A nova manifestação bolsonarista ocorrida no último domingo não poderia ter sido mais contraproducente para a oposição. Foi anticlimática numa semana em que o governo Lula foi parar no corner do Congresso Nacional. As estimativas variam entre 12 e 24 mil pessoas presentes. Sob o lema de “Justiça Já”, o ex-presidente reuniu apoiadores e aliados políticos para renovar sua cantilena personalista pela anistia – tema que não tem o menor apelo popular. Segundo o Instituto Datafolha, 56% da população é contra a medida. A insistência de Bolsonaro com a pauta cumpre o objetivo de se manter em evidência, ainda que esteja em plena desidratação. Hoje, o nome mais importante da oposição é, curiosamente, Hugo Motta, que mostrou para a turma de verde-amarelo na Avenida Paulista como se faz para emparedar o governo na prática.
Em uma ação política que pegou Lula, Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann e outros petistas de calças curtas, Hugo Motta pautou de surpresa a votação do projeto de decreto legislativo para derrubar o decreto do IOF. A sinalização da Câmara, quando da votação da urgência, era de que o placar seria largo. No mérito, acabaram sendo 383 a 98, com votos do Centrão e até de partidos de esquerda.
Hugo Motta – e, em segundo plano, o próprio Davi Alcolumbre – sabem que o governo está no seu pior momento, enquanto o bolsonarismo se esvai nas ruas, preso a um monotema em causa própria
É possível dizer que, hoje, o governo Lula não tem o que se pode chamar de base. Ela desmoronou em meio à discussão. Motta obrigou Lula ao tudo ou nada com o Congresso Nacional. A ação da Advocacia-Geral da União no Supremo Tribunal Federal contra o PDL será percebida como um ato de guerra. Ainda que o governo tenha o direito de peticionar, a percepção política dos parlamentares será a de que o Executivo buscará socorro no Judiciário para rever uma decisão tomada pela ampla maioria de seus integrantes.
Em um jantar na casa de João Doria, ex-governador de São Paulo, Hugo Motta enfatizou a posição do Congresso, classificando a votação como “um retrato de um parlamento muito aguerrido, pronto para fazer um enfrentamento a favor do país”. Nas redes sociais, ele publicou um vídeo afirmando que “quem alimenta o nós contra eles acaba governando contra todos” e que “a polarização política tem cansado muita gente e, agora, querem criar a polarização social”.
Em sua postagem, Hugo Motta antecipa uma resposta à linha que o governo sinaliza que adotará na confrontação com o Congresso. A narrativa seria a de que o Executivo quer fazer justiça tributária, e que o Legislativo só deseja manter iniquidades e proteger poderosos. É uma falsificação.
Lula e os petistas querem usar a arrecadação para financiar seu projeto de reeleição; já o Congresso, controlado pelo Centrão, quer inviabilizar o que resta da agenda governista e pautar apenas aquilo que interessa aos seus propósitos em 2026. Hugo Motta – e, em segundo plano, o próprio Davi Alcolumbre – sabem que o governo está no seu pior momento, enquanto o bolsonarismo se esvai nas ruas, preso a um monotema em causa própria. O que se tem é a antecipação de uma confrontação eleitoral, da qual eles, em especial Motta, identificaram uma janela de oportunidade para protagonizar.
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