da rede tenha opiniões mais favoráveis ao protocolo, o que certamente teria resultados na redução do espalhamento do vírus.

Atualmente estamos incluindo as instituições religiosas no modelo, com uma rede sobreposta, para publicação de novo artigo estendendo o trabalho anterior. O novo modelo irá considerar o papel das subcomunidades no processo de difusão das informações.

“É urgente que governos e agências da sociedade civil busquem, por meio dos novos conhecimentos sobre o comportamento humano, impactar positivamente a sociedade e propor meios de cultivar hábitos coletivos que terão reflexos no médio e longo prazo.”

Eric Araújo

Vocês foram premiados por esse trabalho na BraSNAM 2020, e imagino que estejam bastante felizes com isso! Mas por que ele é tão importante?

Este é um trabalho multidisciplinar aplicado a um contexto extremamente atual e de impacto para o presente momento. Os resultados obtidos são de grande utilidade para quem quiser entender melhor esse fenômeno, e até mesmo para órgãos do governo que necessitem de ferramentas mais inteligentes para tomada de decisões.

A premiação foi muito celebrada porque também aponta para uma maior valorização do trabalho aplicado em uma área (Ciência da Computação) que valorizava muito mais trabalhos voltados para a própria computação.

Trata-se, então, de uma base científica para influenciar comportamentos com base na ciência do contágio social...

Sim. Primeiro, para entender como esses fenômenos ocorrem. Depois, para quantificá-los e gerar modelos que os expliquem. E, depois, para promover intervenções que possam potencializar opiniões, sentimentos e comportamentos.

As etapas são importantes, pois um modelo que não seja sólido pode gerar predições frágeis e facilmente refutáveis. Em nosso trabalho, boa parte do que se estudou não é tangível para coleta de dados. Coletar as opiniões das pessoas é uma tarefa grande e, se incluir a dimensão temporal, mais complexa ainda. Dessa forma, esses estudos têm sua base nos avanços mais recentes da neurociência social, combinados com o que a psicologia social já havia desenvolvido nas décadas anteriores.

Sabe-se, por exemplo, da existência dos neurônios espelho. Marco Iacoboni dedica um livro inteiro à tarefa de explicar como uma parte do nosso cérebro se encarrega de copiar o comportamento do outro, e como isso afeta várias áreas de nossa vida, incluindo a forma como estamos conectados. Seu livro Mirroring People: The Science of Empathy and How We Connect with Others é uma grande fonte de experimentos com pessoas reais que apontam para essa descoberta relevante para a compreensão de fenômenos dos mais variados.

Um exemplo bastante adequado do uso desse tipo de tecnologia poderia, por exemplo, ter evitado a invasão do Capitólio americano no dia 6 de janeiro. Por meio do reconhecimento facial e da modelagem da difusão de raiva na multidão, seria possível antecipar a escalada na agressividade da multidão e readequar o policiamento preventivo em pontos focais que reduzissem o dano causado.

“Os mesmos mecanismos que mantinham a rede coesa e protegida agora são usados para corrompê-la e gerar distúrbio.”

Eric Araújo

Imagino que você conheça as discussões de Richard Thaler e Cass Sunstein sobre economia comportamental, “nugdes” (empurrõezinhos) e “paternalismo libertário”. O que você pensa sobre isso? É legítimo que governos e agências da sociedade civil influenciem o comportamento social?

Eu já parto de uma perspectiva diferente. As empresas se utilizam dessas ferramentas o tempo todo para nos influenciar em nossos hábitos consumistas e em nossas alimentações, e os partidos políticos já vêm há tempos se aproveitando dos conhecimentos da neurociência para se promoverem e atingirem os eleitores que vão formar sua massa mais engajada.

Eu penso que é urgente que governos e agências da sociedade civil busquem, por meio dos novos conhecimentos sobre o comportamento humano, impactar positivamente a sociedade e propor meios de cultivar hábitos coletivos que terão reflexos no médio e longo prazo. Um exemplo é a própria obesidade. Estudar quem são os maiores influenciadores dentro da sociedade, estudar seu alcance e convencê-los a divulgar hábitos saudáveis pode gerar uma economia grande ao sistema de saúde e aquecer a economia por meio da redução de pessoas doentes ou incapacitadas por conta de seu estilo de vida.

Os debates éticos nesse tipo de ferramenta geralmente encontram muita resistência em países subdesenvolvidos, ou países onde há um forte descrédito na classe política, pois dá sérias margens a teorias da conspiração e até mesmo a usos indevidos e abusivos por parte dos governos. Para mim o dilema está em outra esfera: se deixamos nossas pegadas digitais com tanta facilidade nas mídias sociais, como Facebook e Twitter, empresas onde nós somos a prateleira de compras, os produtos a serem vendidos, devemos pelo menos considerar a possibilidade de que programas sérios e comprometidos em desenvolver um tecido social mais saudável também podem ser alvo de nossa confiança.

