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Um governo em autocombustão
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Depois de Gustavo Bebianno, Ricardo Velez e Hamilton Mourão, agora é o ministro Santos Cruz quem sofre ataques de seus inimigos íntimos. Resgataram uma entrevista de um mês atrás em que ele supostamente trataria de controle de mídia, e fizeram dela motivo para críticas. Tudo é motivo para quem não precisa de motivos.

Carlos Andreazza aponta o óbvio: a fritura de Santos Cruz tem como causa próxima o controle da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), subordinada à Secretaria de Governo. O núcleo ideológico quer o comando da casa de máquinas, pois o twitter presidencial já não basta. Propaganda é a alma do negócio.

O espantoso é que tais ardis se deem dentro do governo, orquestrados por gente do governo. Agora me pergunto: se quem escolheu um por um os ministros e secretários foi Bolsonaro, e não a imprensa, que culpa tem a imprensa – ou a oposição – por toda a bagunça político-institucional? De fofoca em fofoca dois ministros já caíram.

A não ser que se considere razoável e republicano que o condecorado ideólogo ofenda e acuse o vice-presidente e quase todos os ministros, sob anuência ou vista grossa do presidente; a não ser que se considere prudente e democrático que os condecorados filhos falem constantemente num ataque ao establishment, como se eles não fossem o próprio establishment.

Se isso lhes parece normal, Deus me livre de saber o que considerarão loucura.

Bolsonaro se vangloria de ter adotado critérios técnicos nas escolhas. Também se orgulha de não ter negociado vagas e ministérios em troca de apoio. Portanto, se ele teve plena autonomia para montar sua equipe, ele tem toda responsabilidade por quem entrou e saiu, por quem vier a entrar e sair do governo.

Sendo assim, que coisa maluca é essa de ter se cercado de incompetentes, traidores e golpistas, como gente muito próxima tem denunciado? “Dize-me com quem andas…” Bolsonaro convocou dezenas de golpistas para governar, militares que ele conhecia desde os tempos em que também era militar. Todos aproveitadores?

Mais um pouco e vou começar a suspeitar do próprio Bolsonaro.

A culpa disso tudo será minha, sua, da imprensa – ou mesmo do PT? Não. Mas há quem esteja muito confortável na espreguiçadeira da indignação barata, aquela que balança no modo automático desde 2002. Antipetismo virou sinônimo de consciência crítica. Criticar o PT se transformou em meio de vida intelectual para muita gente que parece sentir saudade dos tempos em que o objeto da crítica e o governo se confundiam. Era tão mais fácil apontar os erros do governo quando o governo era do PT, não é mesmo? Agora o governo é outro, o PT se desmantelou e dá trabalho repensar as categorias, ajustar o foco, aprender palavrinhas novas.

O PT destruiu o país, arrebentou as contas, desviou bilhões, loteou o Congresso e sabotou a democracia real – ponto pacífico. No entanto, Bolsonaro tem se mostrado um presidente que não sabe se quer ser presidente ou oposição. Fala, desfala, manda, desmanda, indica, desindica, avança, recua, condecora, desrespeita, conspira, denuncia conspirações.

É um governo em autocombustão.

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