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O que diz a esquerda-raiz sobre a Amazônia?
| Foto: Reprodução

Um dos fenômenos mais interessantes de se acompanhar hoje em dia é o crescente abismo que se estabelece entre a esquerda globalista e a esquerda-raiz. Embora aliadas, elas são hoje portadoras de duas visões de mundo cada vez menos conciliáveis, podendo entrar rapidamente em rota de colisão.

Um dos temas em que esse abismo fica mais evidente é o debate sobre a exploração dos recursos naturais da Amazônia. São duas narrativas diametralmente opostas, uma defendendo a urgente transformação da floresta em uma espécie de santuário intocável, outra afirmando que a defesa do meio-ambiente é apenas uma cortina de fumaça promovida pelo imperialismo americano e europeu, com interesses políticos e econômicos inconfessáveis.

A agenda secreta do imperialismo, segundo a esquerda-raiz, seria usar o apelo ambientalista – quem pode ser contra a defesa da Amazônia? – para impedir o desenvolvimento econômico do país e, ao mesmo tempo, levar o governo brasileiro a abrir mão de sua soberania, entregando a ONGs estrangeiras a gestão da região.

O assunto vem sendo explorado na CPI das ONGs, mas a cobertura na grande mídia é quase confidencial. Se dessem a esta CPI um destaque proporcional à gravidade do tema em discussão, imagino que uma boa parte da sociedade ficaria escandalizada e se envolveria no debate.

É exemplar da dicotomia entre as duas esquerdas um editorial publicado na última terça-feira, 25/7, no Diário da Causa Operária, o órgão de imprensa do PCO, intitulado “Fora EUA da Amazônia!”, a propósito da recente visita de emissários americanos ao Brasil. Pelo menos neste tema, mas não apenas neste, a esquerda-raiz parece objetivamente mais próxima da direita que da esquerda globalista.

Seguem alguns trechos:

“O ‘Estadão’ publicou editorial defendendo que a Amazônia seja voltada para a geração de créditos de carbono, e que essa atividade teria um enorme retorno econômico para o Brasil. E qual seria o retorno, segundo o jornal golpista? Cerca de US$ 50 bilhões até 2030. E, pasmem, apenas ‘boa parte’ desse ganho poderia ficar com o Brasil (...) Uma mixaria se comparado com o proveito econômico que poderia render ao país em decorrência da exploração dos recursos naturais existentes na região, sejam eles biológicos (da flora Amazônica podem ser retiradas muitas substâncias úteis à produção de fármacos), minerais e, é claro, os recursos energéticos, tanto o hídrico, mas, em especial, o fóssil (petróleo)”;

“As causas nobres da preservação do meio-ambiente, da redução da poluição, da luta contra o aquecimento global (hoje o termo preferido é “mudanças climáticas”) são apenas uma máscara para os reais interesses do imperialismo”;

“A política ambientalista do imperialismo possui a finalidade de obstaculizar o desenvolvimento econômico dos países oprimidos pelos imperialistas. (...) Uma política cínica, afinal são esses países os mais emissores de poluentes na atmosfera, tendo inclusive devastado praticamente toda a vegetação natural dos respectivos países. (...) As diretivas do imperialismo são que ‘desmatamento zero’ e a ‘transição enérgica’ devem ser implementados somente pelos países atrasados”;

“A pretexto de defender o meio ambiente, o imperialismo impede que os recursos naturais existentes no Brasil (e em demais países oprimidos) sejam explorados em favor de seu desenvolvimento econômico. Curiosamente, a política imperialista para impedir a exploração dos recursos naturais vale apenas para nós”; 

“A operação política para saquear os recursos naturais brasileiros já foi desatada e, a cada dia que passa, o imperialismo busca avançar seu domínio sobre o território nacional, em especial a Amazônia. Milhares de ONGs financiadas pelos EUA e Europa existem no norte do País";

