O novo ano começa e, com o ano, os velhos dilemas: um ano a mais é um ano a menos. Estamos vivendo e viver é caminhar a passos largos para a morte. Não há fogos de artifício que calem essa melancolia. As resoluções do ano novo passado ficaram no papel, quase todas; as deste novo ano ficarão no papel, quase todas.
Penso nos vivos e, sobretudo, penso nos mortos. Sou hoje filiado aos primeiros, serei amanhã membro da confraria dos últimos.
Recebo por e-mail notícias do mais novo lançamento editorial na categoria autoengano, minto, autoajuda: Seja jovem em qualquer idade. As informações detalhadas vão para a lixeira digital e, da lixeira digital, para o diabo que as queira carregar e ler.
Toda essa literatura acerca de fórmulas para viver melhor não vale o tempo gasto para lê-la. Se leio um livro ruim, perco as horas de vida dedicadas a ler o livro ruim. Um livro ruim que me promete ser jovem em qualquer idade é ainda pior: me promete impossibilidades e agonias.
Estou certo de que o livro que não li deve recomendar receitas infalíveis: exercícios físicos. Ioga. Meditação. Sorrisos abundantes. Viagens. Vegetais. Rigores de fazer inveja a faquires. Água, muita água. Sexo: com amor, sem amor. Ponho-me a pensar, com a gravidade de uma estátua de Rodin: será que isso tudo de fato funciona e, se de fato funcionasse, seria bom?
Viver é preciso; ser jovem não é preciso. É ótimo ter disposição para a vida quando a vida vai chegando ao fim. É bom ser velho e ainda assim ser bem disposto para viver uma velhice decente. Porém, a metafísica implícita no título, que nos promete, que nos exige a juventude eterna, em qualquer idade, trai alguma coisa mais profunda e mais desalentada.
Porque ser jovem para sempre – ser “jovem em qualquer idade” – é não aceitar que há tempo para tudo: para a juventude, para a maturidade e para a velhice. Há tempo para aceitar as rugas que vêm e os músculos que vão. Ser jovem em qualquer idade não é simplesmente sentir-se saudável e vigoroso em qualquer idade. Mas sim, de alguma maneira, ser desleal com a idade que se tem, com a finitude, com o desapego.
Quero, de minha parte, viver uma vida decente e chegar ao fim dela com um mínimo de dignidade. Espero sinceramente não me arrastar, não ser arrastado, da cadeira de balanço ao banheiro.
Quanto à juventude, fico com o conselho seríssimo do seríssimo Nelson Rodrigues: “Jovens, envelheçam!” Viver, mais do que manter-se jovem, disposto e potente até o último suspiro, é aprender – acostumar-se – a sentir-se velho, indisposto e impotente quando os últimos suspiros se aproximam.
E, ainda assim, celebrar a vida que se tem.
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