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Ministros usam jatinhos da FAB em viagens ao exterior e para seus redutos eleitorais
| Foto: Johnson Barros

Seguindo os passos do presidente Lula, nove dos seus ministros fizeram 20 viagens ao exterior em jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB), num total de 127 horas de voo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez 30 voos – todos de ida ou volta para São Paulo. Mas o campeão da gastança continua sendo o ministro da Justiça, Flávio Dino, com 46 voos, mais da metade para passar o fim de semana em São Luís. E tem mais 35 voos secretos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). É a farra dos jatinhos.

Haddad fez 14 voos de Brasília para São Paulo, 11 deles na sexta-feira ou na quinta. Fez mais 16 voos de São Paulo para a capital federal, 14 deles às segundas e terças-feiras. Os ministros de Estado não podem viajar para casa em aeronaves oficiais, mas Haddad tinha agendas na capital paulista às sextas ou sábados. No dia 2 de junho, sexta-feira, ele integrou a comitiva presidencial na inauguração de um bloco da Universidade Federal do ABC, em São Bernardo do Campo (SP). Ele passou o final de semana em São Paulo. Na segunda (5), pegou um jatinho para Brasília às 6h45.

No dia 26 de maio, sexta-feira, o último compromisso de Haddad em São Paulo foi uma entrevista ao vivo para o programa Globo News Mais, no final da tarde. Não teve agenda oficial na capital paulista no sábado e no domingo. Na segunda, pegou uma aeronave chapa branca para Brasília às 7h50, onde participou da recepção ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

Em 5 de maio, quarta-feira, Haddad voou à noite para São Paulo. Na quinta, no gabinete do Ministério da Fazenda na Avenida Paulista, concedeu entrevistas para a Band News TV e para o jornal Folha de São Paulo. Ficou sem agenda de sexta a domingo. No dia 10, segunda-feira, pegou a aeronave chapa-branca e partiu para Brasília, onde participou da reunião ministerial dos 100 dias de Governo.

Voos para casa nos finais de semana

O ministro da Justiça fez um roteiro de quatro cidades em dois dias entregando equipamentos para segurança pública, nos dias 13 e 14 de abril, quinta e sexta-feira. Passou por Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba. Às 16h de sexta, partiu de Curitiba para São Luís, numa viagem de três horas e meia. Dino não tinha agenda oficial na capital do Maranhão no final de semana. Retornou a Brasília na noite de domingo, sempre no seu jatinho. O ministro fez 12 voos de ida ou volta para São Luís em finais de semana sem agenda oficial.

Outro ministro que privilegia o seu reduto eleitoral é Luiz Marinho, do Trabalho e Emprego. Ex-deputado federal e ex-prefeito de São Bernardo do Campo, ele fez 28 voos em jatinhos da FAB, sendo 20 de ida ou volta para São Paulo. No dia 13 de janeiro, sexta-feira, ele cumpriu agenda oficial em Brasília e voou na aeronave oficial para São Paulo à noite. Passou o final de semana sem agenda. Na segunda, bem cedo, pegou o jatinho e retornou a Brasília.

No dia 24 de março, sexta-feira, teve audiências em Brasília até às 14h e voou para São Paulo no jatinho da FAB no final da tarde. À noite, teve reunião com presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, Gilberto Almazan, na capital paulista. Passou o final de semana sem agenda oficial e retornou a Brasília na segunda, bem cedo, no seu jatinho.

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ex-deputado e ex-senador por Minas Gerais, fez 22 voos, sendo nove deles para Minas. Em 14 de fevereiro, esteve na entrega de Residenciais do Programa Minha Casa Minha Vida, representando o presidente Lula. Ele esteve também em ato público com atingidos de Brumadinho e Mariana; na Abertura da Safra Mineira de Açúcar e Etanol, em Uberaba (MG); no Congresso Mineiro de Municípios, em Belo Horizonte; e teve reunião com o presidente da Assembleia Legislativa de Minas, Tadeu Martins Leite.

