Congestionamento: a culpa é toda dos carros. (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo)| Foto:
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O título deste post, por óbvio, parece apenas uma piada ou ter sido retirado de sites de notícias satíricas, como o The Piaui Herald ou o Sensacionalista. Mas foi essa a conclusão do estudo Indicadores de Mobilidade Urbana da Pnad, divulgado nesta quinta-feira (24) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O estudo (que é sério) toma como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) 2012 sobre os deslocamentos casa/trabalho, assim como sobre a posse de veículos automotores e o acesso à política de auxílio-transporte dos brasileiros. E conclui: “o padrão de mobilidade urbana no Brasil vem se alterando nos últimos anos com o aumento acelerado da taxa de motorização da população, o que significa mais acidentes de trânsito, maior poluição veicular e perda de tempo em função dos congestionamentos nos centros urbanos”.

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Em jornalismo, há uma máxima que diz que se quando um cachorro morde um homem, não há notícia. Somente quando o contrário ocorre o fato merece espaço no noticiário. Apesar de constatar o óbvio, a pesquisa do Ipea ajuda a reforçar um argumento há muito usado pelos defensores da causa da mobilidade urbana sustentável: “Motorista, você não está preso no congestionamento. Você É o congestionamento!”

Entre 2008 e 2012, a proporção de domicílios com algum tipo de veículo privado saltou oito pontos percentuais. Atualmente 54% dos lares brasileiros tem na garagem um carro e/ou moto. Como resultado do maior número de veículos nas ruas, o tempo médio gasto para chegar ao trabalho pelos habitantes das regiões metropolitanas atingiu 40,8 minutos – a média, no Brasil, é 30,2 minutos.

Exceto aqueles que militam voluntariamente no campo do individualismo e/ou da estupidez, poucos são capazes de apontar faixas exclusivas de ônibus, bicicletas ou pedestres como fatores causadores do caos do trânsito nas grandes cidades brasileiras. É o uso irresponsável do veículo particular motorizado e a falta de investimento público em modais alternativos – da calçada ao metrô — que limitam o direito de ir e vir, previsto na Constituição.

Tudo isso, claro, tem seu preço. Em estudo divulgado no início deste ano, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo concluiu que as perdas financeiras com acidentes de trânsito, poluição e engarrafamentos sejam de R$ 4,1 bilhões por ano, apenas naquele estado . Já o Instituto de Estudos Avançados da USP calcula perdas diárias de R$ 11 milhões com tempo e combustível nos congestionamentos. As soma do tempo perdido pelas pessoas no trânsito atinge a média de 240 mil horas. São desperdiçados cerca de 200 milhões de litros de gasolina e álcool e 4 milhões de litros de diesel por ano nos engarrafamentos na cidade.

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Em artigo publicado nesta semana, a revista britânica The Economist explicou como os sistemas públicos de compartilhamento de bicicletas — hoje presentes em mais de 500 cidades ao redor do mundo, de Dubai ao Havaí — vêm contribuindo para tornar as cidades lugares melhores.

“As comunidades que têm investido em projetos de pedestres e de bicicleta têm se beneficiado da melhoria da qualidade de vida, a população saudável, os maiores valores imobiliários locais, opções de viagem mais curtas e redução da poluição atmosférica”, conclui a conceituada The Economist. Uma constatação tão óbvia quanto a do estudo do Ipea ou o fato de um cachorro morder um humano. Mas que, ainda assim, merece ser notícia.