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Leonardo Coutinho

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Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Sucessão no Irã

A morte do Açougueiro de Teerã

Muçulmano xiita acende vela diante de foto de Ebrahim Raisi em Peshawar, no Paquistão. (Foto: EFE/EPA/Bilawal Arbab)

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Ebrahim Raisi era, entre os aiatolás iranianos, um dos mais cruéis. Antes de ganhar fama mundial quando foi eleito presidente do Irã, em 2021, Raisi era muito bem conhecido por milhares de famílias que perderam entes queridos por ordem sua. Foi na condição de promotor que ele construiu a fama de açougueiro, pela facilidade com que pedia a pena de morte para mulheres que não usavam véu ou não se comportavam segundo o recato do regime. Além disso, ele também mandou para a morte milhares de dissidentes ou quem simplesmente precisava desaparecer sob um rótulo qualquer, quando esteve à frente das “Comissões da Morte”. Estima-se que mais de 5 mil iranianos foram executados sob suas ordens.

Enquanto os membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas faziam um minuto de silêncio em memória, e governos de todos os cantos enviavam notas de condolências, em várias partes do Irã o povo celebrava. Há registro de fogos, de distribuição de doces e até danças nas ruas. Uma alegria tão grande que foi capaz de aplacar o medo da prisão. Para muita gente que celebrou a morte do “Açougueiro de Teerã”, o helicóptero que se espatifou em uma montanha em meio à neblina colocou fim a uma carreira de crueldade que, para muitos, seria coroada com a sucessão do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.

A euforia de muita gente dentro e fora do Irã pela morte do líder sanguinário não resultará em um Irã melhor. A quebra na linha sucessória de Khamenei pode vir a resultar, muito em breve, em um Irã ainda mais radical, violento e ameaçador da estabilidade global. Raisi era péssimo. Mas ajudou a formar gente pior que ele.

A questão que emerge de sua morte é a seguinte. Raisi era brutal, mas sua selvageria tinha ligações e submissão às origens da Revolução Iraniana. Ele, por sinal, fazia parte da primeira geração que tomou o poder, por meio de um golpe de Estado, e instalou uma teocracia no Irã.

Vários especialistas descreviam que Raisi se encaixava como uma luva nos planos de Khamenei, pois ele era fiel ao modelo de condução do atual líder supremo. Esperava-se que um regime sob o manto de Raisi seria uma continuidade do modelo de Khamenei – o que, por sinal, é bem ruim.

Mas, sem Raisi, tudo tende a piorar. Caso Khamenei busque um sucessor na segunda geração da revolução, ou caso ele faleça e o Conselho de Sábios escolha um jovem radical, o Irã deverá ficar ainda mais raivoso.

Tal como acontece com o crime organizado, quando os jovens sucessores – nascidos, criados e treinados sob a cultura da violência – chegam ao poder, há uma tendência de agravamento dos métodos. Nas organizações terroristas não é diferente. Muito menos em um regime que caminha para meio século de domínio.

Um Irã mais raivoso terá mais perseguição interna, mais animosidade ao Ocidente e um agravamento do seu papel como elemento desestabilizador. O Irã é especialista em exportar o caos. Além de financiar o terrorismo e guerras como as tocadas pelo houthis no Iêmen, a guerra civil na Síria e o terror do Hamas na Palestina, ainda colabora de maneira decisiva para manter de pé regimes como o de Nicolás Maduro, na Venezuela.

Um Irã mais raivoso terá, inevitavelmente, um aceleramento da questão nuclear. Um aiatolá atômico não só redesenharia o equilíbrio de forças na região. O mundo realmente se tornaria muito mais perigoso.

Com 85 anos, Khamenei tem uma corrida contra o tempo. Em menos de dois meses terá de realizar mais um simulacro de eleição para apontar o novo presidente. Seu regime está acostumado a amansar com porrete qualquer movimento de contestação. Há chances de que ocorra, pois os iranianos estão cada vez mais esgotados diante da repressão do regime.

A escolha do novo presidente ajudará a entender os próximos movimentos da sucessão de Khamenei e o que ele planejará para o país no crepúsculo de sua vida e domínio. Uma coisa é certa: enquanto o regime perdurar, não há nada a comemorar. Não há motivo algum para esperar que dele brote algo que concorra para estabilidade e paz.

O Açougueiro de Teerã se foi. Mas não faltam outros para aprimorar sua obra de maldade e destruição.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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