O enfraquecimento de Paulo Guedes| Foto:
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Quem não vive em negação sabe que o governo é um Frankenstein eleitoral, inseminado às pressas num partido de aluguel, rebento de um liberalismo improvisado na especulação e sovado num reacionarismo antediluviano. Eu me repito porque eles se repetem.

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Composto de pedaços e restos, destroços e escória, só poderia dar no que deu e terminar como terminou. Sim, porque o governo eleito – com as promessas e slogans de eleição – terminou.

Prometeu zerar o déficit fiscal em um ano, vender um trilhão em estatais, combater a corrupção, além de outros milagres. O combate à corrupção virou fisiologismo, a venda de estatais não deu trilhão, as reformas estão ancoradas na campanha à reeleição.

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Se o desembarque de Sérgio Moro já tinha dado uma rachadinha no acordo entre o bolsonarismo e o espírito da Lava Jato, a “debandada da equipe econômica” – palavras de Paulo Guedes, encantador de traders – escancara a falta de rumo, projeto, plano, proposta, hipótese, norte, agenda, sentido ou vaga ideia do que fazer.

Aliás, registre-se, o próprio Guedes confessou, com todas as letras, vírgulas e respectivos pontos, que a demora nas mudanças estruturais tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro. O tempo do Messias não é o tempo dos homens. É, em suma, um vexame.

Um vexame anunciado com antecedência. O presidente tem uma vida dedicada à baixa política, às miudezas de categoria, ao funcionalismo preguiçoso, aos apelos antidemocráticos. Sua conversão na estrada de Damasco do liberalismo foi conversa pra boi dormir.

Muito boi dormiu.

Alguns ainda insistem, supersticiosos ou comprometidos, que torcer contra o governo é torcer contra o Brasil. Conversa fiada. Torcer contra o governo é torcer pelo Brasil. O que é ruim para o Bolsonaro é bom para o país.

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Ninguém faz boa figura. Dias atrás, o demissionário Salim Mattar criticava a imprensa e, muito responsável, denunciava como fake news os rumores de que desertaria. Pois desertou. Que eu saiba, se esqueceu de pedir desculpas.

Fez elogios a quem fica, “você merece alguém melhor...”, e entrou logo com a papelada do divórcio. Generoso, explicou aos silvícolas que “...a tese liberal de reduzir o tamanho do Estado para desonerar o cidadão é aplaudida, mas pouco apoiada”.

Jura?

É de matar.