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Carol Swain: “É a identidade nacional americana que nos manterá unidos, não o tribalismo sectário”
Carol Swain: “É a identidade nacional americana que nos manterá unidos, não o tribalismo sectário”| Foto:

Professora aposentada de Direito e Ciência Política nas universidades Princeton e Vanderbilt, a dra. Carol Swain hoje comanda o popular podcast Be the People (bethepeoplenews.com). Desde o assassinato de George Floyd por um policial em Minneapolis, em 25 de maio, ela tem sido uma das raras vozes sensatas no debate sobre a convulsão social que se seguiu em diversas cidades americanas.

Em entrevistas sempre esclarecedoras, essa acadêmica conservadora tem chamado a atenção para aspectos pouco evidentes dos protestos ainda em curso, como a agenda secreta do movimento Black Lives Matter e a real motivação por trás da onda de destruição de monumentos que se espalhou pela América e alguns países da Europa – onde se chegou ao ridículo de se vandalizar uma estátua da Pequena Sereia, na Dinamarca.

Vale a pena conferir o que a dra. Swain declarou na semana passada sobre esse fenômeno, nessa rápida entrevista ao canal de TV Fox News:

https://news.yahoo.com/dr-carol-swain-reacts-statue-145005258.html

Mas, acredite se quiser: pelo simples fato de ousar divergir do método que vem pautando as ações dos Antifas em geral e do BLM em particular, Carol Swain está sendo acusada (por jovens brancos de elite, inclusive) de defender... o supremacismo branco.

É como escrevi na semana passada: para os progressistas e os social justice warriors, sem atestado de pureza ideológica o sexo, a etnia, a orientação de gênero e quaisquer outras características e escolhas individuais deixam de ter importância.

Mesmo sendo negra e de origem humilde (seus pais eram muito pobres, ela tinha 11 irmãos, ficou grávida na adolescência, estudou em escolas públicas etc) – e mesmo tendo dedicado a vida inteira a lutar contra o preconceito e a desigualdade na sociedade americana, Carol Swain se transformou em mais um inimigo a abater no tribunal sumário dos novos jacobinos.

Porque a verdade é que, para os democráticos Antifas, que do alto de sua superioridade moral acham que estão defendendo a tolerância enquanto praticam o “ódio do bem”, conservador bom é conservador morto.

Felizmente, à medida que o tempo vai passando, mais e mais pessoas se dão conta de que a violência dos protestos e a insanidade da vandalização de estátuas não são a expressão de uma revolta espontânea da maioria da população americana, mas resultado de uma ação coordenada, que vem usando a indignação autêntica contra um crime hediondo – o assassinato de George Floyd – e uma bandeira legítima – a luta contra o racismo – como pretextos para ocupar as ruas, promover quebra-quebras e apagar o passado, privando a sociedade de suas referências históricas e culturais.

“Essa é a parte mais assustadora”, declarou Swain. “Essas pessoas não sabem o que está acontecendo, estão sendo manipuladas por manifestantes que têm uma agenda que sequer é sobre elas. Não se trata de defender indivíduos que estão sofrendo e que têm queixas legítimas, mas do avanço de uma agenda que será destrutiva para os Estados Unidos. (...) Não se trata realmente de vidas negras e de justiça, mas de ativistas políticos que estão vendo uma oportunidade de avançar essa agenda”.

Não se trata, evidentemente, de minimizar a gravidade do crime cometido pelo policial Derek Chauvin (é importante registrar seu nome, porque o assassino foi um indivíduo, não a instituição policial), e muito menos de minimizar a gravidade abominável do racismo na América. Todo ser humano que assistiu ao vídeo que mostra os últimos minutos de vida de Floyd ficou chocado. Nenhuma sociedade deve aceitar que indivíduos sejam vítimas de semelhante brutalidade estando sob custódia de um representante do Estado.

Segundo Carol Swain, Isso não muda o fato de que “as estatísticas sobre a frequência com que pessoas negras morrem nas mãos da polícia sugerem que a cobertura ininterrupta da mídia exagera a gravidade da situação real”. Ela chama a atenção para a cumplicidade da grande mídia na construção de uma narrativa ideológica: “Parece haver um esforço infeliz, na mídia e entre os democratas, para legitimar a organização Black Lives Matter. Vejo o BLM e os Antifas como parte de um esforço marxista global para destruir os Estados Unidos”.

Parece cada vez mais evidente, de fato, que o Partido Democrata enxergou no episódio uma janela de oportunidade para fragilizar a candidatura de Donald Trump à reeleição – ainda mais em um ano já tumultuado pela pandemia da Covid-19. Trump foi eleito com uma plataforma identificada com a defesa da lei e da ordem (como, aliás, Jair Bolsonaro); Carol Swain sugere que o plano, que está sendo posto em prática, de desqualificar e enfraquecer a polícia como instituição integra uma estratégia política e eleitoral.

Faz parte desse plano a manipulação das boas intenções de milhares de inocentes úteis, constrangidos a achar aceitável a violência “do bem” e a tratar todos os policiais como se fossem bandidos, ao mesmo tempo em que se vitimiza a criminalidade. Carol Swain classificou como “ridículo” o apelo do BLM para diminuir o orçamento da polícia e criar “grupos de manutenção da paz”. E afirmou:

“Saques, roubos, incêndios criminosos e caos prejudicam aquelas pessoas que mais precisam de proteção da polícia. O caos ocorrerá na ausência de aplicação da lei, e isso prejudicará os negros mais do que qualquer outro grupo. Vai acontecer exatamente o que já está acontecendo: a criminalidade vai aumentar, porque haverá menos policiais para fazer cumprir a lei”.

