| Foto:
CARREGANDO :)

A primeira Bicicletada de Curitiba em 2012 pedalou 20 quilômetros para uma vistoria na ciclofaixa da Marechal Floriano. No trajeto, os ciclistas enfrentaram três momentos de conflito; todos eles envolvendo ônibus do sistema público de transporte.

A situação reflete a realidade enfrentada no dia a dia de quem usa a bicicleta como meio de transporte – e ajuda a explicar fatalidades como a que vitimou o ciclista Edimar Nascimento, há exatamente uma semana.

Publicidade

O caso mais grave ocorreu justamente no trecho mais estreito da ciclofaixa, em que a largura da área útil (faixa vermelha) varia entre 73 centímetros e 75 centímetros.

Um caminhão estava estacionado em fila dupla, fazendo a manutenção da fiação elétrica. Neste momento, um motorista do Ligeirinho não quis saber de esperar, invadiu a ciclofaixa com duas rodas e tocou o veículo de 10 toneladas sobre os ciclistas, que trafegavam em fila indiana.

“Tenho que cumprir meu horário”, justificou o motorista da linha Boqueirão Centro Cívico — veículo EL 300 placa AUL-6039 — , quando questionado por um dos ciclistas, que pedia calma e paciência. A frase é reveladora e mostra que não basta apenas mirar no motorista — que sim, é um mentecapto – mas é também o elo mais frágil de um sistema alimentado por uma lógica perversa.

A questão toda começa com a própria estrutura do sistema de transporte curitibano, que penaliza o elo mais fraco – e mais ignorante – e terceiriza a responsabilidade por falhas de planejamento e gestão.

Penalizar o motorista em seu salário por atrasos é um estímulo à agressividade no trânsito e a uma disputa por espaço que acaba justificando sinais vermelhos furados ou transitar em velocidade acima da máxima permitida.

Publicidade

Problemas de atraso se resolvem com mais ônibus circulando nas principais linhas. O mesmo vale para reduzir filas e ônibus lotados.

A situação só se agrava com a total falta de preparo desse pessoal. Motoristas de ônibus devem ter a completa noção de que transportam vidas e de que transporte público é parte do trânsito. Entretanto, os motoristas profissionais – que deveriam ser exemplos de civilidade – são na verdade uma ameaça ambulante.

Faz-se urgente uma requalificação desses profissionais – com cursos e palestras. Algumas delas com foco especial na bicicleta que, sim, ao contrário do que muitos motoristas pensam, também fazem parte do trânsito.

O desconto do salário é uma medida punitiva legítima e eficaz apenas quando houver o descumprimento da legislação de trânsito – o que inclui jogar um ônibus sobre dezenas de ciclistas que trafegam sobre uma ciclofaixa.

A questão só será resolvida com reforço nas áreas de educação, fiscalização e punição. Apenas em uma sociedade onde impera a barbárie é que alguns segundos justificam a perda de vidas humanas.

Publicidade

Vistoria da Ciclofaixa

Não vou me estender muito na questão. A vistoria na ciclofaixa da Marechal pela Bicicletada provou que este blog estava errado. Ao contrário do informado, a largura mínima verificada no local não é de 75 centímetros. É, sim, de 73 cm – medido e constatado pelos ciclistas com fitas métricas e trenas.

A experiência da Bicicletada provou que a via é sim insegura e muito estreita– opinião de 10 em cada 10 ciclistas que estiveram no local. Provou também que não basta apenas controlar a velocidade lindeira (o que também é necessário). Para evitar acidentes graves no local, será preciso, sim, refazer a obra já executada, implantando uma faixa de, pelo menos, 1 metro de largura de área útil.

Veja mais fotos da Bicicletada de Curitiba no site dos Bicicleteiros

Publicidade