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Disputa de cinturão no UFC vira embate ideológico: “Melhor morta que vermelha!”
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Mesmo para quem não gosta de assistir aos eventos de MMA (“Artes Marciais Mistas”), a edição 261 do UFC – Ultimate Fighting Championship, marcada para acontecer no próximo sábado, 24 de abril, em Jacksonville, na Flórida, terá um atrativo especial. A disputa pelo título mundial feminino dos pesos-palha ganhou contornos de um confronto simbólico entre duas ideologias, entre dois sistemas de valores, entre o capitalismo americano e o comunismo (ainda que no novo figurino de capitalismo de Estado) chinês.

Tudo começou quando Rose Namajunas, a desafiante, deu uma entrevista na qual declarou que uma de suas motivações para conquistar o título será derrotar uma lutadora “vermelha”, a chinesa Zhang Weili. “Antes morta que vermelha!” (“Better dead than red!”), afirmou, lembrando um ditado popular na época da Guerra Fria. Filha de lituanos que emigraram para os Estados Unidos fugindo da tirania comunista, Namajunas afirmou:

“Sinto que desta vez tenho algo em particular pelo que lutar – aquilo que ela (Weili) representa. Tentei me lembrar da história de minha família, de onde viemos. Não tenho nada pessoal contra ela, mas esta é uma grande motivação para mim. Eu luto pela liberdade, confio em Jesus, sou de sangue lituano e tenho o sonho americano. Vou levar todas essas coisas para esta luta.”

Assista abaixo ao vídeo promocional da luta:

Mas aquilo que até poucos anos atrás seria motivo de orgulho para os americanos – a defesa entusiasmada da liberdade – se tornou mais um pretexto para a lacração progressista. Logo em seguida à entrevista de Namajunas, choveram nas redes sociais ofensas em série contra Namajunas e protestos indignados de internautas que se sentiram ofendidos e “exigiram” que a lutadora pedisse desculpas. Oi?

“Eu costumava torcer por você, mas agora vou torcer pelo foguete comunista chinês!”, escreveu um internauta. “Espero que Zhang destrua você, Rose!”, desejou outro. “Ela vai desfigurar seu rosto!”, vaticinou o terceiro. Mas o melhor comentário foi: “Estou desapontado com você, Rose. Você devia pedir perdão pelas suas declarações e por ter introduzido uma dinâmica tóxica na disputa”. Em suma, americanos torcendo pela chinesa contra uma lutadora americana que defende a liberdade. Tempos sombrios.

Felizmente, Namajunas não deu bola para o mimimi e manteve suas declarações. Em nova entrevista, ela reafirmou que não se trata de algo pessoal contra Weili. A lutadora lembrou que seu avô, que lutava pela independência da Lituânia, foi executado por soldados soviéticos e pediu que as pessoas pesquisem sobre como os lituanos sofreram durante o regime comunista.

“Tentei ensinar ao meu parceiro de treino as dificuldades dos lituanos, a nossa história”, ela acrescentou. “Assistimos ao filme ‘O outro Dream Team’ para entender aquilo pelo que lutamos. Depois de assistir ao filme, entendi ainda melhor. Eu não sinto ódio por Weili, mas sinto que lutar contra ela representa muito para mim. Se algumas pessoas não entendem isso, deveriam assistir ao filme, que tem muito a ver com o sofrimento da minha família e explica por que estou nos Estados Unidos agora. Explica até mesmo por que eu decidi dedicar minha vida ao MMA. Se os lituanos não tivessem combatido a opressão comunista, como mostra o documentário, provavelmente minha vida hoje seria muito diferente”.

“O outro Dream Team”, documentário de 2012 vencedor de um Oscar, conta a história da seleção lituana de basquete que ganhou uma medalha de bronze nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992 – as primeiras disputadas pelo país como nação independente. O filme entrelaça a história dessa conquista com dramas vividos pelas famílias dos atletas durante a longa escravidão da Lituânia pela Rússia soviética.

Isso posto, a missão de Rose Namajunas não será fácil. Weili está invicta há 21 lutas, cinco delas no Ultimate, onde detém o cinturão desde 2019. Ela já derrotou a lutadora Joanna Jedrzejczyk em uma luta épica, em março de 2020, quando a polonesa saiu do octógono com o rosto completamente desfigurado por cortes e hematomas. A luta foi considerada a melhor do ano pela mídia especializada.

Namajunas, por sua vez, foi campeã da categoria até maio de 2019, quando foi nocauteada no UFC do Rio de Janeiro pela brasileira Jéssica “Bate-Estaca” Andrade, que em seguida perdeu o cinturão para a chinesa (em uma luta que durou apenas 42 segundos). A descendente de lituanos venceu a revanche com Jéssica no ano passado, conquistando o direito de lutar mais uma vez pelo título. Além de derrotar a chinesa, Namajunas terá que superar a torcida contrária da turma da lacração.

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