Madalena Arrependida (Caravaggio)| Foto:

Depois da tremenda bebedeira eleitoral, o MBL (Movimento Brasil Livre) acordou de ressaca e, contrito, jura de pés juntos e mãos postas que vai mudar de vida. Renan Santos, coordenador da sigla, e Fernando Holiday, um de seus líderes, deram entrevistas bastante francas.

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Ambos concordam que seu modo de fazer política se transformou, no fim das contas, num modo de não fazer política. Muito bem, odiemos o pecado e amemos o pecador: estão certos em admitir que estiveram errados. O aggiornamento foi anunciado em texto de Ricardo Almeida.

De fato, surgido em meio à conturbada reeleição de Dilma Rousseff e às subsequentes manifestações em favor de seu impeachment, o Movimento quis pegar atalhos que se mostraram perigosos e – hoje eles admitem – contraproducentes. Tomaram no contrapé.

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Se Jair Bolsonaro foi eleito, parte da responsabilidade é deles. Não porque apoiaram o então candidato do PSL de forma direta, e apoiaram, como tantos outros; mas sobretudo porque criaram as condições de possibilidade para sua vitoriosa campanha. Memetizaram a política.

Sua estratégia de comunicação achatou o debate, simplificou o que era e deveria continuar sendo complexo, vulgarizou discussões já vulgares, apagou distinções importantes, atacou adversários honestos, atrapalhou a convergência necessária e, por fim, deu ao Capitão um vocabulário e uma gramática, que se mostraram úteis no intuito de tornar a política inútil.

A banalização retórica pode não ter sido a causa suficiente do resultado eleitoral, mas foi certamente causa necessária. Numa terra já devastada pelos escândalos políticos e pela violenta quimioterapia da Lava Jato, o eleitor se viu emparedado entre o criminoso lulopetismo e a anemia das campanhas alternativas. A direita liberal e a esquerda civilizada não souberam vender o peixe da moderação. Ciro Gomes? Não, obrigado. Restou um.

Que o MBL assuma de vez a parte que lhe cabe dos estragos feitos e, na medida do possível, reposicione a marca e tente reconstruir algumas das pontes que ajudou a derrubar com tanto gosto. Será mais difícil agora. Mas, principalmente: que a mudança não seja outra jogada oportunista para sair bem na fita e nas urnas, só para ter de preparar os vindouros arrependimentos.