João Doria renunciou ao governo de São Paulo e manteve candidatura a presidente após ameaçar desistir.| Foto: Pablo Jacob/Governo de SP
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Mais uma vez o público pagante se vê diante de uma das tapeações preferidas da política brasileira: o candidato que desiste de algo que nunca teve – e, em casos de exagero, como o último da série, volta atrás logo depois e desiste da desistência. O cidadão descobre, aí, quanto tempo perdeu acompanhando o noticiário político e essas mesas redondas com professores da USP que vão ao ar depois do horário nobre.

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Foi informado, durante meses, que estava diante de uma disputa entre forças com chances reais de fazerem alguma coisa na eleição presidencial de outubro; vê, agora, que só consumiu fumaça durante esse tempo todo. É o caso de uma das mais badaladas candidaturas inexistentes da atual política brasileira – a do governador João Doria, de São Paulo.

Doria só existe na política brasileira porque grudou, de corpo e alma, na candidatura de Jair Bolsonaro nas eleições de 2018. Era, então, o “Bolsodoria”, o bolsonarista número 1 do Brasil – e unicamente por conta disso foi eleito, raspando, para governador de São Paulo.

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Achou, então, que a força era dele, não do padrinho, e já se colocou como presidente da República em 2022; para isso, rompeu com Bolsonaro, a quem devia a sua eleição, e saiu se apresentando como o futuro presidente do Brasil, na qualidade de grande nome da oposição de “centro”.

Morreu nesse momento, exatamente, e nunca mais conseguiu ressuscitar como um candidato de verdade. A campanha de Doria, já a partir do primeiro dia, foi tão falsa quanto uma garrafa de uísque paraguaio. No fim, ele acabou com o que tinha no começo: nada.

Desde o começo dessa história, na verdade, quem olha para a política brasileira com um mínimo de realismo tem dito e repetido que só há dois candidatos de verdade nas eleições de 2022: o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula. Inventaram, porém, uma “terceira via” – nem um nem outro, mas um nome de “equilíbrio”, “civilizado”, de preferência da modalidade “limpinho-esquerdoso”, essa que é admirada pelos banqueiros progressistas e pelos empresários com preocupações sociais.

É claro que não deu, não está dando e nem vai dar em nada de útil – não fazendo nenhuma diferença se Doria desiste ou não. Para se ter uma ideia do tamanho dessa bobagem: durante um tempo debateu-se na mídia, à sério, a candidatura do apresentador de televisão Luciano Huck como grande nome da terceira via. Pode? Aliás, fizeram pior que isso. À certa altura chegaram a considerar, acredite se quiser, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ou, pior ainda, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia. É coisa de comédia.

O lamentável desempenho da campanha de Doria, que até agora não conseguiu mais do que 1% das intenções de voto, aparentemente não ensinou nada – continuam a falar na “terceira via”, como se uma coisa dessas fosse possível. O nome mais comentado, ainda, é o do ex-juiz Sergio Moro, que não consegue reunir púbico nem para palestras a portas fechadas, não somou apoio político nenhum desde que lançou a sua candidatura e agora mudou de partido e disse que não é mais candidato "neste momento". Fala-se, agora, desse ex-governador Eduardo Leite. É um bom candidato para aparecer muito na imprensa e ficar em terceiro.

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Naturalmente, depois da batalha perdida, aparecem os generais com as mais detalhadas explicações sobre a derrota. Doria, por exemplo, teria se enterrado porque não entendeu nada do que estava acontecendo a seu redor: imaginou que ia tornar-se muito popular em todo o Brasil com a sua máscara preta “fashion” e o seu comitê de cientistas da Covid, dizendo “fique em casa”, mandando a polícia proibir as pessoas de trabalhar e fazendo umas dancinhas incompreensíveis.

Foi uma calamidade com perda total, claro, e lhe rendeu aquele sinistro 1%, mas a questão não é a campanha morre-não-morre de Doria. A questão é que o Brasil rachou em dois campos em 2018, e a partir daí ficou cada vez mais rachado. Um campo é de Bolsonaro. O outro é de Lula. Fim de conversa. A escolha real, e única, sempre foi essa aí.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]