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Ilustração: Robson Vilalba/Thapcom
Ilustração: Robson Vilalba/Thapcom| Foto:

A queda

O senador Roberto Requião (MDB) foi certamente uma das principais forças políticas do Paraná nos últimos 20 anos. Era em torno dele – e contra ele – que se organizavam as alianças políticas locais. Tão importante quanto Requião, somente seus antagonistas. Nos últimos oito anos, esse posto foi ocupado pelo ex-governador Beto Richa (PSDB). Desarticular essas bases do poder local foi o resultado de maior impacto nas eleições do Paraná.

Ainda que a política seja por essência a arte dos altos e baixos, há fatores difíceis de serem superados que pesam contra Richa e Requião.

Para o senador emedebista, há o peso implacável da idade. Requião está com 77 anos e na próxima eleição em que estarão em disputa os cargos nacionais terá 81. Se disputar a cadeira do Senado, a perspectiva é de terminar um eventual mandato beirando os 90 anos. Apesar de incomum, a tarefa não é impossível: em 2014, por exemplo, o senador José Maranhão (MDB-PB) foi eleito com os mesmos 81 anos que Requião terá em 2022.

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Já para o tucano, parecem haver duas dificuldades. A primeira delas é com a Justiça. Richa foi preso – junto com seus principais aliados – na Operação Radio Patrulha, do Ministério Público do Paraná. Além de correr o risco de ser condenado nessa investigação, o ex-governador também está implicado na Operação Integração, um dos subprodutos da Lava Jato, que já levou para a cadeia familiares e assessores de Richa, investigados por desvios nos pedágios do Paraná. Uma condenação nessas investigações poderia ser um golpe do qual a carreira política de Richa não conseguiria se recuperar.

Outro obstáculo para o ex-governador é recuperar-se da acachapante derrota nas urnas. Enquanto Requião perdeu a disputa ao Senado Federal com 15% dos votos, Richa teve desconcertantes 3,7%. O resultado foi ainda pior nas grandes cidades. Em Londrina – cidade onde nasceu –, Curitiba e Maringá, o ex-governador chegou a ser derrotado por candidatos de pouca expressão como Zé Boni e Rodrigo Reis, ambos do PRTB.

A reconstrução

À primeira vista e de modo objetivo, os dois pilares da política paranaense foram derrubados por Oriovisto Guimarães (Podemos) e Flavio Arns (Rede), os dois candidatos vitoriosos na disputa pelo Senado.

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Numa leitura mais profunda, tanto Requião quanto Richa parecem ter sido engolidos por essa devastadora onda política composta essencialmente pelo antipetismo – e aqui Requião é alvejado – e por uma postura de rejeição a candidatos associados ao “sistema” – o que afeta também Richa. Aqui, vale anotar, interessa mais a percepção de ser antissistema que sê-lo, de fato.

Esse movimento disforme capitaneado em nível nacional por Jair Bolsonaro (PSL) tem seus filhotes no Paraná. E, como na política não há espaço que fique vazio, é justamente sobre o bolsonarismo que parece estar sendo erigido o novo polo da política local.

Com 427.749 votos, Fernando Francischini (PSL), bolsonarista de alto coturno, foi o deputado estadual mais votado da história do Paraná. Esse desempenho possibilitou à bancada do PSL passar de dois para oito deputados, a maior do legislativo local.

Conservador, militarista e hábil construtor de inimigos a partir de moinhos de vento, Francischini é o sujeito das ideias cujo tempo parece ter chegado. Com a força do espírito do tempo e o apoio da bancada legislativa, ele parece estar em condições de concentrar força política inimaginável há três anos, quando, como secretário de segurança de Richa, saiu pelas portas dos fundos do Palácio Iguaçu após ser um dos principais responsáveis pela violência do 29 de abril.

Ratinho Junior (PSD) é outro óbvio vencedor do pleito do dia 7 de outubro. Mas como o tamanho da vitória se mede também pelo desempenho do adversário, Ratinho, que após a desistência de Osmar Dias (PDT) venceu quase que por W. O., não teve vitória tão apoteótica. Ainda assim, tendo como aliados políticos antigos do estado – como, por exemplo, Reinhold Stephanes – o governador eleito tem caminho aberto para se consolidar como uma força maior que as atribuições circunscritas aos seus quatro anos de mandato.

Arguto politicamente, Ratinho já está se alinhando às hostes bolsonaristas e depois de levar o apoio do capitão da reserva em banho maria durante boa parte da eleição, está cada vez mais perto do PSL. Terminou a campanha ao lado de Francischini e agora assume o papel de ajudar a campanha de Bolsonaro no Paraná.

Dividida, por enquanto, entre Ratinho e Francischini, essa força antissistema parece ser o conteúdo do novo pilar político do Paraná.

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