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Cerimônia da liberação das águas do Rio São Francisco para o Rio Grande do Norte
Cerimônia da liberação das águas do Rio São Francisco para o Rio Grande do Norte| Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro vem inaugurando obras bilionárias país afora, em período pré-eleitoral. Geralmente destaca que está concluindo empreendimentos que foram paralisados em governos anteriores. Mas o presidente não informa que bancou apenas 16% dos investimentos em infraestrutura nos últimos 14 anos. Os presidentes anteriores investiram mais. O governo Bolsonaro colocou R$ 16,5 bilhões nessas obras. Temer executou mais R$ 20 bilhões. Os governos petistas, R$ 69 bilhões.

Os valores foram apurados pela Associação Contas Abertas, a partir de dados do Orçamento da União, e atualizados pela inflação. São grandes obras como rodovias, ferrovias, construção de barragens, adutoras, com destaque para Transposição do Rio São Francisco. Estão disponíveis os dados de execução orçamentária de 2008 a 2021. Assim, estão computados apenas os últimos três anos dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro conhece esses números, mas procura relativizá-los. No discurso de inauguração do Núcleo de Controle Operacional da Transposição do São Francisco, em Salgueiro (PE), em fevereiro deste ano, afirmou. “Os números não mentem. Nós tivemos o Brasil administrado por 14 anos por um pessoal que levantava a bandeira vermelha. Falando em números, o total dessa obra deve ficar em R$ 14 bilhões. Água para o Nordeste”. Citou, então, que o BNDES, “ao longo de 14 anos de administração vermelha, enfrentou desvios ou projetos malfeitos, mal geridos, um prejuízo na ordem de 500 bilhões de reais. Então comparem R$ 500 bilhões com R$ 14 bilhões”.

Cerimônia pela chegada das águas do São Francisco ao Ceará. Foto: Alan Santos/PR
Cerimônia pela chegada das águas do São Francisco ao Ceará. Foto: Alan Santos/PR| Alan Santos

Os números que não mentem

Vamos aos números. Considerando apenas o Eixo Norte da Transposição, que beneficia municípios de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, os investimentos chegaram R$ 10,8 bilhões. O governo Bolsonaro entrou com R$ 1,3 bilhão – cerca de 12% do total. Os governos petistas já haviam aplicado R$ 7,9 bilhões. Só de 2013 a 2016, Dilma Rousseff injetou R$ 4,6 bilhões na obra.

Somando com o Eixo Leste, que beneficia prioritariamente Pernambuco e Paraíba, os valores da Transposição chegam a R$ 18 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhão executado no governo Bolsonaro – 9% do total. Os governos petistas entraram com R$ 13 bilhões. Em março de 2017, o então presidente Michel Temer inaugurou o Eixo Leste, em Monteiro (PB). Sobre a paternidade da obra, foi diplomático. “A obra passou por vários governos, que merecem o aplauso de todos. São os senhores que pagaram”. Seu governo colocou R$ 1,3 bilhão no empreendimento.

Bolsonaro investiu também em obras complementares à Transposição, para atender a municípios distantes dos eixos principais. O sistema adutor Ramal do Agreste, por exemplo, captará água na barragem Barro Branco, em Sertânia (PE), com desague no reservatório Ipojuca, em Arcoverde (PE). Atenderá 2 milhões de pessoas em 71 municípios. Iniciada em 2005, obra já recebeu R$ 2,8 bilhões, sendo R$ 996 milhões na era Bolsonaro. O ramal será interligado à Adutora do Agreste, que consumiu mais R$ 1,6 bilhão. O atual governo colocou R$ 314 milhões na obra. A maior parte foi executada nos governos petistas – R$ 966 milhões.

“Obras infindáveis”, diz Bolsonaro

As obras do Canal Adutor do Sertão Alagoano, mais conhecido como Canal do Sertão, foram iniciadas em 1992, com recursos do Estado. Mas foram suspensas no ano seguinte e retomadas somente em 2002. Pela falta de recursos, paralisações por falhas nos projetos e identificação de sobrepreço pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a obra de arrasta há 30 anos. Bolsonaro “inaugurou” duas etapas, em 2020 e 2021. Serão oito até que o projeto esteja concluído. Com 250 km de extensão, o canal atenderá 42 municípios até Arapiraca (AL).

