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Se as eleições fossem hoje, Lula venceria no primeiro turno com 171% dos votos do DataFilho do Brasil e do Instituto Lula de Pesquisas Confiáveis – devidamente auditados pelo IPC (Institutos de Porta de Cadeia). O resto do Brasil não vota, porque está preso do lado de fora da cela.

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Este é o quadro da sucessão presidencial de 2018: os brasileiros resolveram substituir a eleição por um meme, uma pegadinha. Chega de monotonia.

Um desses especialistas de plantão que explicam cientificamente qualquer rebolado estatístico diagnosticaria na bucha: o Brasil cansou de eleição. É eleição demais, uma atrás da outra, ninguém aguenta. Este ano resolveu quebrar o tédio e mandar às favas o repetitivo ritual de candidaturas e votos, substituindo-o por um empolgante BBB carcerário.

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O coquetel que está melando a disputa e embaçando o quadro sucessório no país é simples: você passa mais de ano empurrando para segundo plano o dado de que a maioria da população não sabe em quem votar, e transforma com jeitinho o político mais lembrado do país em favorito das galáxias.

Depois bota o Chico Buarque para visitá-lo no xadrez e declarar seu voto imaginário no sujeito que tem 12 anos de sol quadrado pela frente.

O Brasil acredita. A imprensa amiga se excita. Os progressistas de aluguel se eriçam. O mercado histérico compra. E o dólar realiza o fetiche dos 4 reais.

Chega de realidade, vamos nos render à fantasia. Fake is beautiful.

Se o candidato mais vigiado do Brasil é o protagonista do BBB eleitoral, ele deixa de ser um criminoso confinado para se tornar um líder da disputa. Isso abre uma oportunidade valiosa para o surgimento de oponentes cenográficos – como se o tal “líder” já não estivesse derrotado pela lei e pelas instituições que enxotaram sua militância da máquina pública.

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Não. É preciso inventar candidatos novinhos em folha, que não têm nada com isso tudo que aí está (estavam esse tempo todo resolvendo os problemas administrativos de Marte), têm horror à política e vão derrotar o derrotado a golpes de poesia em rede social.

Este é o quadro sucessório às vésperas da eleição 2018.

O Brasil costuma acordar para decidir seu voto umas duas semanas antes de se encontrar com a urna. Este ano talvez seja ainda mais emocionante, com o despertar se dando umas 48 horas antes, oferecendo ao dólar a oportunidade de belos saltos ornamentais e deixando o respeitável público de respiração presa ante o apocalipse imaginário.

E existe até a chance de não acordar nunca, consumando a profecia autorrealizável: se é tão fácil lavar dinheiro e reputações, não custa nada legalizar o falso dilema entre a assombração do Lula e a assombração do anti-Lula. Aí o país das alegorias e adereços terá chegado à perfeição.

Não estamos aqui para estragar a brincadeira, muito menos para impor seriedade a um carnaval tão pitoresco. Essa é a época em que o brasileiro tradicionalmente se esquece dos erros grosseiros das pesquisas às vésperas de todas as eleições passadas – e equilibrar a vida e o futuro sobre percentuais voadores é uma espécie de religião nacional.

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Não vamos profanar essa crença.

Vamos só lembrar que o carnaval custa caro. Cada dia a mais de folia corresponde a meses de limpeza e reconstrução do patrimônio público depredado pelos foliões bêbados de civismo pirata. E a conta não tem status de numerologia eleitoral. Ela chega – certinha, com todos os zeros.

Dizem que Zé Dirceu estava disfarçado na passeata do MST rumo ao STF pela libertação de Lula. Não se sabe se estava mesmo. A única certeza é que o STF estava disfarçado de corte suprema, enquanto garantia em mais uma decisão histórica a liberdade do companheiro Dirceu – condenado em segunda instância a 30 anos de prisão na operação Lava Jato.

O recurso pendente de Dirceu, que fundamentou a decisão de salvá-lo da prisão, é um questionamento sobre o valor que ele deve restituir aos cofres públicos.

Enquanto não devolve o dinheiro roubado, o criminoso merece ficar livre para gastá-lo como bem entender – inclusive patrocinar a micareta Lula Livre e a bagunça do processo eleitoral brasileiro.

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A ONU disse que está tudo bem, e a Carminha mandou não deixar o samba morrer.

Sendo assim, prezado eleitor, divirta-se. Afinal, o dinheiro é seu.