(Foto: Luiz Costa/SMCS)| Foto:
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Fui um crítico ferrenho do projeto do viaduto estaiado na Avenida das Torres, em Curitiba, desde que a ideia veio a público. Mas, agora que a obra está pronta e foi entregue aos cidadãos, sou obrigado a admitir publicamente e reconhecer: eu estava certo!

Aos fatos: a obra tornou a cidade um lugar pior – falo com propriedade, já que sou morador do Jardim das Américas e vizinho do viaduto. Ruas calmas do bairro foram alargadas e perderam árvores que formavam um túnel verde. As pessoas que passeavam nas ruas com cães e carrinhos de bebê agora ficam praticamente ilhadas. As pessoas perderam o espaço e a vida comunitária, que respirava por aparelhos, morreu de vez sufocada.

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Mas, e os carros?! Há sim! Estes vão bem…bem mais rápido, já que a velocidade das ruas foram aumentadas para 40 km/h; uma pequena diferença que triplica a probabilidade de morte de pedestres ou ciclistas em caso de atropelamento, de 5% para 16%.

Não cabe aqui voltar a questionar o custo exorbitante, a utilidade ou a falta de bom-gosto estético da obra. Seria como chutar cachorro morto. Além do mais, o “jênio” que teve a ousadia de tirá-la da prancheta já começou a pagar nas urnas o karma político que deveria. (E, se Buda quiser, vai continuar pagando por, no mínimo, mais umas 84 encarnações!).

Mas, já resignado com a fatalidade de que como cidadão-contribuinte me caberia apenas o destino de ajudar a pagar os R$ 84 milhões pela brincadeira e contemplar o monumento ao desperdício, sou surpreendido ao ver que o que era ruim conseguiu ficar ainda pior.

E a culpa já não é mais só do politicamente-finado Luciano Ducci, mas também pode ser dividida com o prefeito Gustavo Fruet, que herdou a bomba, mas conseguiu torná-la ainda pior do ponto de vista urbanístico.

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Ao apresentar o projeto do “novo cartão postal” de Curitiba, ainda em 2011, a prefeitura previa que, “além das pistas, o viaduto terá ciclovia compartilhada nas laterais para o trânsito seguro de ciclistas e pedestres”. Pois bem, inaugurada a obra (sem cerimônias), não há demarcação de área exclusiva para ciclistas e pedestres, como projetado e divulgado inicialmente.

Ok. Nas laterais há um guard-rail de concreto como (única) opção para quem anda ou pedala e precisa atravessar o viaduto. Mas isso não é nem de longe uma ciclovia compartilhada.

É simbólico e ao mesmo tempo sintomático que no viaduto há uma placa enorme que faz questão de dizer em letras garrafais: acesso proibido para pedestres e ciclistas.

Vivemos em uma cidade carrocêntrica e excludente. Ainda que, por questões de segurança, não seja recomendável que pessoas andem ou pedalem por ali, uma placa orientando ciclistas e pedestres a usarem a ciclovia compartilhada e devidamente sinalizada seria uma solução mais digna e honrosa. Fruet preferiu o outro caminho…

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Ponte para o progresso

Guadalajara (México), Medellín (Colômbia) e Cartum (Sudão) são cidades que também tentaram, sem sucesso, fazer de pontes estaiadas seus cartões postais. No entanto, não se tem registros confiáveis de quantos turistas as obras multimilionárias atraem por ano. Mas não deixa de ser interessante perceber que há algo em comum além das pontes em cidades que oferecem obras faraônicas como símbolo do desenvolvimento…

Enquanto isso, na Holanda…

Hovenring, na cidade de Eindhoven. Rotatória estaiada para ciclistas custou 30 milhões de euros — exatamente o mesmo custo do viaduto estaiado de Curitiba pelo preço médio do euro nos últimos dois anos. Surpreendentemente, ainda não se viu nenhum cartão postal da cidade com a foto da nova ponte — nem para turista, tampouco para campanhas políticas.

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