O blindado Terminator é uma das armas de ponta que a Rússia ainda não teria utilizado na invasão à Ucrânia| Foto: EFE/EPA/ILIYA PITALEV/HOST PHOTO

Um ataque russo a um depósito de munições no oeste da Ucrânia pode ser um divisor de águas na guerra. Isso porque, pela primeira vez, a Rússia disse ter utilizado em batalha a sua arma mais moderna: o míssil hipersônico. Para se ter ideia, os Estados Unidos ainda não possuem essa tecnologia e a China ainda está concluindo os testes de voo.

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A Rússia testou o míssil Kinzhal (adaga) em 2018, mas até então, ele não havia sido disparado contra um inimigo real - ao menos não oficialmente. Quando a China fez testes de armamento similar no ano passado, autoridades americanas classificaram o evento como “momento Sputnik”, referindo-se ao primeiro satélite a orbitar a Terra em 1957, o que apontou que os americanos começavam a ficar para trás na corrida espacial contra os soviéticos.

O Kinzhal foi lançado de um avião bombardeiro estratégico que sobrevoava o Mar Negro. Voando a aproximadamente 12 mil quilômetros por hora (dez vezes a velocidade do som), atingiu um depósito subterrâneo de armamentos em Deliatyn, no oeste da Ucrânia, segundo a TV Al Jazeera.

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Essa arma é revolucionária não por sua velocidade, pois os mísseis intercontinentais (ICBMs) atingem velocidades de até 30 mil quilômetros por hora. Mas sim porque consegue manobrar como se fosse um avião hipersônico e assim evitar defesas antiaéreas. Ou seja, não há nenhuma forma conhecida de se defender dessa arma.

Exceto pelas ações cibernéticas de paralisação de websites do governo ucraniano, a guerra que vinha se desdobrando na Ucrânia era muito similar aos conflitos de alta intensidade do século XX - com batalhas envolvendo blindados da era soviética modernizados, artilharia de foguetes por saturação e operações de aviação de combate.

Também estavam presentes elementos que marcaram as campanhas de contrainsurgência do início do século XXI. Um exemplo é o uso dos drones de combate, aviões não tripulados capazes de bombardear blindados e tropas em terra.

Mas os armamentos de vanguarda da indústria bélica ainda não tinham entrado em ação. Para se ter ideia, aviões de caça russos de última geração não estavam usando mísseis inteligentes, mas efetuando ações de bombardeio comparáveis às da Segunda Guerra - quando a aeronave tem que sobrevoar um alvo para despejar grande quantidade de bombas não teleguiadas. Por quê? Porque os mísseis inteligentes são infinitamente mais caros.

A Ucrânia desde o início encarou o conflito como uma “guerra absoluta”, termo criado pelo estrategista prussiano Carl von Clausewitz (1780-1831). Em linhas gerais, esse é um embate no qual o país usa todos os seus recursos e toda a sua população na campanha militar com o objetivo de não ser desarmado - ou, no caso, para não ser varrido do mapa pelo inimigo.

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Já a Rússia tratava o confronto como um conflito de elevada importância estratégica para a segurança nacional, mas não como uma guerra absoluta.

Ainda não está claro se Moscou começa a usar o confronto para testar seus novos armamentos em situação real de batalha ou se estamos diante de uma possível escalada na intensidade da guerra.

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Embora a Ucrânia tenha sido muito eficiente até agora em retardar a invasão, as forças russas estão longe de ter sua capacidade militar exaurida. Estima-se que Moscou ainda tenha em perfeitas condições operacionais cerca de 90% das forças que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro, segundo autoridades militares americanos disseram à BBC na sexta-feira (18).

Essa tendência se confirmaria mesmo que levássemos em conta as estimativas mais otimistas do governo ucraniano sobre baixas no adversário. De acordo com o governo em Kiev, mais de 14,2 mil militares russos morreram na campanha. Isso representa menos de 10% do contingente de aproximadamente 150 mil militares que a inteligência ocidental estimou que se concentrou nas fronteiras do país antes da invasão.

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Uma das hipóteses levantadas por analistas é que o presidente Vladimir Putin esteja reservando a nata de suas forças para um cenário - menos provável - de confronto direto com as tropas da Otan (aliança militar ocidental). A aliança tem uma Força de Resposta de cerca de 40 mil combatentes de sobreaviso na fronteira e está reforçando suas fileiras. Só na Polônia, o número de combatentes da Otan foi dobrado para 9 mil recentemente.

Mas essa é apenas uma suposição baseada no cenário geopolítico, econômico e nas escassas imagens e informações que chegam do campo de batalha.

Em outras palavras, Moscou teria usado até agora seus recursos militares “menos caros” para tentar resolver a guerra na Ucrânia, apostando no poder de dissuasão das armas nucleares para evitar uma escalada do conflito com forças do Ocidente.

Outra arma disruptiva que foi levada para o campo de batalha (mas pelo que se sabe ainda não entrou em ação) é o blindado de apoio a tanques de batalha russo Terminator - projetado especificamente para combate urbano.

Os interessados em cinema já devem ter visto filmes da Segunda Guerra, como “O resgate do soldado Ryan”, que mostra em uma de suas cenas finais a dificuldade dos blindados para lutar em cenários urbanos. O canhão do “tanque” tem dificuldade para se elevar o bastante para atingir combatentes escondidos nos andares mais altos dos prédios.

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O Terminator não tem essa dificuldade. Ele possui um canhão antipessoal de 30mm capaz de se elevar 45 graus, para atingir combatentes em lajes de edifícios ou também posicionados muito perto do blindado, em posições mais baixas.

Ele também possui quatro lançadores de mísseis que podem ser usados para destruir outros blindados ou disparar as chamadas bombas termobáricas - que “incendeiam” o ar e geram uma longa onda de explosão extremamente letal para a infantaria e milícias inimigas.

O blindado ainda possui metralhadoras e lançadores de granadas. Ele é menos vulnerável aos mísseis antitanque americanos que têm sido usados para abater tanques T-72 e T-64 na campanha até agora. Isso porque os Terminators têm sistemas de defesa contra armas guiadas por raios infravermelhos. Assim, esses blindados poderiam ser usados, por exemplo, na possível Batalha de Kiev, a cidade mais bem defendida da Ucrânia.

O que se sabe sobre equipamentos russos usados no campo de batalha pode ser confirmado apenas pelas imagens de veículos destruídos captadas pela mídia. Até agora não há imagens verificadas de Terminators destruídos, mas não é possível saber se estão sendo utilizados ou não.

Outra tecnologia que acredita-se que a Rússia possua são os chamados drones kamikazes. Ou seja, pequenos drones carregados de explosivos que se chocam contra as forças inimigas. Em uma primeira análise, poderíamos concluir que esse drone não seria muito diferente de um míssil, exceto pela menor velocidade e maior capacidade de manobra.

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Mas drones kamikazes, em tese, podem ser empregados no formato de enxame, com centenas atacando ao mesmo tempo - como uma espécie de campo minado voador. Estima-se que a China esteja mais avançada nesse tipo de tecnologia, mas que a Rússia também a possua. Não há evidências concretas, porém, de que esse tipo de armamento já tenha sido utilizado dessa forma em batalha.

Nos últimos dias da guerra, o avanço das tropas russas parecia estagnado, segundo a inteligência britânica. Isso num momento em que a Otan acelera a entrada de armas de defesa no país.

Só o desenvolvimento das batalhas na Ucrânia nos próximos dias poderá dizer se realmente estamos diante de uma escalada na intensidade da guerra.