“A ministra do Meio Ambiente é notoriamente financiada pelo imperialista George Soros. Não é à toa que ela determinou ao IBAMA que negasse à Petrobrás a licença para perfurações na Bacia da Foz do Amazonas. No que diz respeito aos membros do governo, ela é o principal cavalo de Tróia a serviço do imperialismo para barrar a exploração do petróleo nacional”;

“É preciso [organizar] (...) uma campanha contra a presença dos Estados Unidos e do imperialismo europeu no Brasil, contra suas ONGs e seus infiltrados no governo, e em prol da exploração do petróleo e demais recursos naturais, a fim de que o país possa ser reindustrializado, e população ser tirada da miséria.”

Pelo menos neste tema, mas não apenas neste, a esquerda-raiz parece objetivamente mais próxima da direita que da esquerda globalista

Não sou um especialista no tema, mas, acompanhando as preocupantes revelações da CPI das ONGs e as recentes manifestações do insuspeito ex-ministro Aldo Rebelo, sou obrigado a reconhecer que as teses do PCO fazem algum sentido.

Em outros editoriais e artigos recentes, aliás, o Diário da Causa Operária faz denúncias ainda mais graves relacionadas à Amazônia, que mereceriam um exame atento por parte dos políticos e autoridades responsáveis. Por via das dúvidas, ressalto que não estou endossando essas denúncias, apenas transcrevo o que o jornal afirma:

“Não ao golpe dos monopólios: Explorar a Amazônia em favor do povo brasileiro” (22/7)

“A pouco mais de 800 km do Amapá, ainda na região Amazônica, na Guiana, por exemplo, a norte-americana ExxonMobil, uma das cinco maiores companhias petrolíferas do Mundo, está explorando reservas comprovadas de mais de 11 bilhões de barris de petróleo, lucrando rios de dinheiro em um pequeno país com pouco mais de 800 mil habitantes. Não há protestos de ambientalistas, dos magnatas do petróleo, dos especuladores e das grandes potências imperialistas. (...) Essa falsa ideologia ambiental é uma farsa a serviço desses países ricos e como tal deve ser denunciada”.

“Um grave perigo: Fora ONGs imperialistas da Amazônia!” (21/7)

“Dentre as ONGs que dizem defender os índios, estão as conhecidas APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasil), sendo essa última integrada à primeira. Ambas são abertamente financiadas pelo imperialismo. Para verificar isto, basta uma rápida visita ao sítio eletrônico da COIAB. Nele é possível verificar que a ONGs tem como parceiros, dentre outros, a Ford Foundation (notória fachada da CIA), o Greenpeace e a Embaixada da Noruega.”

“Não à farsa ambiental! Amazônia deve servir ao povo brasileiro” (19/7)

“...o que o IBAMA está fazendo é, em nome do meio-ambiente, agir de acordo com os interesses imperialistas que não querem que o Brasil se desenvolva. Querem que o Brasil deixe o petróleo intacto para quem sabe no futuro os próprios países imperialistas possam roubá-lo do povo brasileiro. A ideologia ambiental é uma farsa a serviço desses países ricos. (...) A exploração do petróleo, nesse sentido, é de extrema importância. Há grandes indícios de que no solo da Amazônia tenha abundância de petróleo e de alta qualidade. Isso seria um grande fator de desenvolvimento da região, a menos desenvolvida do País.”

Política imperialista: Por que a Embaixada dos EUA financia ‘pesquisas’ na Amazônia? (3/7)

“São esses grupos que vão financiar 16 pesquisadores para promover 'estudos e pesquisas para uma Amazônia sustentável e resiliente'. (...) Qual o interesse do imperialismo norte-americano na Amazônia? Com certeza não é com a ecologia. Se os EUA financiam alguma coisa, podemos estar certos que é para roubar as nossas riquezas. Mas tem esquerdista que se diz inteligente e até revolucionário que acredita na ideologia imperialista de “defesa do meio-ambiente”.

Etc.

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