Jair Bolsonaro por Romero Britto (divulgação)| Foto:
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Esbravejem mil homens à minha esquerda, resmunguem dez mil à minha direita, mas sinto que é preciso reafirmar, com ainda mais clareza, o que até os ladrilhos sabem: Jair Bolsonaro não admite o valor da democracia. Sem adversativas atenuantes.

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Democracia tem sabor de inconveniência pequeno-burguesa que esconde, e por vezes asfixia, a vontade geral do povo. E a vontade geral do povo é traduzida e exercida pelo líder supremo. Não acreditem em mim, acreditem nele, que deu volta-ao-mundo em declarações sobre o assunto.

Nos quesitos evolução e alegoria, o presidente sem partido nem juízo se inspira no espírito golpista da velha esquerda. Não por acaso, teceu loas a Hugo Chávez em 1999, “uma esperança para a América Latina”, quando o venezuelano assumiu o poder para destruir a alternância de poder.

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Não bastasse a convocação de novas manifestações a seu favor e contra o Congresso, o Messias vem a público reciclar a tese de que o pleito eleitoral que venceu terá sido fraudado.  Jura que tem provas e as apresentará brevemente, em local incerto e não sabido, a depender da numerologia de Paulo Guedes.

Pois é assim que se dão os golpes políticos. No caso, o esboço de um autogolpe, familiar desde os tempos de Vargas. O truque é duvidar das eleições passadas para não aceitar derrota nas eleições futuras. Ou isso, ou o manjado diversionismo, que de tão praticado merece até ministério.

Os fundamentos jurídicos para o impeachment estão na mesa. Ocorre que a mesa do impeachment é produto de trabalhosa carpintaria que vai muito além – embora finque raízes muito aquém – dos pressupostos do direito público. Há política, há economia, há senso de oportunidade, há conjuntura, há pressão popular, há o diabo.

Tudo o mais constante, não faz sentido brincar de normalidade institucional quando o presidente eleito – soletro: e-l-e-i-t-o – coloca em xeque sua própria eleição, e nem vagamente desconfia do significado da palavra... normalidade.

Pelo jeito, sua vitória só será plena ou corresponderá à verdade dos fatos quando porventura atingir, em primeiro turno, aproximadamente 98% dos votos. Mais ou menos como acontece em democracias vibrantes como as de Cuba, da Venezuela, da Coreia do Norte, da China e da Rússia.

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Ele é bom aluno e sabe em quem se inspirar.