Marcelo Andrade/Arquivo Gazeta do Povo| Foto:

A popularidade de Jair Bolsonaro ganhou volume nos respeitáveis Superpop e CQC, para depois conquistar alguma credibilidade com o encontro – e o amor, estranho amor – entre o deputado e o economista Paulo Guedes. Um desconhecia o outro que ignorava o um, mas o político precisava de alguém que lhe emprestasse respeitabilidade, e o economista carecia de alguém que lhe desse poder.

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Fiat lux.

No despedaçado cenário do já de costume esculhambado cenário da política nacional, ainda mais depois de tantos protestos, impeachment, prisões, pressões e delações, e com Sérgio Moro nos calcanhares de Lula, Bolsonaro e sua campanha souberam colonizar o vácuo ideológico que ninguém soube ou teve coragem de ocupar.

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Esse mérito ele teve, mesmo que do vácuo ideológico só tivesse o vácuo.

Durante a corrida eleitoral, quadros respeitáveis da imprensa acreditaram que desidratariam a candidatura se jogassem Bolsonaro contra a parede de seus próprios preconceitos e de suas controversas declarações sobre ditadura militar, homossexualidade, feminismo, democracia. Enganaram-se.

Ao fazer isso, sem perceber davam a ele o que ele queria, que era a oportunidade para ser incisivo no único terreno em que sabia jogar: a bravata politicamente incorreta, a frase de efeito, o jargão fácil, o sentido espartano da ética, o bem contra o mal.

Se lhe tivessem perguntado, a sério e com frequência, o que ele entendia ou deixava de entender por reformas previdenciária, tributária e política, como faria a abertura econômica e conduziria as privatizações, o que pensava sobre a relação entre Estado e empresas, e sobre os limites estatais etc, talvez tivesse derretido sob o sol a pino de sua clamorosa ignorância.

Dessa falta de imaginação no debate, desse impulso suicida que levou muitos jornalistas, candidatos adversários e figuras do mercado a confrontar o Messias no que ele tinha de mais genuíno – e, a seu modo, popular –, restou hoje um presidente que confessa, dia após dia, por pensamentos, atos, palavras e omissões, não ter ideia nenhuma na cabeça além daquelas piadas engraçadinhas que lhe renderam tantos milhões de votos.

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Aos poucos, essa miraculosa entidade – o mercado – vai descobrindo que apostou em Bolsonaro como se apostasse em ações de perigosa volatilidade, e talvez tenha apostado mal. Havia opções mais experientes ou interessantes, porém ignoradas em favor do canto de sereia do Chicago boy.

Se, portanto, esse governo que mal começou vier a terminar antes do tempo, parte considerável da responsabilidade será também desses entes e agentes econômicos que tratam o futuro do país como mercado futuro, e não mais do que isso.

Olavo de Carvalho há poucos dias sentenciou que “se o governo continuar como está, acaba em seis meses”. Concordo com ele, embora faça uma ressalva: Olavo tem razão, mas não exatamente as razões que imagina ter.