Pelas Américas nas asas da FAB

Ameaçada de perder o cargo de ministra do Turismo, Daniela Carneiro, deputada licenciada (União-RJ), fez duas viagens ao exterior no mês de maio, uma para Punta Cana (República Dominicana) e outra para Havana (Cuba), para participar de encontros com ministros de turismo. Ela voou 134 horas em jatinhos da FAB. No encerramento da reunião dos ministros do Turismo do G77 + China, em Havana. Em 6 de maio, ela postou nas redes sociais foto com o presidente cubano: “Agradeço imensamente a acolhida do governo Cubano, na pessoa do presidente Miguel Díaz-Canel”.

Quem mais viajou foi o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o que parece lógico. Ele esteve em nove cidades de oito países. A viagem mais longa foi para Lisboa, onde acompanhou a visita do presidente Lula. Antes disso, esteve em Mindelo (Cabo Verde), para a reunião da Zona de Paz e de Cooperação do Atlântico Sul. Vieira afirmou que Lula pretende colocar novamente a África como prioridade da política externa brasileira. “Considero este movimento de retomada da presença do Brasil na África como consequência natural de nossa política externa de vocação universalista. Juntos, os países das duas margens do Atlântico Sul podem constituir verdadeira força em favor da construção de uma ordem internacional multipolar”.

Vieira falou do poderio naval brasileiro: “É nesse marco que se inserem os esforços de décadas do Estado brasileiro para desenvolver submarinos convencionais a propulsão nuclear. Tais meios navais têm caráter estritamente defensivo e dissuasório e são plenamente compatíveis com o objetivo fundamental de manter o Atlântico Sul como uma zona livre de armas nucleares”.

O chanceler brasileiro também esteve em Assunção, Buenos Aires, Santo Domingo (República dominicana), Quito, La Paz, Santa Cruz de La Sierra, Paramaribo (Suriname) e Georgetown (Guiana). O ministro da Integração do Desenvolvimento Nacional, Waldez Goés, esteve em Punta del Leste (Uruguai), para a reunião com representantes da ONU sobre a Redução de Riscos e Desastres. Os ministros de Lula estiveram ainda Montevidéu e Cidade do Panamá.

Ministra Daniela Carneiro cumprimenta o presidente de Cuba, Díaz-Canel. Foto: Reprodução/Facebook
Ministra Daniela Carneiro cumprimenta o presidente de Cuba, Díaz-Canel. Foto: Reprodução/Facebook

Voos secretos viraram rotina

Iniciados em fevereiro, os voos secretos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em jatinhos da FAB já somam 35. Em 28 deles, os voos tiveram apenas um passageiro – quase um “Uber aéreo”. Em outros sete voos, havia dois passageiros. Quase todos os voos foram de ida ou volta para São Paulo, onde os ministros passam o final de semana. Houve apenas um voo para Belo Horizonte.

Esses voos são secretos porque não fica registrado qual ministro viajou. Mas o blog apurou que entre os privilegiados estão os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso. Os ministros alegaram que estariam sendo hostilizados nos aeroportos. Por isso, estariam necessitando de mais segurança e privacidade. O pedido foi feito à Defesa por intermédio do ministro da Justiça, Flávio Dino. Nos registros da Aeronáutica, os voos estão camuflados. Aparecem como voos “à disposição do Ministério da Defesa”.

No dia 27 de abril, houve um voo de Brasília para São Paulo, "à disposição do Ministério da Defesa", com 12 passageiros. Entre eles, estavam os ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski.

O Decreto 10.267 de 2020, baixado pelo então presidente Jair Bolsonaro, determina que os ministros de Estado e comandantes militares têm direito a utilizar aeronaves oficiais por motivo de serviço, doença ou segurança. Mas apenas os presidentes do Senado, da Câmara e do STF, além do vice-presidente, podem se deslocar para suas residências em jatinhos da FAB. Uma brecha na legislação permite que o ministro da Defesa autorize voos de outras autoridades nacionais ou estrangeiras.

O blog questionou os ministros de Lula por que eles concentraram suas viagens aos seus redutos eleitorais e se as viagens para casa nos finais de semana não contrariam o Decreto 10.267. A assessoria do ministro Luiz Marinho afirmou que ele utiliza os aviões da FAB “por motivo de viagem de serviço, de acordo com registro em agenda oficial da atividade, conforme decreto 10.267”. Os demais não responderam.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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