Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), diz que receberá Lula em seu gabinete, para dar “ar institucional” ao encontro.| Foto: Lula Marques

O deputado Rodrigo Maia anunciou que vai se encontrar, a convite do PT, com o ex-presidente Lula para propósitos de altíssima engenharia política, como se chama esse tipo de conversinha, e com olhos voltados unicamente para os superiores interesses da nação brasileira. De acordo com o próprio Maia, a reunião vai ser feita no seu “gabinete de presidente da Câmara dos Deputados” para dar um ar “institucional” à história – como se alguém neste país achasse que o gabinete do presidente da Câmara, por seu caráter sagrado, fosse capaz de tornar séria alguma coisa feita ali dentro.

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Ele explicou, também, que tem uma espécie de dever cívico de receber Lula, pois se trata de um “ex-presidente da República” – um cidadão condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em três instâncias sucessivas da justiça, mas ex-presidente assim mesmo.

Pura conversa. Rodrigo Maia está recebendo Lula simplesmente porque é a favor do esforço desesperado e cada vez mais agressivo para manter vivo o Brasil da corrupção – esse Brasil subdesenvolvido que está aí, venal e acorrentado por uma máquina pública que foi privatizada há séculos em benefício de parasitas, saqueadores do Erário e gente que não produz nada.

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Falaram, a respeito da reunião de cúpula entre os dois, que Maia estaria se arrumando para ser o vice de Lula numa futura eleição. Ele seria, por sinal, uma “peça chave” para apagar a ficha suja de Lula e fazer dele um candidato elegível mais uma vez, em cooperação estreita com a facção pró-crime do STF e outros grandes vultos da nossa política – como os estadistas do Centrão, os donos da montanha de dinheiro do fundo partidário e outras gangues políticas que mandam no Congresso.

Mas não é nada disso. A aliança real de todos eles se destina a juntar esforços para ficar do lado de fora do xadrez, agora – e depois, se for possível, voltar ao paraíso da ladroagem que chegou ao seu estado de arte durante os governos de Lula e de sua sucessora. O resto, se houver resto, é lucro.

O presidente da Câmara, obviamente, assegura que pensa dia e noite nos melhores interesses do Brasil, e em nada mais. É claro: quem, em qualquer lugar do mundo, se declara a favor da corrupção? Mas no Brasil de hoje os verdadeiros generais na guerra pela manutenção do Estado como propriedade privada de grupos falam por sinais. O código que desvenda sua linguagem é a utilização das palavras “mas”, “não assim” e “desde que”.

Funciona desse jeito: “Eu sou totalmente contra a corrupção, mas não assim como estão fazendo. Sou totalmente a favor da Lava Jato, mas não dos juízes e procuradores que trabalham nela. Sou totalmente contra o assalto ao Tesouro Nacional, desde que não haja essa caça às bruxas que põe na cadeia grandes empreiteiros de obras, empresários campeões nacionais, políticos eleitos, ex-presidentes da República. Sou totalmente a favor do combate ao crime, desde que essa obsessão pela ordem não atrapalhe o progresso”.

Rodrigo Maia, e mais 1.001 colossos da nossa vida pública, nos quais se incluem todos os “liberais”, “elites civilizadas”, “opositores do extremismo”, etc, condenam a roubalheira – mas são contra o que chamam de “viés autoritário” do combate aos ladrões. Sabem como é? Não podemos “criminalizar” o crime, “demonizar” os demônios, ter uma “visão punitiva” do problema.

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Acima de tudo, temos de considerar supremos, em seus detalhes mais insensatos, os direitos legais dos criminosos. E arriscar nossas vidas, se for preciso, na resistência a essas tentativas de minar com “robôs” na internet e manifestações pacíficas nas ruas “a democracia, as instituições e o Estado de Direito”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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