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Treta no xadrez: campeão mundial acusa adversário de trapaça
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Desde que os programas de computador de jogar xadrez superaram em força os enxadristas humanos – o marco zero desse movimento foi a histórica derrota do então campeão mundial Garry Kasparov para o programa Deep Blue, da IBM, em 1997, em um match de seis partidas –, o jogo milenar passou a conviver com o difícil desafio de preservar a limpeza e a transparência das competições oficiais, afastando a possibilidade de qualquer tipo de “ajuda” ilegal.

Ainda que, periodicamente, acontecessem pequenos escândalos, que resultaram na desclassificação ou banimento dos jogadores envolvidos, a elite do xadrez parecia relativamente protegida desse perigo. Medidas de segurança adotadas pela FIDE (a entidade internacional máxima do xadrez), como o uso de detectores de metais antes de cada partida, e o próprio auto-interesse dos jogadores de ponta de não desmoralizar o esporte pareciam garantir que, pelo menos no nível top, o jogo era 100% limpo.

Kasparov, então campeão mundial, foi derrotado pelo programa Deep Blue em 1997
Kasparov, então campeão mundial, foi derrotado pelo programa Deep Blue em 1997

Com a pandemia de Covid 19, contudo, nos últimos anos a FIDE precisou se render à oficialização de competições online, fazendo parcerias com plataformas como a Chess.com (onde, aliás, eu jogo, nunca tendo ultrapassado o nível de um razoável jogador de clube), reunindo os principais grandes mestres do planeta. Mesmo havendo maneiras de reprimir trapaças, com o uso de sofisticados algoritmos que detectam tentativas de fraude, no ambiente virtual isso é muito mais difícil.

Pois bem há três semanas, o jovem americano Hans Niemann, de 19 anos, uma estrela em ascensão no xadrez, foi acusado – sem provas, mas com base em indícios que parecem fortes – de trapacear, pelo atual campeão mundial, o norueguês Magnus Carlsen. Nieman derrotou Carlsen no prestigiado torneio Sinquefield Cup, em St.Louis, em uma partida praticamente perfeita, sem as falhas “humanas” mínimas que mesmo os enxadristas mais fortes costumam cometer. Mais detalhes aqui.

A comunidade enxadrística internacional se dividiu. A acusação é grave e, vindo de quem vem, pode simplesmente acabar com a carreira de Niemann. A partida foi presencial, e Carlsen não explicou como o americano poderia ter trapaceado.

Muitos grandes mestres, como Fabiano Caruana e Hikaru Nakamura, ficaram do lado de Carlsen. Outros deram a Niemann o benefício da dúvida, já que, embora seja extremamente remota a possibilidade de Carlsen perder daquele jeito, ainda mais jogando com as peças brancas, para um jogador alguns patamares abaixo, isso não é impossível.

Poucas semanas depois, uma nova partida que estava agendada entre os dois – desta vez em um torneio online, terminou de forma surpreendente: como protesto, Carlsen simplesmente abandonou o jogo após realizar seu primeiro lance. A pressão sobre o enxadrista americano e a FIDE aumentou.

Pesa contra Niemann a confissão de já ter trapaceado online na plataforma Chess.com em duas ocasiões, quando ainda era adolescente. Após o episódio da Sinquefield Cup, a plataforma baniu o jogador e divulgou, há poucos dias, um extenso e detalhado relatório alegando que análises estatísticas aprofundadas sugeriram que o americano trapaceou em mais de 100 partidas, não apenas duas.

Outro fator que pesa contra Niemann é o desenho da sua ascensão meteórica e atípica, nos últimos dois anos, algo inédito na História do xadrez. Ninguém nega que ele é um jogador extremamente forte e talentoso, mas ao mesmo tempo a sua evolução parece suspeita quando se interpretam lance a lance indicadores da série histórica de suas partidas, que fogem ao padrão da evolução da maioria dos grandes mestres.

Mas resta a questão: não há provas concretas de que Niemann trapaceou na partida contra Carlsen. E Niemann, supreendentemente, continua a jogar muito bem, mesmo com toda a pressão sofrida: ele venceu de forma brilhante a primeira partida do Campeonato Americano de Xadrez, que começou na terça-feira.

Correndo risco de chocar o leitor mais sensível: a única explicação que apareceu até agora para Niemann conseguir trapacear em partidas presenciais é bem desagradável: o uso de um dispositivo anal, que transmitiria em código Morse os melhores lances de cada posição. A teoria é explicada em artigo neste link.

Um internauta neste vídeo demonstrou no Twitter uma explicação irreverente de como o dispositivo funcionaria. Imagens fortes.

P.S.

No Brasil, quem recentemente trapaceou no xadrez foi um famoso digital influencer, imitador de foca e profundo analista político, que aliás já se colocou à disposição para ajudar um eventual governo Lula. Desmascarado, ele postou um textão nas redes sociais tentando se justificar. Acabou sendo banido do chess.com (mas já criou outra conta). Ficou feio. Mais informações nos links abaixo

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