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Batoré quer dar um golpe de Estado. “Nós temos a consciência de que militar não faltava só na cadeira do presidente, falta no STF, na Câmara dos Deputados e no Senado”, disse em vídeo. O humorista se juntou ao cantor Sérgio Reis contra as instituições democráticas. Fossem tão somente esses dois personagens do terceiro escalão cultural do país a defender esse tipo de ação, a coisa toda poderia ser tomada apenas como um desfile anticívico de aberrações. Mas é mais perigoso do que parece, uma vez que eles vocalizam um anseio que não se restringe apenas a picadeiros e rodas de viola. Esse tipo de agitação vai se tornando comum também nas casernas e em alguns círculos militares.

Responsável por comandar milhares de homens em sete batalhões da Polícia Militar que compreendem uma área com 78 municípios no Estado de São Paulo, o coronel Aleksander Lacerda usou suas redes sociais para atacar o governador de seu Estado e convocar para atos bolsonaristas que vão se realizar no dia 7 de setembro. Foi imediatamente afastado de suas funções por violar o regulamento de sua corporação, que veda oficiais da ativa de “manifestações coletivas sobre atos de superiores, de caráter reivindicatório e de cunho político-partidário”.

Ato contínuo, outros nomes ligados à polícia também divulgaram manifestações. O coronel da reserva Homero de Giorge Cerqueira falou usando sua patente como chamariz: “Como coronel da Polícia Militar do Estado de São Paulo, eu convoco veteranos a participarem”, afirmou. Além dele, o também coronel da reserva Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, que foi nomeado por Jair Bolsonaro como diretor-presidente da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Araújo, que foi comandante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) usava uma camiseta com nome da corporação e se dirigia aos seus colegas da ativa: “Nós temos, no dia 7 de setembro, ajudar o nosso presidente Bolsonaro. A Polícia Militar do Estado de São Paulo participou dos principais movimentos do nosso país. Já lutamos em Canudos, as revoluções de 32, 64. Sempre estivemos presente”.

É impossível analisar esse conjunto de manifestações sem considerar o precedente criado pelo Exército ao não punir Eduardo Pazuello, que participou de um ato eleitoreiro junto ao presidente da República ainda em maio. Ao se omitir, sem nem mesmo dar uma advertência ao general, a instituição abriu margem para que outros agentes, em maior ou menor escala, se sentissem encorajados a assumir o mesmo tipo de postura.

Há uma crescente contaminação política dos quarteis pelo bolsonarismo, que atua como um patógeno ideológico. Militares de alta patente da ativa e da reserva fazem descarado e desassombrado proselitismo junto às tropas. É grave. A politização das Forças Armadas e das Policias abre caminho para a insurgência e para a insubordinação, colocando em risco a hierarquia e a saúde da ordem democrática, que deve ser conduzida pelos civis.

Em entrevista para o Roda Viva, João Doria apontou o risco de o Congresso Nacional e o STF serem invadidos nas manifestações no dia da independência. “É preciso ter cuidado: as milícias bolsonaristas estão agindo com força redobrada com vistas às manifestações em 7 de setembro”, disse. Ainda que atos violentos sejam improváveis, até porque contraproducentes ao intento de seus próceres, o fato é que a depredação mais profunda e permanente já está em curso: a transformação das instituições militares em um quadro do Batoré.

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