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Lúcio Vaz

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O blog que fiscaliza o gasto público e vigia o poder em Brasília

Flávio e Eduardo

Filhos de Bolsonaro usam seguranças do Congresso até em viagem de férias e casamento

Deputado Eduardo Bolsonaro se casou em maio de 2019, no Rio de Janeiro: cinco seguranças da Câmara estiveram no evento a trabalho.
Deputado Eduardo Bolsonaro se casou em maio de 2019, no Rio de Janeiro: cinco seguranças da Câmara estiveram no evento a trabalho. (Foto: Davi Nascimento/Divulgação)

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O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) levou cinco seguranças da Câmara para o seu casamento no Rio de Janeiro, no dia 25 de maio do ano passado. O custo da escolta especial ficou em R$ 10 mil, sem contar as passagens aéreas. Já o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) viajou de férias para Nova York por 23 dias, durante o recesso parlamentar. Foi acompanhado por um segurança do Senado, que recebeu R$ 40 mil em diárias e mais R$ 23,5 mil das passagens. Claro que quem pagou tudo isso foi você, contribuinte.

Em 2019, a Câmara dos Deputados desembolsou R$ 225 mil para bancar as 458 diárias pagas a policiais legislativos em 160 deslocamentos para proteger Eduardo Bolsonaro. No Senado, os números não são muito precisos. Em pelo menos 17 deslocamentos, quatro policiais da casa declararam que fizeram a escolta do senador Flávio Bolsonaro. Receberam 46 diárias a um custo de R$ 51 mil, sem contar as passagens. Os mesmos servidores fizeram mais 22 viagens para o Rio de Janeiro, ao custo de R$ 25 mil, sem identificar quem protegiam.

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Há ainda as viagens internacionais bancadas por Senado e Câmara – leia-se contribuinte. Flávio esteve em Tel Aviv (Israel) de 24 a 30 de outubro, acompanhado do policial legislativo Bruno Fonseca, chefe da sua equipe de segurança. As cinco diárias do senador custaram R$ 8,7 mil. Não há registros de compra de passagens para Flávio. Mas as despesas com Bruno foram maiores – R$ 13,9 mil por oito diárias mais R$ 8,8 mil pelas passagens.

Bruno também esteve na China, de 14 a 23 de setembro, em missão oficial de proteção ao senador Flávio. As 10 diárias custaram R$ 17 mil. As passagens dos dois foram pagas pelos organizadores do evento.

Justificativa das viagens: "missão de proteção"

Flávio também esteve em Abu Dhabi, no final de novembro, para negociar o retorno do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 para o Rio de Janeiro. Levou informações ao CEO da Fórmulal 1, Chase Carey, sobre a construção do autódromo em Deodoro (RJ). Também aproveitou a assistiu à última corrida do ano, vencida por Lewis Hamilton. Viajou a convite dos organizadores do evento.

Bruno declarou ter cumprindo missão de “proteção de parlamentar” em Abu Dhabi, de 28 de novembro a 3 de dezembro – o mesmo período da viagem de Flávio. As despesas ficaram em R$ 10,8 mil com seis diárias e R$ 10,2 mil com passagens.

O chefe da segurança também declarou ter recebido R$ 40 mil por 23 diárias em “missão oficial de proteção de parlamentar”, de 21 de dezembro de 2019 a 12 de janeiro deste ano, em Nova York. Nos registros do Senado, consta despesa de R$ 24 mil de Bruno com passagens para esse evento, incluindo o seguro viagem. Ele não informou explicitamente quem protegeu, mas o senador foi procurado pelo blog e respondeu, por meio da sua assessoria, que viajou de férias durante o recesso. Por isso, não utilizou passagens nem recebeu diárias do Senado. Mas as despesas do policial legislativo somaram R$ 64,4 mil.

Flávio esteve ainda em Salvador, de 18 a 28 de julho, durante o recesso parlamentar do meio do ano. Foi acompanhado pelo policial Bruno, que recebeu 10 diárias no valor de R$ 6,3 mil. Segundo o gabinete do senador, ele participou de evento do mercado da construção, que pagou as despesas com passagens.