“Menos de dois anos atrás não havia questionamento, mas um consenso de que a vacina é importante e deve ser tomada, sem maiores argumentos, fruto de campanhas governamentais e do contágio social em espiral positivo.”

Eric Araújo

Pessoalmente estou do lado de Thaler e Sunstein, como já mencionei na minha coluna algumas vezes. Mas gostaria de saber sua opinião pessoal: discussões sobre como tornar tratamentos e vacinas obrigatórios ou mesmo compulsórios não estão na contramão da ciência comportamental?

A ciência comportamental está, em grande parte, mais interessada em entender os fenômenos que em tornar esse conhecimento uma arma para enfrentar determinados contextos. De qualquer modo, o conhecimento adquirido é de grande valia e não pode ser descartado quando se tem o bem comum da sociedade em voga. Talvez, a meu ver, o conhecimento produzido nesse campo de estudos pudesse amenizar conflitos desnecessários, polarizações sem sentido, e aliviar o estresse social gerado quando qualquer debate que envolva uma ação comunitária é levantado.

Não me recordo, no Brasil, de pesquisas para mensurar opiniões sobre as vacinas, por exemplo. Geralmente essas informações nos chegam por meio da imprensa, em momentos específicos onde esse tipo de informação é quente. Porém, há de se considerar que questões que envolvam a saúde mental da população e a predisposição das pessoas em colaborar para o bem comum, entre outros fatores e virtudes que podem ser analisados, devem ser alvo de estudos perenes e que se proponham a direcionar políticas públicas que considerem também o poder das redes e do contágio social.

Respondendo à pergunta, creio que há inúmeros meios de conscientizar a população a respeito da vacina. Menos de dois anos atrás não havia questionamento, mas um consenso de que a vacina é importante e deve ser tomada, sem maiores argumentos. Fruto de campanhas governamentais e do contágio social em espiral positivo, em que a prevalência de opiniões favoráveis gerava uma “pressão” social que reverberava no ato da pessoa de ir e se vacinar. O que se observa hoje é um movimento que cresceu e aprendeu a se utilizar das novas tecnologias para doutrinar novas pessoas ao alinhar pautas totalmente desconectadas a um rótulo específico. Os mesmos mecanismos que mantinham a rede coesa e protegida agora são usados para corrompê-la e gerar distúrbio.

Onde entra a ciência comportamental nisso? Há de se observar esses movimentos mais de perto, e há de se promover estudos e intervenções governamentais intencionando manter hábitos bons, e reduzir ou desmotivar hábitos ruins. No caso da vacina no contexto atual, o que se percebe é uma indisposição do governo de chancelar o seu uso sob o pretexto de que a vacina não é segura. É um motivo legítimo (proteger a população) usado de forma errada, que reforça teorias da conspiração e traz de volta velhos fantasmas que já tinham sido exorcizados havia décadas. Ou seja, reforçam-se hábitos ruins, e corrompe-se a rede ao “infectar” os hábitos de um número considerável e difícil de ser mensurado de cidadãos.

“Convencer a população é mais efetivo do que impor. E existem formas de fazer isso.”

Eric Araújo

Mas você não me respondeu se na sua opinião é legítimo ou não tornar a vacina obrigatória...

Bem (risos)... a vacina, a meu ver, é o único caminho fora da pandemia, e naturalmente qualquer líder político que se preocupe com seu país (incluindo a economia) deveria se mover para que a população se imunize o quanto antes, e isso inclui, sim, a obrigatoriedade. Da perspectiva da ciência comportamental, o problema de qualquer ato compulsório, seja a vacina ou a obrigação dos médicos de usar o “kit Covid” de forma preventiva, é que pode causar uma maior repulsa por parte dos que se opõem a um ou ao outro. Dessa forma, convencer a população é mais efetivo do que impor. E existem formas de fazer isso. Infelizmente, o posicionamento por parte do servidor público que rege o país causa mais polarização em torno de uma discussão que não deveria nem sequer existir. E romper com essa “dissonância cognitiva” é um trabalho hercúleo, principalmente quando o agente exógeno joga contra o próprio time.

E como isso poderia ser empregado de forma eficiente para aumentar a adesão à vacinação? Vocês já pensaram em medidas práticas? Existe algo que indivíduos, igrejas e organizações da sociedade civil poderiam fazer a respeito?

Uma das ações que o governo poderia tomar, por exemplo, é fazer o mapeamento das pessoas que são antivacinas nas mídias sociais, e tê-las como alvo de campanhas que busquem reforçar a segurança das vacinas a serem aprovadas pela Anvisa e os processos pelos quais toda vacina tem de seguir até chegar ao cidadão.

