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Um palpite para a eleição de 2024 em São Paulo
| Foto: Reprodução Instagram

Faltam apenas nove meses para o primeiro turno das eleições municipais, que este ano serão particularmente importantes, por uma série de motivos.

A manutenção deliberada da divisão da sociedade ao longo do ano que passou ameaça transformar as eleições de 2024 em um terceiro turno da eleição de 2022. O próprio presidente já reconheceu isso em um evento recente do seu partido: “Eleição de 2024 será outra vez entre Lula e Bolsonaro”, afirmou.

Apostar a polarização parece uma estratégia bastante arriscada, até porque o Partido dos Trabalhadores não vem performando bem em eleições municipais, já há bastante tempo. Basta dizer que em 2020, pela primeira vez na História pós-redemocratização, o partido não elegeu prefeitos em nenhuma capital do país.

E não foi um ponto fora da curva. Desde 2004 a tendência de queda é constante e consistente: o PT elegeu nove prefeitos de capital em 2004, seis em 2008, quatro em 2012, apenas um em 2016 e zero em 2020.

Considerando todos os municípios, em 2020 o partido só venceu em 183, também o pior número da série histórica (a melhor marca foi 637 prefeitos eleitos, em 2012). Isso sugere que o PT não foi capaz de construir novas lideranças locais, carecendo da capilaridade necessária para ter um desempenho além do medíocre em eleições municipais (considerando o peso do partido).

É nesse contexto que se explica a decisão do PT de não lançar candidatura própria para a prefeitura de São Paulo, em 2024, e apoiar o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, que aliás aparece como líder nas pesquisas.

“Ah, mas você ainda acredita em pesquisas?” Bom, a pesquisa do instituto Atlas/Intel divulgada pela CNN nesta semana me parece fazer bastante sentido. Ela traz Boulos na liderança (29,5% das intenções de voto), com um empate no segundo lugar entre o atual prefeito, Ricardo Nunes (18%), do MDB, e o deputado federal Ricardo Salles (17,9%), do PL do ex-presidente Bolsonaro.

Em outubro de 2024 todos os olhos se voltarão para São Paulo. O PIB da cidade é maior que o PIB de quase todos os estados do Brasil: só perde para o próprio estado de SP (por óbvio), para o Rio de Janeiro e para Minas Gerais.

Quem acompanha o noticiário já percebeu que existe um esforço claro da direção do PL para apoiar a candidatura de Nunes em São Paulo. Bolsonaro, contudo, ainda não bateu o martelo. Anteontem, Nunes declarou que o apoio do ex-presidente já estava garantido, mas não se ouviu qualquer palavra de Bolsonaro nesse sentido.

Meu palpite é que, sem Ricardo Salles, haverá uma antecipação do segundo turno, o que aumenta as chances de Boulos

Mas Nunes não empolga muito, não é um candidato carismático. E vamos combinar que 18% de intenções de voto para um prefeito em exercício é um número muito baixo.

A ala do PL que defende o apoio a Ricardo Nunes, sem lançar candidatura própria, se baseia em uma premissa falsa: a de que “dividir a direita” aumentaria as chances de Boulos. Ora, a eleição é em dois turnos. Somadas, as intenções de voto de Nunes e Salles (35,9%) ficam bem acima dos 29,5% de Boulos.

Ainda que Boulos vença o primeiro turno, o movimento natural dos eleitores do candidatos de Nunes (ou Salles) no segundo turno será apoiar em massa Salles (ou Nunes). Aliás, isso acabou de acontecer na Argentina: Sergio Massa venceu o primeiro turno com 36,7% dos votos, contra 30% de Javier Milei. Mas, no segundo turno, Milei herdou os votos da candidata conservadora Patricia Bullrich e venceu a eleição. Dificilmente um eleitor de Nunes ou Salles votaria em Boulos no segundo turno.

Não faz sentido, portanto, alegar, em uma tentativa de emparedamento, que a candidatura de Salles beneficiaria a esquerda. Ao contrário, meu palpite é que, sem Salles, haverá uma antecipação do segundo turno no primeiro, o que aumenta as chances de Boulos.

Vale lembrar que, embora tenha perdido no estado de São Paulo em 2022, na capital Lula derrotou Bolsonaro: foram 3,7 milhões de votos conta 3,2 milhões, uma diferença significativa. Nesse sentido, as chances de vitória de Boulos são reais.

Mas também é verdade que a popularidade do presidente vem caindo, e muitos paulistanos que votaram nele em 2022 podem estar insatisfeitos com as entregas do governo. E a rejeição a Boulos é muito grande: seu teto não deve ser muito superior aos 29,5% apontados pela pesquisa Atlas/Intel.

Não estou dizendo que, se for candidato, Ricardo Salles vai vencer. O que estou dizendo é que o PL e a direita só têm a ganhar com uma candidatura de Salles: é um candidato conhecido nacionalmente, bem articulado e identificado com Bolsonaro (muito mais do que Nunes, evidentemente). Mesmo na hipótese de uma derrota, ele sairia da eleição cacifado para outros voos, no futuro. Se vencer, fará dobradinha com o governador Tarcísio de Freitas, o que seria um pesadelo para a esquerda.

Li que Salles foi aconselhado por apoiadores a manter sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo até que Bolsonaro se posicione publicamente. A convenção do PL só acontecerá em março, e Salles pode crescer ainda mais nas pesquisas: que sentido faria se comprometer com Nunes neste momento?

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