Bellies - Théophile-Alexandre Steinlen - Old Book Illustrations (OBI)| Foto:

Falando em caça às bruxas, me lembrei do Saci, porque todo ano é a mesma polêmica: por que comemorar o Dia das Bruxas americano – estadunidense, para os íntimos do PSTU – e não festejar nossos próprios deuses, nossos seres mitológicos, nossos heróis tropicais?

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Com a palavra, Alexandre Soares Silva, antropólogo, autor do compêndio A humanidade é uma gorda dançando num banquinho:

A diferença entre as criaturas mitológicas de outros países e as criaturas mitológicas brasileiras é que as primeiras têm poderes especiais e as segundas são só deficientes físicos. Se você visse um saci entrando no metrô se sentiria constrangido a dar o seu lugar pra ele – o que nunca aconteceria com o lobisomem, por exemplo, ou com o Drácula.

O Brasil é tão pobrinho de imaginação que quando quer pensar numa criatura miraculosa imagina um preto. Depois, num arroubo de fantasia, imagina que o preto não tem uma perna e usa uma touquinha. Depois imagina uma mula, mas é uma mula sem cabeça, coitada; e essa outra criatura terrível, um menino, mas que é um menino com os pés virados pra trás. Não sei porquê não imaginaram logo um velho com bócio ou uma dona de casa com vitiligo.

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E não é?

Como os X-Men, só que sem os superpoderes.

Não obstante as dificuldades motoras, cognitivas e sociais dos nossos seres mitológicos mais brasileiramente assustadores, há que se notar uma coisa: quase nada que chamamos de cultura nacional é nacional. Tudo o que é nacional veio doutro lugar.

O português que falamos é português. Os portugueses que nos colonizaram, idem. Os africanos vieram roubados da África. Só os índios já estavam aqui, mas quando eles estavam aqui esse “aqui” nem Brasil se chamava. Era um monte de terra, água e bicho, e os índios derrubando árvores e fazendo as dancinhas deles.

Nem os reis nem as rainhas eram mulatos.

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Jesus Cristo, salvo engano, não nasceu em Belém do Pará.

Godot, retifico, Papai Noel, que a gente espera até hoje, é coisa de longe.

A USP não é daqui.

Carmen Miranda tampouco.

Futebol é inglês.

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Pãozinho é francês.

Etc.

Portanto, se o Brasil é uma espécie de alfândega de dimensões continentais, que problema há em brincar de Halloween?

Vampiro nós já temos. Pela internacionalização da cultural nacional: fica, Temer!