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O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição no pleito do próximo domingo (2)
O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição no pleito do próximo domingo (2)| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Qualquer um que acompanha o mínimo sobre a política brasileira no exterior já leu ou já ouviu afirmações de que, se derrotado, o presidente Jair Bolsonaro não entregará o poder. Há meses, por sinal, a conjunção subordinativa condicional “se” nem aparece mais nas afirmações cada vez mais comuns e nos mais diversos idiomas. O que era uma dúvida virou uma certeza. Bolsonaro vai perder a eleição e dará um golpe. De Washington a Pequim, o clima é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já ganhou. Mas há uma pergunta necessária que até agora ninguém fez para Lula e as instituições brasileiras: e se Bolsonaro vencer a eleição?

Os institutos de pesquisa, os analistas de vários dos principais meios de comunicação, os relatórios dos bancos sustentam que a questão acima não é necessária. Afinal, a eleição deste domingo é apenas uma formalidade. “Lula já ganhou”.

Mas volto à pergunta: E se Bolsonaro vencer a eleição?

Lula, os partidos que lhe dão sustentação, os movimentos de esquerda, as instituições (entre as quais é preciso ressaltar o Supremo Tribunal Federal e suas linhas auxiliares no Tribunal de Contas da União e Congresso) e a imprensa estarão dispostos a aceitar o resultado?

Essa é uma pergunta necessária, mas que vem sendo negligenciada. Por mais incômodo e improvável que possa parecer para muitos, Bolsonaro pode vencer a eleição. Caso o improvável aconteça, como o resultado das urnas será encarado?

A eleição de Bolsonaro em 2018 não só surpreendeu, como chocou, quem apostou na infalibilidade das sondagens. Problema também registrado nos Estados Unidos, em 2016, quando Donald Trump venceu uma eleição que era considerada “garantida” para a sua opositora, a democrata Hillary Clinton.

Não se trata de duvidar dos institutos que tentam prever os resultados com base em entrevistas e métodos estatísticos. Mas não é nada razoável tratar como dogma o que pretende ser visto com ciência. A dúvida, nesses casos, é mais do que necessária. É virtude.

O clima de “já ganhou” nos corredores de Washington, D.C. (lembre-se de que estou falando de Lula, obviamente), é tão generalizado que não se discute ou negocia mais nada sem considerar que o próximo presidente do Brasil será o petista.

A recente eleição para a diretoria da Organização Panamericana de Saúde (Opas) talvez seja o melhor exemplo. O brasileiro Jarbas Barbosa foi eleito com o apoio dos bolivarianos. Ex-membro da direção nacional do PT, foi carreado até a direção da Opas pelos padrinhos petistas. Além do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que endossou a candidatura e determinou que se movesse céus e terra para angariar os votos necessários, o petista teve o apoio irrestrito do colombiano Gustavo Petro, que retirou o apoio ao candidato de seu país e orientou sua diplomacia a trabalhar pelo PT; e do mexicano Andrés Manuel López Obrador, que fez o mesmo em favor de Barbosa.

Sem falar, é claro, do apoio e voto de Cuba, que tem na Opas uma espécie de sucursal de seus interesses em Washington.

Não é diferente na indústria do lobby. Em entrevista ao jornal Valor, o lobista Thomas Shannon, que já teve em sua carteira o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o de El Salvador, Nayib Bukele, não esconde a torcida por Lula. Para Shannon, que foi embaixador dos Estados Unidos e ocupou temporariamente a função de secretário de Estado, há uma expectativa pela volta de Lula. Segundo ele, o “Lula é bem conhecido pelo governo dos EUA, tanto por republicanos quanto por democratas. Os EUA tiveram uma relação muito produtiva [com o Brasil] durante sua presidência”.

Muita gente pensa assim. Assim como muitos pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires.

A democracia brasileira está definitivamente sob teste. E uma das questões é: e se Bolsonaro vencer? Nesse cenário absurdo para muitos, a vontade da maioria vai desagradar pesos-pesados de Brasília. Estariam eles dispostos a se sujeitar ao resultado? Ou, para “salvar a democracia”, vale matá-la e depois esperar que ela ressuscite?

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