Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

"Deus deixou o sertão sem água"

Lula interpreta a vontade divina 

"Deus deixou o sertão sem água porque sabia que eu ia ser presidente da República", disse Lula durante a cerimônia de entrega do 1º Trecho do Ramal do Apodi, próximo a Cachoeira dos Índios (PB). (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Ouça este conteúdo

Lula disse que Deus deixou o sertão sem água porque sabia que ele iria trazer. Pelo visto, são informações exclusivas que o presidente vai revelando aos poucos. Alguma hora ele dá mais detalhes sobre a vontade divina. Vontade e paciência, considerando-se que já são cinco mandatos do PT no Planalto e mais de 20 anos desde a sua chegada, para resolver o problema.

Não dá para dizer que se trata de um encantador de pessoas simples e com menor nível de instrução. Parcela expressiva das pessoas mais instruídas do país fez o L em 2022. Não só fez o L, como pregou o voto em Lula como a única garantia de evolução contra o obscurantismo. Só faltou dizerem que Deus deixou o Brasil sem democracia porque sabia que Lula iria trazê-la.

De fato, só uma explicação mística daria conta da presença de Fernando Haddad no cargo de ministro da Fazenda, com boa parte do PIB nacional fingindo que aquilo era normalíssimo. 

Após dois anos e meio de sortilégios em matéria de expansão fiscal e elevação tributária, os fiéis dessa elite altamente letrada devem estar à espera do milagre

Enquanto isso, o salvador da pátria dá mais uma garfada via IOF para tapar o buraco e providenciar mais um qualquer para gastar, que ninguém é de ferro.

E segue o baile com essa burguesia endinheirada pagando caro por ingresso de artista com patrocínio milionário dos Correios, que por sua vez amargam um déficit bilionário - com iminência de colapso de serviços e até suspensão de atendimento hospitalar. Mas essa elite vai ao show e ainda consegue se emocionar com canções que falam sobre liberdade do povo contra a opressão. Olhos fechados e alma cheirando a talco.

Em nome do combate ao fantasma da ditadura - que, como todo fantasma, só vê quem quer - mandaram às favas os escrúpulos de consciência. Passaram uma borracha no passado recente, na política econômica responsável, nas tenebrosas transações expostas pela Lava Jato. Lado a lado com o revanchismo e a perseguição, se emocionam com a canção “Cálice”. Contando, ninguém acredita. 

Haddad disse que Lula traz estabilidade emocional ao Brasil. De fato, é tranquilizadora a escolha de um ministro da Fazenda que, além de tocar violão para a imprensa amiga, ainda faz análises psicológicas. Todo mundo calmo. Se desse então para distribuir aquele chapeuzinho presidencial por toda a população, aí o país alcançaria a paz absoluta (até com algum risco de descambar para o tédio).

Parabéns a todos os fiadores desse conto-de-fadas. Assim como os céus deixaram uns sem água, a terra deixou outros sem vergonha.

VEJA TAMBÉM:

Conteúdo editado por: Aline Menezes

Use este espaço apenas para a comunicação de erros