• Carregando...
A resiliência de Bolsonaro e o negacionismo de esquerda
| Foto:

Nos últimos meses, a palavra “negacionismo” tem sido associada às pessoas que minimizam ou negam a gravidade da pandemia de Covid-19 no Brasil, apesar de já estarmos caminhando para 100.000 mortes. A negação é um mecanismo psicológico de defesa que todos empregamos em algum momento e em alguma medida na vida, como forma de escapar de uma realidade desconfortável ou de um sofrimento insuportável: foi o próprio Freud quem descreveu, em um texto de 1925, essa atitude inconsciente de fuga diante de fatos mais dolorosos do que somos capazes de aguentar. A percepção da fragilidade da vida imposta pelo coronavírus desperta esse mecanismo em muitas pessoas.

Mas outra forma de negacionismo já vinha sendo praticada diariamente pelo campo da esquerda desde muito antes do início da pandemia (para ser mais preciso, desde o dia 28/10/2018, data do segundo turno da eleição): a recusa a aceitar que Jair Bolsonaro é o presidente legitimamente eleito, escolhido livremente pela maioria dos eleitores (quase 58 milhões), sobretudo das camadas populares da sociedade (o que é ainda mais difícil de engolir). Como este é um fato doloroso demais para a esquerda, ela opta por negá-lo.

Dessa forma, se os negacionistas da Covid-19 minimizam a doença, os negacionistas da esquerda miMImizam toda e qualquer decisão do governo democraticamente eleito, mesmo aquelas que beneficiam a população mais carente. Passados 19 meses da posse de Bolsonaro, eles continuam apostando em uma narrativa esquizofrênica, segundo o qual vivemos em uma ditadura fascista comandada por um genocida, que está no poder contra a vontade de 70% dos brasileiros.

Para esse campo, predominantemente de classe média e entrincheirado no cercadinho ideológico da universidade e da grande mídia, a divulgação da última pesquisa encomendada pela revista “Veja” ao Instituto Paraná deveria ter sido um balde água fria: Bolsonaro apareceu em primeiro lugar em todos os cenários, contra todos os adversários, no primeiro e no segundo turno, jogando por terra a matemática do mantra negacionista “Somos 70%”.

Cenários de segundo turno da pesquisa do Instituto Paraná
Cenários de segundo turno da pesquisa do Instituto Paraná

A pesquisa do Instituto Paraná, já analisada em detalhes pela “Gazeta do Povo”, deveria disparar o alarme na oposição, pois alguma coisa de errado estão fazendo: se, com tantas falhas cometidas, tanta sabotagem, tanto espancamento na mídia, tanto STF e tanta torcida contra, Bolsonaro continua confortavelmente na frente na preferência do eleitorado, talvez fosse o caso de mudar de estratégia, não?

Mas o impulso negacionista é mais forte: se os fatos contrariam as convicções, danem-se os fatos. Vi gente desqualificando o instituto de pesquisa, vi gente espalhando fake news afirmando que a pesquisa era falsa: só não vi ninguém da oposição aceitar como verdade que Bolsonaro conserva uma imensa base de apoio popular, que faz dele, neste momento, mesmo em pleno contexto de pandemia e crise econômica, o favorito na eleição de 2022.

E assim a bolha (grande mídia, universidades, políticos de esquerda, intelectuais e artistas, classe média doutrinada, militantes profissionais) teima em aumentar o abismo entre o seu discurso e o Brasil real, agarrando-se desesperadamente a qualquer notícia que reforce suas convicções e sua visão neurótica do mundo.

E vale tudo nesse processo: a obsessão em abreviar o governo eleito já ultrapassou os limites da decência, a ponto de um jornalista ter escrito – e um grande jornal ter publicado, o que é mais grave – um artigo desejando a morte do presidente. (E ficou por isso mesmo; mas imaginem o escarcéu que a própria mídia faria se, nos governos do PT, um jornalista desejasse em público a morte de Lula ou Dilma. Pois é.)

Não foram poucos os negacionistas que, nas redes sociais, manifestaram abertamente o mesmo desejo imoral e doentio – da mesma forma que lamentaram, ainda durante a campanha, que Adélio tão tenha conseguido assassinar Bolsonaro a facadas. E é gente assim que que se julga portadora do monopólio da virtude e do direito de representar os pobres.

