O ministro Haddad, segundo acaba de anunciar a Gazeta do Povo, está correndo atrás de mais 100 bilhões de reais, até o fim do ano, para fechar as contas de 2022; quer tirar esse dinheirão, é claro, do bolso do pagador de impostos. O governo, nos níveis federal, estadual e municipal, já arrecadou quase 2 trilhões de reais em imposto nestes primeiros sete meses do ano. Mas eles estão achando pouco. Dizem, todo o santo dia, que estão sem dinheiro para comprar um rolo de esparadrapo; Lula, pela centésima vez, vem com a história de taxar “os ricos”, e a tesoura do Ministério da Fazenda já começou a cortar verbas para cá e para lá. Pergunta: não foi aprovado o bendito “arcabouço fiscal” do governo, que encheu a paciência de todo o mundo durante meses a fio e ia resolver tudo? Foi, mas pelo jeito não adiantou. O fato é que vem aí uma conta de 100 bi. Como sempre, vão dizer que o dinheiro vai sair das “empresas”, ou coisa parecida. Tapeação. As “empresas”, ou as coisas parecidas, vão buscar no seu bolso cada tostão do imposto que pagaram. O que poderiam fazer de diferente? Ir à falência?
Não passa pela cabeça de ninguém – e é melhor que não passe mesmo, para a coisa não acabar em inquérito policial por “atos antidemocráticos” – que a única solução para não se arrancar ainda mais dinheiro do bolso das pessoas é cortar as despesas do governo. Se precisam de 100 bilhões, porque não tiram os 100 bilhões dos seus gastos deste ano? Porque não, se o presidente da República gasta sabe lá Deus que fortunas viajando pelo mundo? Isso nunca. É “fiscalismo de direita”. É crime de neoliberalismo. É fascismo, bolsonarismo e programa anti-povo. É “golpe”. O governo faz o contrário, é claro. Diz que quer proteger “o povo”, e por conta disso gasta o que bem entende. E para pagar a fatura? Nenhum problema. É só socar imposto no lombo do mesmíssimo povo. Gastou 10, ou 100, ou 1.000? Então vamos buscar os 10, ou 100 ou 1.000 no bolso do brasileiro. O tamanho do imposto não é definido pela capacidade que a população tem para pagar o que o fisco lhe cobra. É definido pela despesa que o governo faz.
Se precisam de 100 bilhões, porque não tiram os 100 bilhões dos seus gastos deste ano?
O farol que ilumina este tipo de moral pública, mais uma vez, é o STF. Os ministros acabam de aumentar as despesas anuais do tribunal para quase 1 bilhão de reais em 2024, incluindo aí, é claro, os seus próprios salários – a folha de pagamento total, aliás, engole 600 milhões de reais da verba. O cidadão poderia pensar: 1 bilhão por ano? Isso é uma gotinha d’água no oceano, para um Estado que já enfiou no cofre aqueles quase 2 trilhões citados acima. O problema, obviamente, não está na aritmética. O veneno, neste caso, é o descaso já automático com que a máquina estatal trata o interesse público quando se trata de cuidar do próprio salário e das despesas do seu pedaço. Aumenta aqui, aumenta ali, aumenta geral – se está todo o mundo mandando ver, então porque a gente não faz a mesma coisa? O raciocínio mais correto, é claro, jamais é feito: os ministros do STF, que hoje ganham R$ 41.600 por mês, precisam ganhar mais que isso? Alguém está passando fome, ou qualquer tipo de dificuldade material, com um salário desses, mais a cordilheira de mordomias que vem junto? É óbvio que não, principalmente num momento em que o governo está matando cachorro a grito - ou diz que está. Mas e daí? A partir de fevereiro de 2024 suas Excelências vão estar recebendo R$ 44.000 por mês do Tesouro Nacional. É como o movimento de rotação da Terra. Não para nunca – e, na grande soma final, dá nisso que está aí.
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