Londrina sempre dá um jeito de ser relevante politicamente. Com a terra vermelha fazendo brotar cafezais num momento em que o café era um dos motores da economia nacional, a cidade parece ter nascido predestinada ao protagonismo. Nos últimos anos, o destaque veio de um jeito menos nobre: a cidade foi o ponto de origem de personagens centrais dos esquemas de corrupção revelados pela operação Lava Jato, entre eles o doleiro Alberto Youssef e os ex-deputados federais José Janene e André Vargas.
Ainda sob os efeitos dessa passagem menos gloriosa da história, a cidade se prepara para uma eleição municipal que é a síntese perfeita do momento político do país. Todas as personagens-tipo da política brasileira estarão à disposição dos londrinenses em 2020.
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Comecemos pelo bolsonarista: um tipo novo no cenário político, mas que vem com a força do discurso que venceu com facilidade as eleições gerais e alterou o equilíbrio das forças políticas no país. Quem está neste papel é o deputado federal Filipe Barros (PSL). Discípulo de Olavo de Carvalho, o parlamentar aposta suas fichas no discurso ideológico e na proximidade com a família Bolsonaro, a quem vem defendendo com afinco na Câmara dos Deputados.
Em entrevista recente à Gazeta do Povo, Barros deixou clara sua intenção de ser candidato à prefeitura. Apesar de ter o respaldo de Bolsonaro e apelar à retórica conservadora que tem agradado o eleitorado, o deputado está na leva de candidatos que testarão a força do bolsonarismo e a adequação de suas formulações às questões municipais. Promessas de endurecimento nas políticas de segurança pública, combate à ideologia de gênero e a perseguição ao fantasma do comunismo podem ser inadequadas para um cargo do qual a população espera ações de zeladoria municipal e políticas de habitação e mobilidade.
Possíveis adversários políticos já estão explorando essa fragilidade. Em um material contra o deputado que circula nas redes sociais, adversários locais ironizam sua atuação: “resolvido o problema de buraco, mato, falta de médico e iluminação na cidade de Londrina. Deputado Filipe Barros acaba de assumir a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos”.
Outro fato que pode comprometer o discurso anticomunista de Barros é a ausência de comunistas na disputa municipal. A derrota nas eleições de 2018 enfraqueceu as candidaturas dos partidos de esquerda. O PT, por exemplo, que em Londrina já teve nomes de destaque como André Vargas e Paulo Bernardo, cogita lançar Odarlone Orente, que na disputa pela prefeitura em 2016 obteve apenas 4,6 mil votos.
Boca Aberta (PROS), também deputado federal, é outro pré-candidato que representa um dos arquétipos da fauna política. Às favas com o academicismo, chamemo-lo de populista raiz, um tipo de populismo de retórica mais alegre e com mais presença na história do Brasil que esse populismo turrão que importamos recentemente da direita europeia. É, em essência, o tradicional vereador assistencialista, com tons de Odorico Paraguaçu e Professor Galdino.
Ele toca seu mandato de deputado como se fosse um vereador federal. Em Londrina, dá incertas em postos de saúde para fiscalizar o horário de trabalho dos médicos, circula com o “busão odontológico” oferecendo consultas com dentistas a pessoas carentes e provoca os adversários políticos dizendo que não conhecem a realidade da população pobre. Depois de ter trabalhado como motorista de Antônio Belinati, o parlamentar agora sustenta seu discurso nas críticas à política tradicional.
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Enquanto Boca Aberta e Filipe Barros centram fogo na “velha política”, Marcelo Belinati, atual prefeito e herdeiro do clã Belinati, tenta desviar dos ataques e tem o desafio de, representando a oligarquia local, obter sucesso em momento político em que as lideranças tradicionais estão desacreditadas. Em 2018, muitos candidatos de perfil semelhante ficaram pelo caminho: Romero Jucá, Roberto Requião, Beto Richa, Eduardo Suplicy, Sarney Filho e Eunício Oliveira são alguns dos exemplos.
O último perfil que estará representado na eleição local é o do empresário bem-sucedido, cujo expoente nacional é João Doria, governador de São Paulo. Em Londrina, ainda não há nome certo para esse posto, mas entre os cotados estão o ex-prefeito Alexandre Kireeff e algum candidato que será apresentado pelo Partido Novo.
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