Envolver organizações maiores também, e encorajá-las a divulgar materiais e se engajar em campanhas, ajudaria de forma significativa o processo de convencimento da população, reduzindo o ruído e os atritos do debate público via lives na internet e noticiários. As organizações representam subredes superconectadas e que também podem impactar a rede como um todo de forma significativa.

O mínimo que se espera é que campanhas do Ministério da Saúde sejam promovidas para toda a população, mas estas perderam muito poder durante o ano de 2020, uma vez que as campanhas do próprio governo são constantemente seguidas de falas dessincronizadas e que mais confundem que ajudam. No caso da vacina, é fato que há um esforço do presidente em fazer com que a vacina não seja obrigatória, atrelada a um discurso de que ele não irá se vacinar, seguido de um sigilo de 100 anos de seu cartão de vacinação, após inúmeras dúvidas lançadas sobre a única vacina que teremos à disposição de imediato, a Coronavac. Não entramos no consórcio de vacinas e não negociamos previamente. Uma campanha, neste ponto histórico em que estamos, certamente causará muito menos impacto, comprometendo o papel do espalhamento nas subredes mais necessárias: onde estão aqueles que não se sentem seguros com a vacina.

“Delegar ou criar esperanças em cima de empresas que lucram com cliques e interações entre seus usuários soa muito romântico para mim.”

Eric Araújo

Agora, uma questão mais especulativa: nessa semana um famoso divulgador científico sugeriu que discursos antivacina deveriam ser censurados de forma “autoritária”, em suas palavras (ele logo se retratou delas). Mas seria possível empregar o contágio social para desencorajar tais discursos? Ou o mais apropriado seria apenas dar visibilidade ao discurso melhor? Trata-se de uma questão em parte técnica e em parte ética...

Sim, ambas! Do ponto de vista técnico, é possível atuar nas duas frentes sem maiores problemas. Do ponto de vista ético, voltamos ao problema da credibilidade no governo e na visão messiânica que muitos começaram a criar recentemente nas empresas de mídias sociais, onde as Big Techs tomam o papel de exorcistas e começam a expulsar inimigos políticos da rede.

Falando do governo: Facebook, Twitter, Instagram são empresas que se sustentam por meio de propaganda. A responsabilidade das plataformas no fenômeno de divulgação de informações falsas e danosas não pode ser trocada pela importância de agências públicas aprenderem a usar as plataformas de forma a promover as políticas corretas e que promovam o bem-estar comunitário. Se conseguiram usar para ganhar as eleições, motivo do qual muito se orgulham, também deveriam usar para promover as políticas públicas adequadas ao momento (uso de máscaras, álcool em gel, apontamento sobre a seriedade da doença) e ações concretas, objetivas e claras sobre o que realmente está ocorrendo.

Do lado das plataformas de mídias sociais, há uma pressão enorme por boa parte dos usuários para que esse tipo de discurso seja silenciado. Vide o que ocorreu com as mídias de Donald Trump, recentemente. Porém, delegar ou criar esperanças em cima de empresas que lucram com cliques e interações entre seus usuários soa muito romântico para mim. Essas empresas certamente têm os meios técnicos para tal. Mas usar esses meios as deixará no escuro sobre o futuro. Talvez eu seja muito romântico também ao acreditar que o governo consiga usar as mídias de forma eficiente e que favoreça a sociedade, sem maus usos, mas me parece que essa atribuição está mais nas mãos de quem deveria cuidar das pessoas que de quem se preocupa com o lucro no fim do mês.

“Se os atuais governantes conseguiram usar as mídias sociais para ganhar as eleições, motivo do qual muito se orgulham, também deveriam usá-las para promover as políticas públicas adequadas ao momento e ações concretas, objetivas e claras sobre o que realmente está ocorrendo.”

Eric Araújo

E como andam as perspectivas da pesquisa sobre contágio social no Brasil? Já se pode dizer que é um campo em expansão?

O que se vê no Brasil hoje é um crescimento muito grande nas pesquisas voltadas para análise de mídias sociais, trabalho com grande impacto e que vem mudando a dinâmica até mesmo da interação da computação com outras áreas, como o jornalismo e as ciências sociais.

Eu vejo o campo do contágio social, multidisciplinar, como um campo ainda iniciante, que demanda desprendimento de área e imersão em assuntos que não são tão afins à formação tradicional dada nas universidades brasileiras. Felizmente, começamos já amparados por trabalhos de décadas, que estudam a sociedade e suas interações dentro de vários contextos. Cabe à geração mais nova fazer a ligação entre os conhecimentos sólidos dos vários campos e a sua readequação aos estudos voltados para a ciência de dados, a modelagem computacional e as novas tecnologias ubíquas. Se bem usado, esse campo tem muito a oferecer à sociedade.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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