Trago más notícias para esses negacionistas. A primeira: Bolsonaro não foi eleito pelas elites: foram as camadas mais populares da sociedade que o elegeram, não os justiceiros sociais praticantes do “ódio do bem”. A segunda: o tempo está demonstrando que o bolsonarismo é um fenômeno sociológico de raízes profundas no inconsciente coletivo dos brasileiros – ao menos tão profundas quanto as do lulismo. Não será pela via da reiteração desesperada de slogans antifascistas que esse fenômeno será superado.

A oposição a Bolsonaro padece do mesmo mal que enfraqueceu a oposição aos governos do PT: fazer da negação a sua pauta principal, em vez de construir e apresentar a sua própria agenda. Da da mesma forma que o antilulismo somente reforçava a convicção dos lulistas, o antibolsonarismo só reforça a convicção dos apoiadores do presidente.

Se, ao longo de quatro eleições seguidas, nada foi capaz de dissuadir os eleitores convictos do PT – nem mesmo os escândalos de corrupção, do Mensalão ao Petrolão, que custaram bilhões de reais ao povo brasileiro – não se pode esperar que denúncias muito menos graves surtam algum efeito na base do eleitorado leal a Bolsonaro. Ao contrário: à medida que a má-fé e a apelação de muitas denúncias ficam evidentes, o efeito pode ser o contrário ao esperado: daí a resiliência de Bolsonaro sinalizada pela última pesquisa.

Terceira má notícia para os negacionistas: foi divulgado nesta semana que, por causa do auxílio emergencial, a pobreza extrema no Brasil foi reduzida ao menor patamar em mais de 40 anos. O que é natural: com quase metade da população recebendo a ajuda, a proporção de pessoas vivendo abaixo da linha de extrema pobreza diminuiu drasticamente. E já se fala em mais uma prorrogação do auxílio, ao mesmo tempo em que se arrematam os detalhes do novo programa de renda básica universal criado pelo governo, o Renda-Brasil.

(Por que isso é uma má notícia para a oposição? Porque o voto dos pobres é pragmático, não é ideológico. Com a consolidação de um programa de renda básica mais abrangente e eficaz que a Bolsa-Família, a esquerda perde o monopólio da capitalização eleitoral da pobreza.)

No segundo turno de 2018, Bolsonaro teve 57.797.847 votos (55,12%). Alguém acredita honestamente que algum desses eleitores votará no candidato do PT em 2022? Pode até acontecer, mas será um número residual: se Bolsonaro perder votos, estes dificilmente migrarão para a esquerda. Por outro lado, por conta do Renda-Brasil, ele pode ganhar muito mais votos – sobretudo no Nordeste, que o PT sempre considerou seu curral eleitoral. Já está acontecendo: segundo a pesquisa do Instituto Paraná, Bolsonaro cresceu no Nordeste em aprovação e intenções de voto.

Por tudo isso, por mais que a bolha acadêmica e midiática tente desesperadamente te convencer (ou convencer a si própria) do contrário, a verdade é que, apesar de todos os problemas, as perspectivas são positivas para Bolsonaro em 2022. E podem melhorar ainda mais, se o Governo investir na educação, e não apenas no assistencialismo, como ferramenta de redução da desigualdade, por exemplo. Mas vão melhorar, sobretudo, se a esquerda insistir no seu negacionismo, na narrativa do "nós contra eles", na prática cotidiana do "ódio do bem" e na defesa de pautas lacradoras que a maioria da população brasileira claramente rejeita.

PS 1: No site do Instituto Paraná, há outra pesquisa recente, sobre a qual pouco se falou, a respeito da atuação do STF. Consta de uma única pergunta: “O Supremo Tribunal Federal (STF) decide tecnicamente ou politicamente o cumprimento de nossa Constituição?”. Os números falam por si:

Pesquisa do Instituto Paraná sobre a atuação do STF
Pesquisa do Instituto Paraná sobre a atuação do STF

PS 2: Os três macacos sábios na imagem principal deste post ilustraram originalmente a entrada de um templo japonês do século 17: eles representam o provérbio “Não ouça o mal, não fale o mal e não veja o mal”. Mas podem ser reinterpretados hoje como um alerta para não fecharmos os olhos nem os ouvidos para verdades incômodas, nem abrirmos a boca para disseminar o ódio (mesmo que seja o “ódio do bem”).

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]