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Bolsonaro também festejou o 4 de julho dos EUA no ano passado.
Bolsonaro também festejou o 4 de julho dos EUA no ano passado.| Foto: Alan Santos/PR

Os liberais pregam o Estado mínimo.

Jair Bolsonaro não é liberal. Ignora no todo e nos detalhes essa e quaisquer outras configurações políticas, ideológicas e econômicas. Até mesmo o comunismo, bicho-papão que o assombra com tanta insistência, lhe é estranho. Conhece de ouvir falar.

Por mais que seus assessores – formais e informais, remunerados ou voluntários – se esforcem, a inspiradora história de um deputado do baixo-clero, entusiasta da ditadura, sovado no corporativismo militar, subitamente convertido à liberdade econômica e aos limites da ação do Estado, é menos história e mais conto da Faria Lima. Acreditou quem quis. Muita gente quis.

Mas não se pode negar que o presidente tem feito esforços em não se esforçar de jeito nenhum. Na falta de leituras sobre a teoria do Estado mínimo, ele age – na prática – o mínimo que pode, por preguiça, incompetência e desinteresse. Sua agenda, para quem a consulta, não é das mais movimentadas.

E, como se vê, o governo é o homem.

O país precisa de reformas tributária, administrativa e de uma agenda séria de privatizações? Precisa, mas nós é que não precisamos nos apressar, porque reforma, já viu, não se sabe quando acaba depois que começa.

A educação é problema dos mais urgentes? É, ninguém o nega, mas não é fácil acabar de vez com qualquer vestígio dela. Estamos tentando: de Velez Rodriguez a Weintraub, de Decotelli à extinção, o fracasso leva tempo.

A pandemia tem matado milhares de brasileiros por dia – até agora, mais de 60 mil – e há que se bolar um plano inteligente para o controle sanitário? Ora, não sejamos tão rigorosos, é só deixar como está pra ver como é que fica.

Para não dizerem que só tenho críticas, querem um exemplo de medida correta? Vetar a obrigação de uso de máscaras em, aspas, domicílios como igrejas, templos, comércio e escolas; e, principalmente, desobrigar o Estado de oferecer máscaras aos mais pobres.

O raciocínio é de uma transparência cartesiana: menos máscaras, mais mortes; mais mortes, menos brasileiros; menos brasileiros, menos mortes; menos mortes, menos necessidade do uso de máscaras. Mais ou menos isso.

Eu disse que Bolsonaro não é liberal? Retifico: ele é uma espécie muito brasileira de liberal. Não se encontra assim na Europa ou nos EUA. Só aqui. Consiste no seguinte: ele não faz nada, rigorosamente nada. Sua agenda oficial é um latifúndio improdutivo prestes a ser ocupado pelo MST. Está sentado sobre o país, comendo jujubas ideológicas, rindo enquanto tudo incendeia.

É o máximo que sabe fazer. É o seu jeito muito próprio de fazer Estado mínimo.

Está conseguindo.

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