![Exclusivo: os gastos sigilosos do cartão corporativo da ex-presidente Dilma Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil que sofreu impeachment em 2016 por causa das chamadas pedaladas fiscais.](https://media.gazetadopovo.com.br/2019/10/04204620/dilma-rousseff-evaristo-sa-afp.jpg)
O sigilo nos gastos da Presidência da República com cartão corporativo foi criado para proteger informações que possam ameaçar a segurança do presidente e de seus familiares. Mas a privacidade imposta pela lei esconde também despesas com mordomias e luxos que a maioria esmagadora dos brasileiros não tem acesso, como, por exemplo, bebidas e comidas sofisticadas.
É o que mostram os gastos até hoje secretos feitos para atender a então presidente Dilma Rousseff em 2012, no segundo ano de mandato dela. Com base na Lei de Acesso à Informação, o blog solicitou ao Palácio do Planalto a abertura dos arquivos que registram as despesas com cartão corporativo da petista e também de Lula e Michel Temer. A legislação determina o sigilo de 98% das despesas da Presidência da República e a confidencialidade dura até o final do mandato.
Ao longo dos últimos 15 dias, o blog analisou os relatórios do governo Dilma e descobriu gastos extravagantes, como garrafa de cachaça por R$ 380 e compra de camarão rosa tamanho GGG por R$ 230 o quilo. Há ainda o aluguel de uma lancha para passear por R$ 30 mil. Todos os valores foram atualizados pela inflação.
Dilma viajou para a Base Naval de Aratu, no município de Salvador, para passar o réveillon e alguns dias de folga, no final de dezembro de 2011. Só com a lavagem de roupa de cama, mesa e banho foram gastos R$ 3,8 mil. Também foram gastos R$ 340 com o aluguel de filmes clássicos na Cult Vídeo. A locação de um gerador de energia elétrica para iluminar as instalações da base custou R$ 10 mil. Tudo pago com cartão corporativo.
Um verdadeiro séquito de servidores acompanhou a presidente, desde seguranças até empregados domésticos. A lancha utilizada pela presidente Dilma e convidados durante a sua permanência na base naval foi alugada por R$ 20,4 mil (valor da época). O relatório da viagem informa que a despesa foi paga “em espécie” porque o fornecedor não trabalhava “com nenhum tipo de cartão de crédito”.
Bebidas e carnes sofisticadas: passa no cartão corporativo
Em janeiro de 2012, as compras para atender as necessidades do Palácio da Alvorada incluíram 6 garrafas da cachaça Havana, uma das mais famosas do país, ao preço de R$ 246 a unidade. No mês seguinte, a adega foi reforçada com 6 garrafas do espumante Freixenet Cava Premium, por R$ 91 cada; mais 6 garradas do vinho português Quinta das Tecedeiras, no valor de R$ 136 a unidade. De Araguari (MG), vieram mais 8 garrafas da cachaça Montanhosa Tonel, no valor de R$ 280 cada uma delas.
Os alimentos mantinham a sofisticação das bebidas. No mesmo período, foram comprados no Empório Kalamares 5 quilos de codorna desossada por R$ 577 e 8 quilos de carrê de cordeiro por R$ 976. Na Peixaria do Guará, a mais tradicional de Brasília, além de 41 quilos de côngrio rosa e pescada amarela, foram adquiridos 12 quilos de camarão rosa tamanho GGG, no valor total de R$ 1,7 mil.
Na Viande Boutique de Carnes, no final de janeiro daquele ano, compraram 81 quilos de filé mignon por R$ 5,7 mil. Uma semana depois, na mesma loja, gastaram mais R$ 6,2 mil com 89 quilos de filé mignon. E ainda levaram dois quilos e meio de picanha Uruguay por R$ 239. Houve ainda a compra de mais 10 quilos de codorna desossada, tudo do período de um mês.
Nas compras de supermercados com cartão corporativo aparecem também queijos muito especiais, como o Cablanca Holandês, por R$ 99 o quilo; e o Grano Padano, por R$ 150 o quilo. E não poderia faltar a sobremesa. Os cartões corporativos já foram usados para comprar tapioca em Brasília. Em fevereiro de 2012, foram adquiridas cinco caixas de sorvete de tapioca por R$ 400.
Os cartões são usados para tudo. Naquele período, foram compradas duas coleiras por R$ 255. Dilma tinha um labrador que a acompanhou por 12 anos, de nome Nego. Nos registros há ainda aquisições de material para a manutenção da piscina do Alvorada, material da copa e cozinha, bolos e lanches variados.
Todos os gastos dos cartões
Reportagem publicada no blog em 1º de agosto mostrou que, no último ano completo da presidente Dilma, as despesas com cartão corporativo alcançaram R$ 26 milhões (em valores atualizados) até o mês de junho – 25% a mais do que no atual governo no mesmo período. Mas o blog mostrou também que o presidente Jair Bolsonaro mantém em segredo mais de dois terços das informações sobre gastos com cartões corporativos do governo federal, num total de R$ 13,5 milhões, seguindo práticas de administrações anteriores.
As maiores despesas pagas com cartões são feitas nas viagens nacionais e internacionais. Nas viagens locais, onde o presidente participa de festividades e outros eventos, é necessária a mobilização de um grande contingente de seguranças, policiais e até militares, o que resulta em gastos com transporte, alimentação e hospedagem. Trataremos disso nas próximas reportagens.
Há, ainda, gastos com as despesas dos ex-presidente da República e com os familiares dos presidentes durante os seus mandatos. No governo Lula, a Presidência chegou a mobilizar quatro equipes simultaneamente para garantir a segurança de seus filhos. Também foi assegurada segurança para familiares da então presidente Dilma.
O cartão de pagamento do governo federal, na forma de cartão de crédito, foi criado para pagar despesas eventuais de pequeno valor, que exigem pronto pagamento, e também compras em caráter sigiloso. Na prática, podem comprar quase tudo, como combustível, passagens aéreas, medicamentos, material para construção, material impresso, etc. Também podem ser usados em restaurantes e para compras em supermercados e padarias.
-
Decisão do STF de descriminalizar maconha gera confusão sobre abordagem policial
-
Enquete: na ausência de Lula, quem deveria representar o Brasil na abertura da Olimpíada?
-
“Não são bem-vindos a Paris”: delegação de Israel é hostilizada antes da abertura da Olimpíada
-
Black Lives Matter critica democratas por “unção” de Kamala Harris sem primárias
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião