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O “manifesto” contra a Copa América me deixou confuso
| Foto: Divulgação

Acabo de ler o “manifesto” sobre a Copa América postado por alguns jogadores da seleção brasileira de futebol em suas redes sociais. Fiquei um pouco confuso, tanto com a forma quanto com o conteúdo. Transcrevo o manifesto a seguir, acompanhado de algumas reflexões.

"Quando nasce um brasileiro, nasce um torcedor. E para os mais de 200 milhões de torcedores escrevemos essa carta para expor nossa opinião quanto a realização da Copa América.”

O manifesto começa com uma frase feita que parece mais adequada a um comercial de TV de algum patrocinador da Copa América que a um manifesto contrário ao torneio. Mas numa coisa o texto está certo: de fato, todos os brasileiros já nascem torcedores; o problema é que muitos nascem para torcer contra.

“Somos um grupo coeso, porém com ideias distintas.”

O que isso significa, exatamente? Que nem todos os jogadores da seleção compartilham a mesma opinião sobre a Copa América? Alguns são a favor e outros contra? Seria importante esclarecer esse ponto, já que, se há divergência, o texto não deveria ser vendido como a “nossa opinião” (“nossa”, está subentendido, de todos os jogadores). Por outro lado, havendo divergência, não há coesão. A confusão continua no parágrafo seguinte.

“Por diversas razões, sejam elas humanitárias ou de cunho profissional, estamos insatisfeitos com a condução da Copa América pela Conmebol, fosse ela sediada tardiamente no Chile ou mesmo no Brasil. Todos os fatos recentes nos levam a acreditar em um processo inadequado em sua realização.”

Humm... Quais seriam as razões de cunho profissional que teriam deixado os jogadores insatisfeitos? Não vão explicar? Sobre as razões humanitárias, o subtexto evidente é que os jogadores (ou alguns deles) consideram que a realização de um evento esportivo sem público presencial – como dezenas de outros eventos que estão acontecendo no Brasil, sem qualquer problema e sem nenhum escândalo – equivale a um genocídio, a um crime contra a humanidade, contra o qual os jogadores virtuosos se sentem obrigados a se manifestar, por "razões humanitárias".

Mas, se é esta a opinião dos jogadores (ou de parte deles), por honestidade intelectual o “manifesto” deveria ser mais explícito, com mais substância e menos entrelinhas. O texto continua:

“É importante frisar que em nenhum momento quisemos tornar essa discussão política”.

Imagina... Usar o esporte para sabotar e desgastar o governo não tem nada de político.

“Somos conscientes da importância da nossa posição, acompanhamos o que é veiculado pela mídia, estamos presentes nas redes sociais. Nos manifestamos, também, para evitar que mais notícias falsas envolvendo nossos nomes circulem à revelia dos fatos verdadeiros”.

Mais um parágrafo que se espreme e não sai nada. De que notícias falsas estão falando? E, se os jogadores são tão conscientes da importância da sua posição, porque não a manifestam de forma mais clara e consequente? Ficou tudo muito vago e escorregadio. Muito mimimi e zero papo reto. Torcedor não gosta disso, fica a dica.

“Por fim, lembramos que somos trabalhadores, profissionais do futebol. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde amarela pentacampeã do mundo. Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira."

Só isso? Já acabou? A montanha pariu um rato. Conclusão: eles terminam o manifesto contra a Copa América reconhecendo que têm a missão de defender a camisa verde-amarela – ou seja, declarando que vão disputar a Copa América.

Quem acha que a Copa América vai matar pessoas, mas entra em campo mesmo assim, age com covardia – e é um cúmplice do crime que denuncia


Em outras palavras: são contra, mas vão jogar. Só queriam mesmo criar um zumzumzum, ostentar virtude e bom-mocismo e lacrar nas redes sociais.

Ora, assim é fácil ser contra, né? Se esses jogadores realmente acreditam que é um absurdo o Brasil sediar a Copa América, e que isso irá colocar vidas em risco (diferentemente, por algum motivo, de todos os outros campeonatos e eventos esportivos em curso no país, que não ameaçam vida alguma), que se recusem a participar do evento. Simples assim.

Em português claro (algo que faltou ao manifesto): aqueles jogadores que acreditam que a Copa América vai matar pessoas têm a obrigação moral de se recusar a entrar em campo. Ou eles estão com uma arma apontada contra a cabeça, sendo forçados a jogar?

Quem acha que a Copa América vai matar pessoas, mas entra em campo mesmo assim, age com covardia – e é um cúmplice do crime que denuncia. Ou não?

É como denunciar uma festa nas redes sociais por aglomeração durante a pandemia e, em seguida, entrar na festa e se divertir horrores. Aliás, isso é muito comum: todos os bares estão lotados de gente que se aglomera sem máscara, mas que adora gritar "genocida!".

Um pouco de coerência, por favor. Os torcedores agradecem.

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