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O presidente do Irã, Ebrahim Raisi (à esquerda), e o chefe da agência atômica do país, Mohammad Eslami, em visita à usina nuclear de Bushehr no fim de 2023.
O presidente do Irã, Ebrahim Raisi (à esquerda), e o chefe da agência atômica do país, Mohammad Eslami, em visita à usina nuclear de Bushehr no fim de 2023.| Foto: Iranian presidency

A teocracia que domina o Irã desde 1979 tem um objetivo. Acabar com o mundo, literalmente. Enquanto isso não é possível, redesenhá-lo, segundo os seus desígnios, é o que tentam os aiatolás. São desejos megalomaníacos que têm como fundamento o radicalismo religioso – que se apega às profecias escatológicas – e ao sectarismo político que faz parte da fundação do regime iraniano.

Não há outro caminho para o Irã alcançar seus objetivos sem um arsenal nuclear.

A questão não é mais se o Irã terá ou não uma bomba atômica, mas quando. Minha aposta é que os iranianos já desenvolveram o aparato. O problema é testá-lo. Isso colocará o Irã em rota de colisão com o Ocidente. Segundo os cálculos dos aiatolás, ainda não é a hora. Ainda.

O Irã ainda não testou sua bomba atômica, mas está testando a geopolítica. Sabe que tem o apoio incondicional de China e Rússia. Além das duas potências nucleares, vem a reboque a patota do Sul Global, da qual faz parte o Brasil.

A questão não é mais se o Irã terá ou não uma bomba atômica, mas quando. Minha aposta é que os iranianos já desenvolveram o aparato. O problema é testá-lo

Antes de botar sua bomba para funcionar, o Irã está reunindo aprendizados. Viu a reação frouxa do mundo à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. Aprendeu que os extremos da direita e esquerda se encontram no mesmo tipo de visão de mundo, em vários aspectos. Um deles é sobre Vladimir Putin, Rússia e a invasão. Do PCO brasileiro, passando pelos bolsonaristas mais aguerridos, chegando ao coração do trumpismo, Putin é a vítima. Aliás, mais do que isso. Um conservador, antiglobalista que está sob ataque dos democratas e seu lobby armamentista. Sem falar de sua resistência legítima contra o expansionismo da Otan.

Como não falar das lições vindas de Gaza e dos terroristas do Hamas? Imagine a empolgação em ver ondas de jovens marchando pelas ruas dos Estados Unidos e Europa em solidariedade aos terroristas?

Nos últimos meses, o Irã abandonou a tática da dissimulação e vem se revelando cada vez mais como um elemento desestabilizador. Seu papel no Iêmen e consequente ação disruptiva no comércio global não seriam tão visíveis no passado recente.

O Irã aprendeu que o mundo está muito tolerante ou menos competente em reagir às agressões provenientes de Estados e regimes criminalizados ou apocalípticos como os de Teerã. Não faltam exemplos de apatia.

Recentemente, o Irã conseguiu ser premiado. Recebeu dos Estados Unidos US$ 6 bilhões que estavam bloqueados. Embora a administração Biden não reconheça, o dinheiro foi liberado para pagar o “resgate” de americanos sequestrados pelo regime iraniano.

Com esse dinheiro, o Irã investirá na destruição do Ocidente e, obviamente, dos Estados Unidos.

O Irã está muito perto de apresentar ao mundo a sua bomba. E conseguiu isso em tempo recorde, considerando os contratempos de sua história nuclear.

Nos anos 1970, o país iniciou a construção de sua primeira usina nuclear. Mas em 1979, as obras foram paralisadas em consequência do golpe de Estado liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Nos anos seguintes, entre 1980 e 1988, as instalações da usina foram alvo de inúmeros ataques ocorridos nos transcorrer da guerra com o Iraque.

O Irã está muito perto de apresentar ao mundo a sua bomba. E conseguiu isso em tempo recorde, considerando os contratempos de sua história nuclear

Firmada a paz com os vizinhos, os iranianos voltaram a investir no sonho de ter uma fonte de energia nuclear. Em 1992, os iranianos entregaram a missão para a Rússia. Os engenheiros da estatal Rosatom bateram a cabeça por quase duas décadas sem conseguir fazer funcionar a usina, cujo projeto e tecnologias são originalmente dos alemães da Siemens.

Em 2007, entretanto, os ventos mudaram a favor do Irã e cinco anos depois a usina entrou finalmente em operação. O que aconteceu?

O então presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad apareceu em Caracas, sentou-se com Hugo Chávez e pediu, em nome da revolução, ajuda para conseguir acesso a um conjunto de informações técnicas que permitiriam concluir a usina nuclear. Chávez, obviamente, respondeu “sim”, mas perguntou como faria isso. Ahmadinejad disse que os argentinos, então governados por Néstor Kirchner, eram os detentores dos segredos.

A usina iraniana que estava empacada nas mãos dos russos tinha uma “irmã gêmea”, em pleno funcionamento em solo argentino. Bastava Chávez convencer os argentinos a compartilhar as informações e tudo estaria resolvido. Ahmadinejad fez questão de ressaltar que cobriria todas as despesas da operação.

Ninguém sabe o que se passou depois daquilo. O fato é que apenas quatro anos depois do pedido a usina iraniana já estava em testes.

Mas por que uma usina, uma simples usina nuclear é tão importante para os planos militares de Teerã? Por causa do seu lixo atômico. O plutônio produzido como rejeito é insumo para arma. A arma que o regime persegue para remodelar o mundo ou, quem sabe, extingui-lo.

Essa hipótese do fim do mundo não é fruto de uma visão fatalista deste autor. O apocalipse é algo desejado por muita gente, em diversas religiões. Entre os muçulmanos sunitas do Estado Islâmico, o juízo final era o objetivo a ser alcançado depois de toda aquela barbárie e terror que eles empreenderam muito recentemente.

Para os xiitas, que são a maioria no Irã, o paraíso está próximo. Muito próximo. E eles não veem problema em dar um empurrãozinho na roda do tempo para alcançá-lo. Eles acreditam que os últimos dias estão por vir. E os sinais das profecias escatológicas que descrevem o processo coincidem com ações do Irã na Síria, na Palestina e no Iêmen. Uma loucura que parece não ter fim, ser real e muito perigosa.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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