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O doutor Marcelo Queiroga já disse a que veio: vai ser um Eduardo Pazuello de jaleco. Na prática, a mudança na titularidade do Ministério da Saúde não significa nada. E quem deixou isso claro foi o seu novo ocupante. “O ministro executa a política de governo”, disse. É sua própria versão da frase “um manda, outro obedece”, do Pazuello original.

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As palavras tem significado. Queiroga deixa claro que tudo ficará como se encontra. Depreende-se disso que o sentido de sua nomeação, portanto, é apenas o de tentar emprestar o prestígio de seu currículo para a desastrosa política sanitária em curso. Antes conduzida por um milico da ativa, agora ela estaria respaldada por um técnico. Não passa de um truque.

O Pazuello fardado legou ao sucessor mais de 280 mil vítimas e a desmoralização completa da palavra logística, que deverá ganhar novos significados menos nobilitantes nos próximos dicionários. Sua passagem pela Saúde o marcará como o pior ministro da história na área. Sob sua condução, devidamente orientada pelo presidente da República, houve a completa desarticulação no combate à pandemia. O governo abriu mão de qualquer responsabilidade, operacionalizando uma guerra não contra o vírus, mas contra prefeitos e governadores, tratados como conspiracionistas e inimigos da economia.

Desde março de 2020, o Brasil foi sendo paulatinamente transformado num verdadeiro covidário. Um playground para cepas e variantes agressivas que hoje colocam em risco não apenas os brasileiros, mas o resto do mundo. A construção desse cenário distópico foi sedimentada na base do negacionismo, que institucionalizado como política pública, impediu uma campanha nacional de uso de máscaras, fez com a testagem em massa e o monitoramento de casos nunca se realizassem na proporção necessária, desenganou com a promoção do farsesco tratamento precoce e atrasou o início da necessária vacinação, que poderia ter começado ainda no fim de 2020.

Marcelo Queiroga e o general

Uma das primeiras atitudes de Queiroga foi convidar Pazuello a permanecer no Ministério da Saúde. Gostaria que o general ficasse responsável por tocar a área administrativa da pasta. Afinal, como dispensar os serviços de quem deixou vencer milhões de testes PCR e conseguiu enviar 76 mil doses de vacinas que seriam do Amazonas para o Amapá?

Nas últimas semanas a média móvel de mortes e infectados bateu recordes atrás de recordes. Não há nada no horizonte imediato que indique uma mudança de tendência. Para isso seria necessário a admissão de responsabilidade pelo presidente e a  concessão de autonomia para que o novo ministro pudesse fazer mudanças profundas na linha de ação do governo.

Ao invés de impor condições para assumir o cargo, Queiroga dá mostras de que sua espinha dorsal é tão flexível quanto a de Paulo Guedes. Nem sentou na cadeira de Ministro e já flexibilizou algumas posições para se adaptar ao ambiente que escolheu frequentar. Se antes era crítico dos medicamentos off label, agora já até fala cloroquinices. Vamos ver quanto tempo leva até cantar as glórias do spray milagroso israelense.

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