Greta Thunberg (Foto FABRICE COFFRINI/ AFP)| Foto: AFP

Greta Thunberg evita aviões porque sujam a atmosfera; eu evito aviões porque tenho medo de que caiam. O que há em comum entre nós? Ambos evitamos aviões por motivos perfeitamente irracionais.

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A jovem sueca é outra versão do heroísmo que oferece mais boas intenções que boas soluções, desde quando o ambiente se transformou numa causa que é quase uma religião. Antes de continuar, antecipo as premissas dais quais parte meu raciocínio.

Em primeiro lugar, a destruição ambiental é um dado objetivo (aquecimento global incluso).

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Em segundo lugar, a ação humana é um dos fatores preponderantes dessa destruição.

Dito isso, fica evidente que, em grande parte, aceito o diagnóstico: o planeta não vai bem. Porém, não aceito de todo o prognóstico dos catastrofistas: se medidas não forem tomadas a despeito de qualquer sacrifício, o apocalipse chegará em dez ou vinte anos. Por fim, rejeito o tratamento recomendado pelos radicais em geral, e pelos antinatalistas em particular: proibamos aviões, pecuária, crescimento industrial e, por que não?, o nascimento de seres humanos.

Que eu saiba Greta não é antinatalista, mas não me surpreenderia se fosse. E quem são os antinatalistas? São uma gente que, depois de ter nascido e ponderado bastante sobre o deplorável estado do mundo, acredita que gente nenhuma deveria ter a chance de nascer e ponderar sobre o deplorável estado do mundo. Ora, se o mundo está doente, e se a doença é o ser humano, eliminemos o ser humano. O mundo ficará melhor sem nós. Alguém discorda duma conclusão tão óbvia?

Eu discordo. Há muito de niilismo e cansaço nesse movimento que trata a espécie humana como praga a ser eliminada. Niilismo, cansaço e uma contradição insanável, que consiste no seguinte: devemos preservar o mundo às gerações futuras que, a depender de nós, nem mesmo virão ao mundo. Preservemos o mundo para ninguém. Se o problema é a ação humana, evitemos os humanos. Só um pormenor interessante.

Que o mundo fique melhor ou pior, seja preservado ou destruído, mereça cuidado ou negligência – tudo isso são valores e projeções culturais. Não são dados da natureza. Por mais bela que seja uma floresta, por mais majestosa que seja a fauna, por mais impressionantes que sejam as montanhas e os mares, não está inscrito na natureza que ela deveria ser preservada. Que é bela, que é sagrada, que merece hóspedes mais educados.

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Quando um fortuito asteroide atingiu o planeta e levou com ele os simpáticos dinossauros, dinossauro nenhum reclamou. Quando houve a era glacial, ou quando a terra esteve mais quente que Bangu, ninguém estava lá para reclamar das temperaturas. Se amanhã outro asteroide porventura entrar em rota de colisão conosco, e se nossa tecnologia não puder nos salvar dessa vez, tudo acabará com ou sem choro de ambientalista.

Eu acredito, sim, que a intervenção humana precisa ser mais educada e adequada. Nenhuma ironia ou condescendência. Já temos meios de explorar o ambiente, viver nele, sem destruí-lo tanto ou usá-lo de maneira tão predatória. Usemos a razão, para isso que ela serve. O que não podemos é aceitar o argumento de que o mundo ficaria melhor sem nós, porque sem nós, quem exatamente diria: “E não é que agora o mundo está melhor?!”

Portanto, quem se preocupe a sério com o meio ambiente deveria se ocupar da única atividade humana que pode resolver esse problema: ciência, ciência, ciência. Em lugar duma mistura de malthusianismo passadista e ludismo mal disfarçado, precisamos de pesquisa, tecnologia, engenho, ideias, alternativas, soluções, imaginação, otimismo racional. O planeta está sendo destruído, de acordo. O diagnóstico não está errado. Contudo, por mais bonitos que sejam, soem ou pareçam, discursos não vão resolver o problema. Uma boa dose de Iluminismo, sim.