| Foto: Reprodução Twitter
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Como eu dizia no artigo “O bom-mocismo fake é o câncer do nosso tempo”, os efeitos da decisão da Suprema Corte norte-americana no caso Roe x Wade, de 1973, não se limitaram ao caso específico da jovem Norma Leah (aka Jane Roe): firmou-se ali uma jurisprudência que, na prática, abriu as portas para os cerca de 65 milhões de abortos cometidos nos Estados Unidos nas cinco décadas seguintes.

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Um verdadeiro genocídio silencioso.

Na ocasião, o Supremo norte-americano aproveitou para inovar na interpretação de emendas constitucionais relacionadas à liberdade e à privacidade do indivíduo e ao papel do Estado, garantindo o direito de qualquer gestante a abortar por mero ato de vontade, sem precisar dar qualquer explicação ou justificativa.

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Invocou-se, por exemplo, a 14ª Emenda, de 1868, que nada tem a ver com aborto, para criar um novo direito fundamental: o de suprimir a vida de um feto indefeso no ventre da mãe, até o terceiro mês de gestação.

O que era, até então, um crime, passou a ser um direito.

Pois bem, anos depois do julgamento, Norma Leah, até então protegida pelo anonimato, caiu em depressão e revelou ser Jane Roe. Passou a trabalhar em um centro de planejamento familiar. De meados dos anos 90 até sua morte, em 2017, Norma Leah foi uma ativista pró-vida.

(Parêntesis: já repararam que a expressão “planejamento familiar” raramente aparece no debate contemporâneo sobre o aborto? Há um motivo para isso: os progressistas acham que defender o planejamento familiar é uma medida fascista que fere os direitos reprodutivos das mulheres pobres.)

Continuando: nos anos 90, Norma Leah se aproximou do grupo pró-vida Operation Rescue, onde conheceu o pastor evangélico Flip Berham. Em 1995, foi batizada na nova fé e, movida pelo remorso, confessou ter mentido durante o processo no tribunal do Texas que resultou na histórica decisão da Suprema Corte. Foi além: afirmou ter sido manipulada e orientada por suas advogadas a alegar que tinha sido estuprada.

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“Ah, mas ela foi manipulada pelo pastor...” Não. A própria advogada abortista Sarah Weddington admitiu ter mentido, com a justificativa de que foi por uma “boa causa”.

Ou seja, a decisão da Suprema Corte de 1973 se baseou em uma fraude.

O que a Suprema Corte norte-americana, hoje de maioria conservadora, está fazendo é corrigir uma decisão contaminada e altamente questionável tanto do ponto de vista ético quanto legal. Simples assim.

A gigante do varejo Amazon divulgou que dará ajuda de custo de 4 mil dólares às suas funcionárias que desejarem abortar: é a bolsa-aborto

Por definição, o aborto interrompe o processo de gestação de uma vida que já está em curso. É, compreensivelmente, um ato que todas as religiões do planeta reprovam e abominam.

Mesmo para quem não é religioso, contudo, este não pode ser um assunto trivial, até porque um aborto tem implicações físicas, emocionais e psicológicas complexas para a mulher – implicações que não desaparecem com a canetada de um juiz.

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Há casos concretos de gravidez indesejada que são difíceis de julgar, sobretudo em situações de precariedade material extrema. E há pessoas que, no íntimo, a gente preferiria que tivessem sido abortadas.

Mas reconhecer o caráter delicado e controverso do tema é uma coisa. Outra bem diferente é vender a ideia de que o aborto é um ato banal como trocar de roupa, como se faz hoje.

Basta observar a reação do campo progressista ao vazamento da decisão da Suprema Corte – vazamento aliás criminoso, feito com a intenção clara de melar o processo - para entender a amplitude e a gravidade da guerra cultural em curso no planeta.

A gigante do varejo Amazon, vejam só, divulgou que dará ajuda de custo de 4 mil dólares às suas funcionárias que desejem abortar. É a bolsa-aborto.

O presidente Joe Biden disse que as mulheres têm o direito de escolher (mas os fetos não têm). Kamala Harris, vice-presidente, declarou que a Suprema Corte quer “castigar as mulheres” e retirar seu direito de tomar decisões sobre seus próprios corpos – como se o corpo do feto não estivesse envolvido na decisão.

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(O irônico é que, nesta hora, a esquerda, que defende a intervenção do governo em tudo, se torna subitamente libertária, alegando que a gravidez é uma esfera da vida que não pode estar sujeita à intromissão do Estado.)

Por sua vez, o ex-presidente Barack Obama e sua mulher Michelle divulgaram nota dizendo que milhões de americanas acordaram na terça-feira “temendo que suas liberdades essenciais estejam em perigo”. Interromper a gestação de uma vida é uma liberdade essencial?

O bilionário Bill Gates aderiu com entusiasmo à lacração abortista postando o seguinte nas redes sociais:

“Fiquei chocado ao acordar com a notícia esta manhã. Uma reversão de Roe x Wade seria um retrocesso de 50 anos e impactaria desproporcionalmente as mulheres mais vulneráveis ​​da sociedade. Eu apoio o direito da mulher de tomar suas próprias decisões sobre seus cuidados de saúde.”

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A Fundação Open Society, do também bilionário George Soros, não podia ficar de fora:

“Chegamos a um momento de crise no direito ao aborto seguro e legal nos Estados Unidos. A liberdade reprodutiva é vital em uma sociedade aberta, e continuaremos lutando por ela. Sejamos claros: o aborto é um direito à saúde e um direito humano.”

Soros não parou aí: “Aborto é um direito humano”, afirmou no post seguinte.

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O mesmo slogan foi adotado pela Anistia Internacional (!?) nas redes sociais: aborto é um direito humano.

Seguiram o mesmo caminho a Planned Parenthood, a gigante do aborto nos Estados Unidos; o movimento “Black Lives Matter” (que tentou, como era previsível, racializar o debate); e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau. Alguma surpresa?

É a ira dos virtuosos em ação.