• Carregando...
Lula
Ex-presidente Lula reaveu os direitos políticos graças a uma decisão individual do ministro Edson Fachin, do STF.| Foto: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas

A imagem de "Lula Skywalker" foi publicada em uma das redes sociais de um familiar do líder do PCC – o Marcola, que cumpre pena no presídio Federal de Brasília. Ela foi postada no dia em que o ministro Edson Fachin anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva devolvendo a ele não só a elegibilidade, mas o benefício da presunção de inocência. A idealização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aparece mimetizado com o herói da série que arrasta milhões de fãs desde quando foi lançada, em 1977, é, de longe a mais lúdica entre todas as manifestações de apreço ao PT por parte de membros do PCC e seus agregados.

Antes que alguém grite “é difamação!”, aqui vai um pouco de história para mostrar como o Lula Jedi é realmente o ápice da fofura do PCC. No dia 7 de março de 2002, o Primeiro Comando da Capital abandonou automóvel carregado com 40 quilos de explosivos em frente ao Fórum da Barra Funda, o maior da capital paulista. O PCC queria literalmente tocar o terror na cidade de São Paulo em um ano eleitoral. Só não deu certo porque o motorista esqueceu o farol do carro ligado, o que provocou o descarregamento da bateria e consequentemente a falha do detonador. Meses depois, a polícia gravou Maria de Carvalho Felício, a “Petronília”, então mulher de José Márcio Felício, o fundador do PCC, passando o seguinte recado: “Não, não. Ele quer festa até a eleição. E é pra eleger o Genoíno”. Festa, na linguagem dos bandidos, queria dizer ataques, ou como os atos deveriam ser corretamente chamados: atentados terroristas.

Naquele mesmo 2002, apenas seis dias antes do segundo turno das eleições, Marcola mandou colocar o edifício da Bolsa de Valores de São Paulo no chão. O terrorismo do PCC tinha objetivos que iam além do pânico. Queria paralisar a economia brasileira criando o caminho para um redentor depois que 30 quilos de dinamite fossem detonados no coração financeiro do país. Mais uma vez, o atentado deu errado. Genuíno perdeu a disputa estadual, mas enfim, Lula chegou lá.

Por coincidência, o PCC voltou a fazer uso do terror em larga escala em outro ano eleitoral. Em 2006, ano em que Lula tentou a reeleição chamuscado pelo escândalo do Mensalão, por nove dias, a facção comandada por Marcola realizou 293 ataques que incluíram a explosão de delegacias de polícias e prédios públicos, dezenas de ônibus foram incendiados e mais de 500 pessoas foram assassinadas, colocando em xeque o Estado então comandado pelo pré-candidato que viria a enfrentar Lula apenas cinco meses depois.

Pôster com a imagem de Lula Jedi é ou não é uma fofura?

É importante ressaltar que o fato de o PCC ter sua opção política não significa que aqueles que são escolhidos por eles necessariamente estariam envolvidos com seus crimes. Aliás, fazer uma relação dessas seria uma vilania sem tamanho. Em política é assim, eleitores, empresas, grupos de interesse e até facções criminosas fazem escolhas, seja por afinidade, aversão ou pelo mais puro cálculo estratégico e financeiro.

A decisão de Fachin, que anulou as decisões da Lava-Jato em Curitiba, como bem relembrou um editorial do jornal O Estado de S.Paulo, “não entrou no mérito das condenações e, portanto, não considerou o chefão petista inocente de nada. O que o ministro Fachin fez foi entender que Sérgio Moro, então juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba, não era competente para julgar os casos envolvendo o ex-presidente, pois em tese esses casos não tinham vínculo direto com o escândalo da Petrobras – foco da Operação Lava Jato.”

Apesar de não significar que as provas são inválidas, que os depoimentos são nulos, ou que os crimes não ocorreram, a decisão de Fachin se deu em meio a um contexto minuciosamente construído para o petismo redimir seu herói e os inimigos da Lava-Jato implodirem a operação. Mas ao contrário dos carros-bomba dos brucutus do PCC, os engenheiros da trama souberam instalar os explosivos nos pontos certos e tiveram a paciência de apertar o detonador quando tudo estava milimetricamente preparado.

Em 2016, os advogados de Lula adotaram a tese de que o ex-presidente era vítima de lawfare – teoria segundo a qual a lei e a Justiça são usadas para perseguição política. Não demorou muito, eles lançaram um instituto para melhorar o argumento e em seguida empacotaram a ideia em livros e patrocinando projetos. Mas não foi apenas isso.

A defesa de Lula contou com a ajuda de um mecanismo, com engrenagens muito bem lubrificadas, que rodava em paralelo cooptando, recrutando, contratando quem quer que pudesse ajudar a fortalecer a tese de que ao contrário da corrupção combatida pela Lava Jato, foi a própria operação que quebrou o Brasil. Uma inversão de papéis que, de tão ridícula, só encontrou eco entre os já convertidos.

Em 2019, vieram os vazamentos de mensagens trocadas pelos membros da força-tarefa da Lava Jato. Os dados roubados, cuja integridade jamais poderá ser atestada, catalisaram as ações da defesa. A coleção de deslizes, que foram emergindo das revelações, serviram para fortalecer a ideia de que a Operação Lava Jato era uma espécie de tribunal de exceção que driblava a lei para aplicá-la ao seu modo.

O acervo de idiotices de Deltan Dellagnol adicionou mais TNT nas colunas da operação.

Quando a polêmica dos vazamentos parecia ter se arrefecido, Sérgio Moro que já havia sido esquartejado pelos críticos, que abandonou a magistratura para fazer parte do Governo de Jair Bolsonaro, cai na armadilha de prestar serviço para os algozes da Lava Jato. E como se não bastasse, o ex-juiz e ex-ministro aceitou emprego em uma empresa metida até o pescoço com clientes investigados pela Lava Jato e condenados por ele. Dupla estupidez que poderia ter sido evitada por meio de simples consultas no Google.

Ficou faltando apenas uma última coluna: o bolsonarismo.

Os advogados de Lula conseguiram no Supremo Tribunal Federal (STF) o acesso ao conteúdo das mensagens hackeadas. Mas em seguida avisaram que não as usariam – talvez pela mais clara compreensão de que se tratam de provas ilícitas. Mas, mesmo assim, seguiram extraindo as mensagens e vazando a seu gosto para imprensa. Atuando como “peritos” e “editores” da nova onda de vazamentos, colocando na rua o que corroborava para concluir a implosão.

Eis que surge o nome da família Bolsonaro. Mensagens, cuja autenticidade não pode ser verificada, incendiaram o Planalto. O presidente, que já amargava, o que no seu ponto de vista foi uma traição de Sérgio Moro, leu que procuradores possivelmente sabiam e não fizeram nada sobre o, veja só, lawfare contra o presidente e seus filhos. A base que já tinha virado as costas para Moro passou a ver a Lava Jato como uma grande decepção. Assim passou a não haver barreira alguma para implosão.

O mesmo STF que reconheceu a conexão probatória, decisões e julgou improcedentes recursos que justamente questionavam a jurisdição de Curitiba mudou de ideia. Mas o cenário era outro. A Lava Jato tinha apoio quase popular e na imprensa. Sem isso, tudo estava pronto para detonação. Lula, que já estava livre, se livrou de todas as condenações. Lula Skywalker não empolgou apenas os bandidões do PCC. Muitos oportunistas colarão nele como passaporte para seus projetos de poder. Mas há gente honesta que vê um herói, uma vítima, um estadista e até mesmo um Jedi.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]