E essas pessoas sabem disso: nos Estados Unidos como no Brasil, todo movimento que descamba para a violência perde o apoio das camadas mais pobres da população, especialmente dos cidadãos honestos que acordam cedo para trabalhar e repudiam qualquer forma de vandalismo.

Vale a pena ler com atenção essas outras declarações de Carol Swain, pinçadas de diferentes entrevistas:

“A insurreição rotulada como ‘protesto pacífico’ é o aríete que enfraquece as fundações de nossa nação. Usar as vozes das massas oprimidas e enganadas, usar seus corpos e queixas legítimas como escudos faz parte de um plano deliberado para criar uma nova ordem que, com certeza, será pior do que a que existe agora”;

“Os objetivos verdadeiros do BLM e dos Antifas são bem diferentes dos objetivos daqueles manifestantes realmente preocupados com a brutalidade e discriminação da polícia. (...) Têm mais a ver com conquistar poder político e arrecadar dinheiro do que proteger minorias e melhorar a sociedade. Se você for ao site do BLM e clicar no link para fazer uma doação, esse dinheiro será destinado aos candidatos democratas; não estará realmente ajudando a avançar a causa das pessoas negras”;

“Black Lives Matter é uma organização, mas também é um slogan. A maioria dos americanos, se não todos, concorda que vidas negras importam, da mesma maneira que vidas brancas importam. Então esses movimentos se escondem atrás desse slogan. A consequência é que as pessoas que devem defender e fazem cumprir a lei e a ordem agora relutam em fazê-lo, porque não querem ser vistas como alguém que não apoia as queixas legítimas que os negros ou os pobres possam ter”;

“Está claro que o foco de todo esse movimento de derrubar estátuas é dividir o país. Os monumentos fazem parte da nossa História, e este é um caminho errado para a nossa nação. É sectarismo. É oportunismo”;

“Acho fascinante que este seja um movimento de pessoas brancas. Podem se chamar Black Lives Matter ou Antifa, mas o que eu vejo nos protestos são muitos jovens manifestantes brancos que provavelmente são ricos e têm pais e recursos que podem tirá-los da prisão, se for necessário”;

“A narrativa racial atual usa a retórica opressor/vítima para formar uma nova classe de vítimas entre os brancos, que devem sentir vergonha por causa de sua raça e ancestralidade. Isso está sendo realizado através da lavagem cerebral da juventude americana e do silenciamento dos adultos brancos. Há um desrespeito à individualidade e às lutas de milhões de americanos brancos que estão sendo responsabilizados pelos pecados de seus ancestrais”;

“Usando conceitos como "privilégio branco" e "racismo estrutural", esses guerreiros da justiça social inverteram os conceitos tradicionais de igualdade, justiça e liberdade incorporados na Declaração de Independência, na Constituição dos Estados Unidos e na Declaração dos Direitos. Foram esses documentos fundamentais que forneceram os mecanismos institucionais para mudanças positivas que, com o tempo, passaram pela aprovação de leis voltadas à proteção dos direitos civis, combatendo os efeitos da discriminação passada e presente. A narrativa racial atual, que se concentra na ‘supremacia branca’, é uma narrativa distorcida, com o objetivo de alcançar objetivos que não são desejáveis ​​nem atingíveis”.

“Quando a minha geração de americanos negros entrou em faculdades, nos foi dada uma oportunidade, mas tivemos que trabalhar, ter o mesmo desempenho que todos os outros. Não podíamos ficar reclamando da maneira como vemos jovens reclamando hoje de microagressões. (...) Nunca senti que fui vítima porque, por acaso, eu era negra, pobre e estava em uma situação infeliz. Eu tive que trabalhar duro, mas é disso que se trata na América”.

Carol Swain chama a atenção para um fato que passa despercebido neste debate: a vitimização leva a um novo tipo de segregação, porque não oferece um tratamento isonômico a todos, e sim um tratamento diferenciado a cada um conforme a sua etnia. Este é um tema controverso, que envolve a questão das cotas, mas a visão de Carol Swain não pode ser descartada.

Aliás, sobre a narrativa das dívidas históricas de antepassados, Carol Swain toca em outro ponto interessante:  “As reparações não mudarão a vida das pessoas negras e trariam apenas um conjunto cada vez pior de relações raciais para todos. Não é o melhor caminho a seguir”. Como são dívidas impagáveis (como calculá-las e como e a quem pagá-las?), a única consequência (ou o único objetivo?) dessa narrativa é o acirramento do ódio, da divisão, do ressentimento e, consequentemente, da violência e do preconceito, e não a desejável conciliação, que só será possível em um mundo no qual pertencer a determinada etnia simplesmente não fará diferença alguma na vida de uma pessoa, já que todos serão efetivamente iguais, nos direitos e nas oportunidades.

É por um mundo assim, afirma Carol Swain, que todos devemos lutar. Isso aliás se aplica a todas as minorias: “É a identidade nacional americana que nos manterá unidos, não o tribalismo sectário promovido pela política identitária”.

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