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Collor, Renan, Flávio e Paulo Marinho no Senado Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Collor, Renan, Flávio e Paulo Marinho no Senado Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo | Foto:

“Nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não.”

Belchior

 

Depois de o PSL apoiar (com sucesso) Rodrigo Maia na disputa à presidência da Câmara dos Deputados, na última quinta-feira Jair Bolsonaro parabenizou Renan Calheiros por ter vencido a rinha do MDB. O alagoano, Maquiavel como ele só, tratou de vazar a informação do telefonema, o que chateou um convalescente Bolsonaro, que se viu obrigado a ligar para os adversários e, como dizem, “fazer o social”. Político, no caso.

Quem porventura duvidasse do telefonema (confirmado por Renan) encontraria no Twitter presidencial fortes indícios de que aconteceu. Tão logo a notícia provocou reações – irônicas de uns, escandalizadas de outros –, Bolsonaro (ou um dos responsáveis pela comunicação) tratou de soltar a seguinte nota: “Nesta quinta-feira, véspera das eleições para presidência do Senado, procuramos diplomaticamente fazer contato com os candidatos desejando-lhes boa sorte. O eleito será importantíssimo para a democracia e o futuro do Brasil”.

Confessou o crime, diplomaticamente.

Confessou o crime que na verdade não é crime. De fato, o eleito será importantíssimo para a democracia e o futuro do Brasil, mas é inevitável pontuar algumas coisinhas desagradáveis, quando esses diplomáticos contatos ocorrem.

A campanha eleitoral de Bolsonaro foi pautada, cantada e declamada como pura, puritana, virginal, distante de tudo aquilo que já estava aí, avessa à tal “velha política”. O agora presidente jurou, quando candidato, que não haveria acordo com os caciques, nem beija-mão dos cardeais. Eles que se curvassem e aceitassem a nova ordem das coisas.

Eu sempre me preocupei muito com isso, porque se há uma Câmara, se há um Senado, gostemos ou não, qualquer presidente só tem duas e não mais do que duas opções: ou negociar com eles, sejam quem forem, e negociar é ceder; ou fechar o Congresso Nacional, não negociar nem ceder, e se declarar Messias de uma vez.

Lembro-me muito bem de que a militância mais entusiasmada até preferia a segunda opção; alguns, abertamente: que se acabasse com tudo aquilo, que se governasse a golpes de decreto e medida provisória. Bolsonaro, eleito, achou melhor não. Preferiu a via democrática, escolheu negociar, ponto para ele.

O Bolsonaro que assume o governo parece assustado com o tamanho do problema que é governar e, de certa forma, esse susto é bom. É um susto que civiliza, que amadurece, que ensina humildade. O presidente tem aprendido rápido que política nova se faz com política velha – tudo enfim é política. A mesma de sempre.

Claro que é possível melhorar, é desejável melhorar, mas leva tempo. Depende de renovação parlamentar; depende de reformas várias; depende de uma postura mais razoável e menos imediatista do próprio eleitor. Enquanto isso não acontece, quem se elege ao cargo máximo do Executivo tem de se haver até com os mínimos cargos e encargos do Legislativo, Judiciário mastodôntico à parte.

Bolsonaro tentou antecipar lances, aproximações e distanciamentos. Não que isso faça bem à política, em princípio, porque não faz, mas sabemos que é uma versão chinfrim do pacto faustiano. É o que temos para hoje. Sem essas costuras as pontas ficam soltas e não teremos reforma da Previdência; sem reforma da Previdência não teremos país do qual reclamar.

Agora, do ponto de vista da militância, tais manobras deveriam (infelizmente não acredito que vão) provocar reflexões profundas. Acusaram – e acusam – todos aqueles que não acreditavam – nem acreditam – na pureza dos ideais, ou mesmo na possibilidade de ideais, como se se tratassem de traidores da pátria, sabotadores do projeto, niilistas no paraíso. Bastaram trinta dias de política de verdade para que qualquer pessoa sensata tenha aprendido: não se faz limonada sem limões, e os limões são azedos como Renan Calheiros, Rodrigo Maia, Jorge Kajuru, Kátia Abreu e grande elenco.

Depois de uma vexaminosa e estapafúrdia votação em que tivemos muito de todas as coisas, menos vergonha na cara, Renan Calheiros retirou a candidatura e abriu caminho para a vitória de Davi Alcolumbre. O apoio mais ou menos envergonhado com que o governo acenou a Renan terminou por se esvaziar.

Em meio a tudo, o abraço de Renan Calheiros em Flávio Bolsonaro, ambos circundados por Fernando Collor, é quase um rito de passagem, um sinal de que o novo nem sempre vem embaladinho como nós gostaríamos.

Não julgo, não critico, apenas constato.

C’est la vie.

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