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Ainda não assisti à série O Mecanismo, do diretor José Padilha, mas sei que tem causado barulho. O crítico de cinema Pablo Villaça soltou os guevaras e tem feito campanha para que seus leitores cancelem a assinatura da produtora Netflix.

Ele não viu, não verá, não criticou, não criticará O Mecanismo: ele se nega a fazer o seu trabalho – em tese, crítica cinematográfica – por causa de suas convicções políticas. Nobre, nobilíssimo.

E quais são as convicções políticas do Pablo Villaça? Não, ele não é de esquerda. Quer dizer, ele é de esquerda, mas isso seria simplificar muito as coisas. Ele é de esquerda e se recusa a sequer tomar contato com qualquer coisa que ouse questionar os fatos tais como acreditados, narrados, catalogados pela esquerda.

Lula é inocente, mas Aécio é culpado. Dilma é inocente, mas Eduardo Cunha é culpado. Não há provas contra o PT, mas há provas contra o PSDB. Etc. Se a historinha não for contada assim, sabemos do que se trata: é golpe.

(Sobrou até para a Marina Silva, aquela que foi despedaçada pela campanha petista nas últimas eleições.)

O inacreditável Fernando Haddad disse que a série pertence ao gênero recém-inventado da “fake fiction”. Pois é. Queria uma vez na vida entrar no cérebro do Fernando Haddad só pra ver o que tem lá dentro; deve ser divertido. Divertidamente.

Chega a ser compreensível que Haddad não perceba o disparate proferido, porque a ficção armada pelos correligionários petistas é falsa até para eles; nisso têm experiência de sobra. Essa fiction toda é tão fake, mas tão fake, que acaba enganando quem a inventou.

Dilma Rousseff afirmou que “Netflix não está sabendo onde se meteu”. Work alcoolic.

José de Abreu garantiu ter cancelado a assinatura. Duvido muito, porque esse aí tem jeito de quem não lida bem com tecnologia; mas não importa: podem deixar desmarcado, que dele a natureza cuida.

O que a série tem de ruim é misturar falas, embaralhar atribuições, forçar interpretações? Não sei, me contaram, pretendo conferir. Se for isso, será mais ou menos como toda obra de ficção já feita na história do mundo. Ou, com um pouquinho de má vontade, se isso acontece, então acontece mais ou menos como nos filmes do conspiratório Oliver Stone, ou nos documentários – esses sim “mais estranhos que a ficção” – do pelas esquerdas sempre louvado Michel Moore.

Quanto aos arreganhos, cabe perguntar: então esse tipo de atitude histérica, mais ou menos escandalizada, diante de uma obra de arte – boa ou ruim, não vem ao caso, para o momento – é uma das atitudes possíveis de crítica? Anotado.

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A caravana do ex-presidente e atual condenado pelo Rio Grande do Sul não parece ter sido boa ideia. As hostes petistas têm sido hostilizadas por onde passam; ovos e pedras no cardápio. Eu quase comemoro. Não comemoro com muito gosto, porque ainda faço força para fingir uma civilidade que eles já não fingem.

É evidente que atos violentos assim podem, de alguma maneira, reforçar a mania de perseguição política da trupe vermelha. Isso não é bom. No entanto, convenhamos, falta a Lula o mínimo de recato, aquele restinho de decência tirado a balde do volume morto em que consiste a ética petista.

Não sobrou nada.

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Ainda sobre o circo ideológico mambembe e respectivas reações, Lula disse que esperava da Polícia Militar que tivesse a “responsabilidade” de invadir o prédio de onde vinham os ovos que lhe acertavam a dignidade, e “desse um corretivo” no “canalha”. Ora vejam: de repente, violência policial se justifica. Vamos ou não vamos acabar com a PM?

Nós somos paz e amor, mas não pensem que vão bater nessa face e a gente vai dar essa [a outra] face. A gente vai dar é porrada se não respeitar a gente. Nós não queremos brigas, mas não fugiremos delas…

– Lula, paz e amor

 

 

 

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