Na segunda inauguração, em maio do ano passado, Bolsonaro falou com orgulho do projeto: “Esta obra aqui no nosso Estado de Alagoas é mais uma das tantas que, graças a Deus, estamos conseguindo concluir ao longo do nosso mandato, obras que pareciam infindáveis, mas com a equipe de ministros competentes, como aqui Rogério Marinho, estamos conseguindo fazer isso aí”. De 2008 a 2015, os governos da “bandeira vermelha” injetaram R$ 2,8 bilhões na obra; Temer, R$ 440 milhões; Bolsonaro, apenas R$ 211 milhões.

Outra obra que atravessou décadas foi a pavimentação da rodovia Cuiabá-Santarém – BR-163. A implantação em estrada de terra teve início em 1971, no governo Médici. A primeira inauguração ocorreu em 1976, já no governo Ernesto Geisel. Bolsonaro concluiu os 71 quilômetros que faltavam. Na inauguração, ele contou que a obra começou a ser tratada com Tarcísio Freiras na transição do governo, no final de 2018. “Governar é eleger prioridades, é também não deixar obras paradas”, cutucou o presidente. Ele colocou R$ 354 milhões na obra. Temer, mais R$ 457 milhões. Desde 2008, os governos petistas injetaram R$ 3 bilhões na rodovia que era o terror dos caminhoneiros do Norte.

Investimentos em Ferrovias

Em três anos, o governo Bolsonaro investiu R$ 1,1 bilhão na Ferrovia Oeste-Leste (Fiol), trecho Caetité-Barreiras (BA). Isso representa 38% do valor total executado – R$ 2,9 bilhões. Em setembro de 2020, durante o “Ato alusivo à visita às obras da Ferrovia”, em São Desidério (BA), o presidente disse que sua prioridade era terminar as obras já começadas. “Essa grande obra que está sendo concluída aqui, nos próximos anos, será efetivada, nos ligando com o resto do Brasil”.

Em cinco anos de governo Dilma, os investimentos nesse trecho ficaram em R$ 860 milhões. Mas os governos petistas já haviam aplicado R$ 4,6 bilhões em outro trecho, de Ilhéus a Caetité. Somando os dois trechos, no valor de R$ 7,6 bilhões, os investimentos do atual governo ficaram em R$ 1,2 bilhões – ou 16% do total. A ferrovia completa terá 1.527 km, de Ilhéus a Figueirópolis (TO), onde fará conexão com a Ferrovia Norte-Sul.

As obras de Norte-Sul tiveram início em 1987, com um trecho de 215 km no Maranhão. A conclusão ocorreu após nove anos. A construção foi retomada no primeiro mandato de Lula, com muitos atrasos. Em 2014, Dilma inaugurou um trecho de 855 km de Porto Nacional a Anápolis. Em 2011, a presidente deu início ao trecho de Ouro Verde (GO) a Estrela D’Oeste (SP).

Como mostra a execução do Orçamento da União, os governos petistas investiram R$ 4,9 bilhões no trecho Palmas-Uruaçu (GO), R$ 4,6 bilhões no trecho Ouro Verde-São Simão (GO) e R$ 980 milhões no trecho Ouroeste-Estrela D’Oeste (SP). Em leilão realizado em 2019, o governo Bolsonaro transferiu à iniciativa privada um trecho de 1.537 km da Norte-Sul, de Porto Nacional a Estrela D’Oeste. A ferrovia foi arrematada pela Rumo Logística por R$ 2,7 bilhões, num contrato de concessão de 30 anos. A empresa está concluindo as obras e construindo terminais de carga.

O blog já havia mostrado a corrida armamentista entre Bolsonaro e os últimos três presidentes. A maior média anual de gastos é de Temer – R$ 7,6 bilhões. Mas o maior volume de recursos foi investido pelos governos petistas – R$ 38 bilhões. Bolsonaro tem mantido os investimentos no reaparelhamento das Forças Armadas iniciados nos governos do PT. Em três anos, gastou R$ 18,5 bilhões – média anual de R$ 6,2 bilhões. Nos cinco anos e quatro meses de mandato, Dilma investiu R$ 30,5 bilhões – média de R$ 5,7 bilhões.

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