Foto de Gabriela Biló/ Estadão| Foto:
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O anticlímax provocado pela divulgação do suspense mais esperado do ano revela bastante do nosso modesto zeitgeist. Repare bem, diria Ciro Gomes, no espírito da coisa: esperava-se tanto, esperavam-se tamanhos disparates, que o que se viu soou... razoável.

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Momentos antes de o material vir a público, o general Augusto Heleno, espécie de chefe da segurança ideológica do presidente, publicou nota em que sugeria, sem muitos reparos nem eufemismos, a possibilidade de um golpe. Estava preocupado.

Estava preocupado porque sabia que o teor da reunião espantaria o distinto público. Para sua sorte, calculou mal. Subestimou o efeito da dessensibilização que Bolsonaro e grande elenco provocaram na já pouco suscetível consciência do brasileiro.

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O que se viu, afinal de contas, foi o que se imaginava ver, nem muito mais nem muito menos. Ocorre que os melhores (piores) momentos foram antecipados em transcrição generosa, dias atrás, como um trailer que mostrasse todas as explosões num filme que só tem explosões.

Recordemos que Sérgio Moro mencionou a reunião para corroborar sua saída do governo. O motivo: a tentativa de interferência do presidente na PF, para proteger aliados e familiares. Moro indicou a reunião como prova. A prova se confirmou com a saída de Maurício Valeixo.

Outras enormidades foram ditas, naquele tom informal muito conhecido do bolsonarismo: ofensas no atacado, pedidos de prisão no varejo, desprezo à imprensa, desapreço aos poderes, desmonte sorrateiro da proteção ao Meio Ambiente, descaso com os pequenos empresários... Lista não exaustiva.

O fato é que estamos acostumados a estar mal-acostumados. Quase nada nos tira do sério. Com esse governo é preciso ir além de uns crimezinhos sem importância para fazer cócegas na audiência. É preciso aumentar a dose, dobrar a meta, quebrar a banca, concretizar a ameaça.

Quem sabe umas vinte mil mortes? Quem sabe uma polícia paralela? Quem sabe uma bomba no Parlamento?

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