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Em meio a sua micareta fúnebre pela Grã-Bretanha, Jair Bolsonaro tirou tempo para conceder uma entrevista ao SBT. Nela, deixou claro que só aceita um resultado nas eleições: sua vitória. Segundo o presidente, o clima no país “tá bastante dividido”, mas “mais favorável a mim”. Disse que se “não tiver menos de 60% dos votos, algo de anormal aconteceu no TSE”. Que anormalidade seria essa? Não explicou, nem lhe foi perguntado sobre. “Tendo em vista, obviamente, o DataPovo”, se limitou a justificar.

Pesquisas podem errar, e, caso ocorra nessa eleição, será algo em bloco como jamais visto. Isso porque todas elas indicam que é Lula quem está na dianteira. Com diferenças percentuais maiores ou menores, elas apontam para um mesmo cenário de relativa estabilidade. Em algum momento até se especulou que Bolsonaro poderia “fechar a boca do jacaré” invertendo as posições e tomando o 1º lugar de seu concorrente direto, mas até aqui isso não se concretizou.

Contestar pesquisas faz parte do jogo político de quem está atrás. Bolsonaro não seria o primeiro a fazê-lo. Mas é inédita sua disposição em questionar o resultado da votação e a lisura do processo.

No Datafolha da última sexta (17), aliás, o candidato petista voltou a crescer, aumentando sua distância para o atual presidente. Petistas sonham com uma vitória improvável já no dia 2 de outubro. Ao mesmo tempo, o núcleo duro do governo tenta conter a desanimação. Ciro Nogueira tem se notabilizado por postar mensagens enigmáticas dando a entender que números internos mostrariam uma situação inversa, ainda que nunca os divulgue.

Desde o 7 de Setembro, Bolsonaro e sua militância têm apostado na contraposição da presença maciça de apoiadores nas ruas com as muitas pesquisas de opinião em que aparece em segundo lugar. Escrevi aqui na Gazeta do Povo que a narrativa desse suposto contraste seria construída em cima das milhares de imagens e vídeos produzidos em seus atos, mesmo que essa inegável capacidade de mobilização não se traduza, necessariamente, em favoritismo. No passado, era Lula em que controlava as multidões, mas foi Fernando Henrique Cardoso, universalmente impopular e incapaz de juntar vinte pessoas numa esquina, que o venceu duas vezes no primeiro turno.

Os conspiracionistas do Planalto semearam a teoria de que centenas de institutos de pesquisa estariam atuando mancomunados com o Tribunal Superior Eleitoral e a mídia para inventar votos para a esquerda e entregar o Brasil ao lulopetismo. É só disso que se fala em Ratanabá. E foi exatamente para estimular seu séquito de crentes ideológicos, temerosos da suposta fraude nas urnas, que Bolsonaro voltou a especular maliciosamente sobre a credibilidade do sistema de apuração.

Contestar pesquisas faz parte do jogo político de quem está atrás. Bolsonaro não seria o primeiro a fazê-lo. Mas é inédita sua disposição em questionar o resultado da votação e a lisura do processo. Cada vez que toca no assunto, ele renova a ameaça, que já não é mais nada sutil. Se o chantagista vencer, leva. Se perder, tentará promover a bagunça generalizada, mesmo que emporcalhando a democracia brasileira no exterior.

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