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Cinco ciclistas mortos em um dia. Mas jamais vão deter a Primavera
| Foto:
Reprodu/Cassandra Melo
Ciclistas deitam na Av. Paulista em protesto pela morte dos ciclistas: “Quando um morre, todos morrem um pouco”.

“Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas. Mas jamais vão deter a Primavera”. Ernesto Che Guevara

Na sexta-feira (2), cinco vidas de ciclistas foram atropeladas pela violência do trânsito brasileiro. Mas nem mesmo toda essa brutalidade será capaz de deter a Primavera das Bicicletas.

Ao invés de assustar e intimidar, as tragédias vão levar milhares de ciclistas às ruas de todo o país em solidariedade às vítimas do trânsito e para pedir mais respeito e prioridade nas políticas públicas de mobilidade.

As Bicicletadas e Massas Críticas de todo o Brasil estão convocando um ato de ocupação das ruas na próxima terça-feira (6). Até agora, ao menos 16 cidades — sendo 13 capitais –, das 5 regiões do país, já confirmaram a organização do protesto.

Em Curitiba, mais de 250 pessoas já confirmaram a participação na Bicicletada Nacional Extraordinária nas primeiras horas após a convocação do evento.

A Bicicletada sairá às 19 horas do Pátio da Reitoria da UFPR, no centro da capital paranaense.

O ato de Curitiba também prestará uma homenagem aos ciclistas paranaenses mortos recentemente: Edimar Nascimento (atropelado por um biarticulado) e Demétrius Kirach (atropelado por um caminhão na BR-277).

Importante

Vá de branco para simbolizar a paz e com uma fita preta amarrada na bicicleta para simbolizar o luto;
Leve faixas, cartazes e panfletos para pedir paz no trânsito;
Leve um pacote de velas para o ato em homenagem aos ciclistas mortos;
O protesto é firme no propósito, mas pacífico na ação.

Não foi acidente

Uma das tragédias ocorreu em plena Avenida Paulista, no coração de São Paulo. Um ônibus atropelou e matou a ciclista Juliana Ingrid Dias.

Reprodução/Gilberto Kyono
Ciclista Julie Dias, que morreu atropelada por um ônibus em São Paulo.

Outro ciclista, um homem de cerca de 30 anos, também morreu atropelado por um ônibus no Distrito Federal, na rodovia DF-001.

A outra tragédia ocorreu em Belém. Um ciclista morreu atropelado por um caminhão caçamba na rodovia BR-316. De acordo com a polícia, o ciclista andava pelo acostamento quando foi pego de surpresa pelo caminhão que tentava desviar de outro veículo.

Em Pernambuco, o motorista de um Chevette em alta velocidade atropelou e matou o servente de pedreiro Misael Severino dos Santos, de 41 anos na PE-27, Região Metropolitana do Recife.

Em Pomerode (SC), uma criança de 9 anos foi atropelada por uma caminhonete Silverado, na altura do quilômetro 10 da SC-418

Chamar de “acidentes”, buscar explicações ou se ater aos detalhes de cada um dos episódios é fechar os olhos e ignorar o fato de que temos um dos trânsitos mais violentos do mundo. Uma indústria da morte que mata em média 110 brasileiros por dia; 40 mil vidas por ano.

O trânsito de São Paulo lidera o ranking de mortes envolvendo ciclistas no país, com 277 acidentes fatais em 2010 de acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DataSUS).

O Paraná, por sua vez, é o segundo estado mais violento do Brasil para os usuários de bicicleta, com 144 mortes no mesmo período.

Dentre as capitais, Curitiba é a 6ª mais perigosa para os usuários da bike. Na capital paranaense morreram em 2010 23 ciclistas. São Paulo e Rio de Janeiro encabeçam a lista com 36 mortes cada uma.

Das mortes provocadas nessa sexta-feira, duas foram causadas por ônibus, conduzidos por motoristas profissionais. Motoristas esses que são capazes de ameaçar um ciclista com a frase: “Você vai morrer, eu só vou assinar o B.O.”.

Reprodução/Bicicletada de Curitiba

Aliás, é quase certo que haverá um ou outro imbecil por aqui capaz de relinchar algo, imputando a culpa aos ciclistas, ignorando solenemente que a lei de trânsito protege e dá preferência ao menor e não motorizado. Aliás, a lei dá preferência à vida.

Mas, mesmo após a tragédia, houve quem fosse capaz de escrever nas redes sociais que “se este ciclista estivesse trabalhando, ou estudando e não passeando de bicicleta em avenida movimentada isso não teria acontecido”.

Ou que “ciclista é uma raça de filho da puta” e que “se tiver passeata de ciclista no caminho que faço vou fazer que nem aquele gaúcho, passar por cima”.

É esse tipo de mentalidade doentia atrás de um volante que ajuda a engrossar as estatísticas. É esse tipo de motorista que provoca “acidentes” que matam os ciclistas.

Mas é preciso deixar claro que a situação está chegando ao limite. A sociedade já não suporta mais tantas mortes e tanta impunidade.

E a resposta à tudo isso deve ser dada com mais bicicletas nas ruas. É preciso ocupar, resistir, pedalar e fazer a Primavera florescer.

***

Reprodução/Pedal Verde
Julie Dias: bicicletas e plantio de árvores.

Julie, como era carinhosamente chamada pelos amigos, era bióloga, ciclista e amante da natureza. Ela pertencia ao grupo Pedal Verde, coletivo de intervenção ambiental urbana, que estimula o uso da bicicleta e o plantio de árvores em praças e parques da cidade de São Paulo. Em homenagem a Julie foram plantadas duas cerejeiras — sua árvore preferida — na Praça do Ciclista.

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