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Seguranças até no casamento de Eduardo Bolsonaro

Cinco seguranças da Câmara acompanharam Eduardo Bolsonaro ao Rio de Janeiro de 23 a 26 de maio. O custo das 19,5 diárias chegou a R$ 10,2 mil. Um dos policiais legislativos informou no relatório de viagem que realizou “atividades de segurança (escolta motorizada e proteção pessoal)” do deputado. Outro relatou que executou “serviços de precursora”, acompanhou e fez a segurança do deputado no período descrito. Um terceiro registrou que desenvolveu atividades de proteção pessoal ao deputado durante a sua permanência no estado, “inclusive na cerimônia de seu casamento”.

O blog questionou a Câmara e o gabinete do deputado sobre a legalidade da utilização de seguranças da casa na cerimônia de casamento do parlamentar. A assessoria do deputado afirmou que, durante as viagens, a segurança “ocorre 24 horas por dia”. Sobre o fato de ter sido durante um evento particular, o assessor respondeu: “não interessa se é particular ou não, tem que acompanhar ele”.

Os policiais legislativos que dão proteção a Eduardo são técnicos legislativos, de nível médio, mas com salários bem elevados, em torno de R$ 20 mil. Uma escolta dessas custa cerca de R$ 80 mil por mês, foram diárias e passagens.

Os filhos do presidente da República têm direito a proteção policial por parte da Presidência da República. Mas o assessor do gabinete do deputado, Eduardo Guimarães, informou que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) solicitou à Câmara que essa segurança fosse feita pela casa legislativa. As diárias e passagens também são pagas pela Câmara. Acontece o mesmo no Senado em relação a Flávio Bolsonaro.

Outros dois deputados têm direito a escolta de seguranças na Câmara, mas por outro motivo: foram ameaçados de morte. Os seguranças do deputado David Miranda (Psol-RJ) receberam 215 diárias no valor total de R$ 84 mil. Os policiais que protegem a deputada Talíria Petrone (Psol-RJ), receberam 348 diárias num total de R$ 136 mil.

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A farra das diárias

No mesmo ritmo do seu presidente, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que gastou cerca de R$ 800 mil em diárias e passagens para assessores no ano passado, os servidores do Senado também usaram bastante essas mordomias. O Senado gastou R$ 2,1 milhões com diárias para servidores no ano passado, sendo R$ 751 mil para o exterior. Apenas para assegurar a presença da Casa em quatro "Feiras do Livro” foram liberadas 251 diárias, no valor de R$ 107 mil.

Só a Feira do Livro de Porto Alegre recebeu nove servidores do Senado. Eles receberam 91 diárias num total de R$ 38 mil. Antônio Sampaio recebeu 20 diárias, no valor de R$ 7,2 mil, para ficar na capital gaúcha de 30 de outubro a 19 de novembro. E também houve despesas com passagens. Teve ainda feira no Rio de Janeiro, Pernambuco e Belém. As oficinas do Instituto Legislativo Brasileiro (Interlegis) custaram mais R$ 204 mil somente em diárias.

Questionado pelo blog, o Senado afirmou que as viagens são necessárias para viabilizar a representação do Senado, encarregada do funcionamento do estande da instituição, além de outros eventos inclusos na programação das feiras. Sobre a feira de Porto Alegre, afirmou que o servidor que recebeu 20 diárias ficou encarregado da supervisão da montagem e desmontagem do estande e de outras tarefas necessárias à participação no evento.

Sobre o Interlegis, afrimou que cabe ao instituto gerir e executar o Programa de Integração e Modernização do Poder Legislativo Brasileiro (Interlegis), fomentando, apoiando e assistindo, com o necessário suporte técnico, o processo de modernização do Poder Legislativo Brasileiro, integrando-o em suas instâncias federal, estadual e municipal.

O blog enviou vários questionamentos ao Senado sobre diárias e passagens pagas a seguranças a serviço de senadores. Respondeu que, embora a Constituição Federal assegure que todos têm direito a receber informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo, “são ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Nesse contexto, entendemos imprescindível a necessidade de preservação do sigilo quanto à identificação dos parlamentares que lançam mão de pedidos de proteção, bem como de motivos da escolta ou quaisquer informações que exponham a composição de equipe do serviço de proteção”.

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