Fila no terminal do Santa Cândida: prefeitura quer evitar aglomerações.| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná
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Depois de um ano, o que deveríamos ter? Mais leitos hospitalares, principalmente mais leitos de UTI. A escassez sempre existiu, e tivemos agora uma boa chance para atacar com força esse problema. Um ano... Não deveríamos ter vacinas, mas temos! Era um anseio da população, que seja atendido. Há dúvidas sobre o uso dos imunizantes em alguns grupos, há dúvidas sobre possíveis efeitos adversos no médio e longo prazo, mas livres estamos para decidir tomar ou não a vacina.

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Tratamento precoce é outra história. Um ano, e o que temos? Desrespeito à liberdade médica, uma guerra contra qualquer um que preconize, nos primeiros dias de contaminação pelo coronavírus, o uso de medicamentos que não sejam antitérmicos e analgésicos. Um ano de ameaças a especialistas que entrevistei e ousam defender o tratamento precoce, o que é indicado em qualquer doença, mas não no caso da Covid-19. Esse tempo todo, e ainda estou à procura de um bom mapa das contaminações no Brasil, onde se dão com mais frequência, em que horários... lockdown... um ano disso, e não há resultados a comemorar.

Lojas de rua, de centros comerciais, de shopping centers, restaurantes, todos aqueles que seguem os protocolos não têm culpa pelo aumento no número de contaminados

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Ficar em casa não adianta e é impossível para muita gente. São milhões de pessoas aglomeradas no transporte público, e o risco é real. Uma pesquisa da UFMG já apontou a presença do coronavírus no sistema de ônibus em Belo Horizonte. Qualquer estudo profundo e cuidadoso, que o período de um ano permitiria, indicaria o mesmo em qualquer grande cidade. Mais limpeza, mais desinfecção e, principalmente, mais ônibus, trens e metrô.

Infelizmente, nossos governantes nunca pareceram realmente preocupados com a superlotação no transporte público. A prefeitura de São Paulo, por exemplo, preferiu reduzir a frota de ônibus, ou teria de pagar até R$ 2 bilhões em subsídios às empresas de transporte, já que o número de passageiros caiu. Considerar esse valor um investimento em saúde pública, claro, seria o correto. Sobre o comércio, lojas de rua, de centros comerciais, de shopping centers, restaurantes, todos aqueles que seguem os protocolos não têm culpa pelo aumento no número de contaminados.

O problema maior é que decidiram acreditar que conseguimos proteger a saúde pública por um período longo à custa da saúde econômica geral. A renda é uma das variáveis mais fortes que afetam a nossa saúde, nossa expectativa de vida, nossa longevidade. Quase 120 milhões de pessoas no mundo foram atiradas, no último ano, à extrema pobreza. Por conta da quarentena global, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura calcula que 265 milhões de pessoas no planeta estão passando fome. A Unicef aponta que a mortalidade infantil pode aumentar 45%. Faltou a OMS? Aí vai uma frase do seu diretor-geral, Tedros Adhanom: “A pandemia é um alerta de que saúde e economia são inseparáveis”. Como fazem questão de ignorar essa relação, haverá mortos a contar por muitos anos, mesmo depois do vírus. Passado tanto tempo, talvez fique claro para quem, de verdade, todas as vidas sempre importaram.