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Lula e Centrão: falsas promessas, falsas entregas
| Foto: Ricardo Stukert/Presidência da República

Não causa surpresa a constante e recente troca de membros dos ministérios no atual governo. Engendrada por marqueteiros, a imagem de “pai dos pobres”, “lulinha paz e amor” ou mesmo “comunista raiz” do atual ocupante da cadeira presidencial não resistiu ao choque de realidade, que é governar sem maioria. Entretanto, essa maioria que não apoiou sua candidatura tem preço e nome, e esse apoio que não ocorreu pode ser negociado agora, por meio de lideranças partidárias e mecanismos de representação na Câmara e mesmo no Senado. 

Basta ver o placar de votações favoráveis a todos os projetos do executivo que, literalmente, furam a fila dos trâmites regimentais da Câmara dos Deputados. Só mesmo a mobilização e o barulho da sociedade para colocar um freio no “toma lá, dá cá” fechado nos bastidores, em reuniões secretas com lideranças de partidos. Os deputados, muitas vezes, viram reféns desses acordos e para fazerem valer seu mandato têm que votar em separado, isolando-se dos colegas, dos líderes e enfrentando as consequências de seguir sua consciência, de fazer o certo. 

Em campanha, para agradar ao público politicamente correto e corporativista, o candidato, hoje chefe do executivo, prometeu inicialmente metade dos ministérios e cargos no primeiro escalão do seu governo para as mulheres. Ao tomar posse, dos 37 ministérios foram apenas 13 para o público feminino, e agora, com a dança das cadeiras e acordos com o Centrão, duas ministras, Ana Mozer e Daniela Carneiro, respectivamente nas pastas do Esporte e do Turismo perderam seus postos. Se antes a mulherada comemorava parcos 30% de participação no governo, agora amarga menos de 24%.

E quem ocupou esses lugares? No ministério do Turismo, entra o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), que era presidente da comissão de Orçamento neste seu segundo mandato. Na pasta dos Esportes, assume o deputado André “Fufuca” de Carvalho Ribeiro (PP/MA), também chamado de “Fufuquinha”, filho do atual prefeito de Alto Alegre do Pindaré. Já começou com declarações polêmicas ao divergir de sua antecessora e anunciou uma diretoria exclusiva ligada aos “e-sports”, leia-se jogos de videogame. 

Essas nomeações  fazem parte do acordo que o Palácio do Planalto fez com os partidos PP, Republicanos, União Brasil e mesmo o PL, de Bolsonaro. Até o momento, foram prometidas 20 indicações para as diretorias da Caixa Econômica Federal, em segundo e terceiro escalão. Todos esses membros da “oposição” estão interessados e acenaram positivamente para seus novos cargos, segundo reportagem da CNN. Com essa reforma ministerial - e esse desgoverno gosta muito de reformas para acomodar seus interesses -  está garantida a base de apoio, com cerca de 350 dos 513 deputados. A Câmara está de portas abertas à negociação, e o Centrão mira primeiro em ministérios cujos titulares não têm partido. Veja no quadro abaixo como está a composição dos ministérios: 

  1. Gabinete de Segurança Institucional: general da reserva Marcos Antonio Amaro dos Santos
  2. Secretaria-Geral: Márcio Macêdo (PT)
  3. Comunicações: Juscelino Filho (União Brasil)
  4. Integração e Desenvolvimento Regional: Waldez Góes (PDT)
  5. Educação: Camilo Santana (PT)
  6. Minas e Energia: Alexandre Silveira (PSD)
  7. Esportes: André Fufuca (PP)
  8. Transportes: Renan Filho (MDB)
  9. Defesa: José Múcio Monteiro (PTB)
  10. Casa Civil: Rui Costa (PT)
  11. Justiça: Flávio Dino (PSB)
  12. Fazenda: Fernando Haddad (PT)
  13. Portos e Aeroportos: Márcio França (PSB)
  14. Agricultura: Carlos Fávaro (PSD)
  15. Pesca: André de Paula (PSD)
  16. Gestão: Esther Dweck (PT)
  17. Relações Institucionais: Alexandre Padilha (PT)
  18. Cidades: Jader Filho (MDB)
  19. Advocacia-Geral da União: Jorge Messias (Bessias do PT)
  20. Controladoria-Geral da União: Vinícius Marques de Carvalho (ex-CADE de Dilma/ PT)
  21. Turismo: Celso Sabino (União Brasil)
  22. Previdência Social: Carlos Lupi, (presidente do PDT)
  23. Ciência e Tecnologia: Luciana Santos (PCdoB)
  24. Planejamento: Simone Tebet (MDB)
  25. Saúde: Nísia Trindade (socióloga sem partido)
  26. Relações Exteriores: Mauro Vieira (diplomata de carreira sem partido)
  27. Igualdade Racial: Anielle Franco (PT)
  28. Indústria e Comércio: Geraldo Alckmin (PSB)
  29. Povos Indígenas: Sônia Guajajara (PSOL)
  30. Mulheres: Cida Gonçalves (PT)
  31. Direitos Humanos: Silvio Almeida (sem  partido)
  32. Cultura: Margareth Menezes (PT)
  33. Desenvolvimento Social: Wellington Dias (PT)
  34. Meio Ambiente e Mudanças Climáticas: Marina Silva (Rede)
  35. Trabalho: Luiz Marinho (PT)
  36. Desenvolvimento Agrário: Paulo Teixeira (PT)
  37. Secretaria de Comunicação Social: Paulo Pimenta (PT)

Entretanto, dividir o poder não é fácil. Mesmo entre os contemplados, as lideranças de partidos têm exigido mais e mais participação no governo em detrimento dos demais, e todos apostam suas fichas no número de deputados de cada sigla que podem servir de capacho para os planos centralizadores do governo, e isso inclui, principalmente, ORÇAMENTO! Para amenizar a situação tensa entre partidos que querem dividir o bolo, foi convidada a assumir o comando da Caixa a ex-governadora do Piauí, Margarete Coelho (PP), que recusou a proposta.

Na mesma reportagem da CNN, a conclusão da matéria não poderia ser mais objetiva sobre o caso: “PP avisou ao Palácio do Planalto que só aceita assumir o comando da Caixa Econômica Federal se tiver a possibilidade de ‘porteira fechada’. Ou seja, de que o bloco do centrão faça as indicações em todas as vice-presidências e diretorias na instituição financeira.”

Sem nomes tecnicamente qualificados para compor seus quadros, o Centrão indicou Gilberto Occhi, ex-ministro da saúde e ex-presidente da Caixa nos governos Dilma-Temer, mas temendo a reação das mulheres, Lula agora cogita a possibilidade de indicar Danielle Franco, que foi vice-presidente da Caixa, para ter alguma representatividade feminina e salvar a reputação. Bem difícil.  

Esse pêndulo fatal, em que as promessas se alternam com as possibilidades, foi e será uma constante na vida política de qualquer um que assuma cargo executivo no Brasil, a não ser ser que se mude o sistema por meio de reformas estruturantes, que virão com a mobilização e o grito da sociedade. Até lá, sem freios nem contrapesos que os limitem, membros dos três poderes comemoram a paz com jantares, festas e viagens à Disney. Seria melhor terem pedido uma pizza.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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