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Biólogo antivacina alemão volta aos holofotes durante pandemia
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Nos últimos dias, têm se multiplicado pelos jornais da Europa artigos feitos para desmentir a história de que um "virologista" alemão provou judicialmente que vírus não existem. Difícil demais compreender por que alguém começa a espalhar histórias desse tipo bem no meio de uma pandemia, com o mundo em quarentena. Mas é fácil entender o que pode levar pessoas desesperadas a buscar nessa mentira uma esperança, então melhor informar já o golpe antes que chegue por aqui.

A briga judicial existe e o biólogo virologista antivacina envolvido nela também mas, ao contrário do texto que circula pelas redes sociais, nunca se debateu judicialmente na Alemanha a existência dos vírus.

Stefan Lanka ganha a vida, desde 1994, negando publicamente a existência dos vírus e promovendo imensas campanhas contra as vacinas na Alemanha. A cada doença nova ou cada surto de qualquer doença, o biólogo ressurge dizendo que se trata de uma grande conspiração porque vírus não existem.

A primeira vez em que ele ganhou os holofotes foi dizendo que HIV não existe e era uma grande mentira contada em todo o mundo. Durante o final da década de 1990 e o início do século XXI, a popularidade dele foi crescendo junto com o movimento antivacina. Ao grupo foram se juntando, pouco a pouco, outros profissionais da área de saúde, muitos deles proibidos de clinicar devido a más práticas.

A grande cartada de Stefan Lanka foi em 2011, quando lançou em seu site um desafio prometendo pagar € 100 mil a quem provasse a ele que o vírus do sarampo existe. Essa é a história que vem sendo distorcida agora.

Um estudante de medicina juntou 6 estudos sobre o vírus e mandou para o site. Depois, entrou na Justiça pedindo o prêmio que Stefan Lanka se recusava a pagar. A primeira instância decidiu que ele teria de pagar, em 2015, mas o biólogo recorreu. Em 2016, a Justiça alemã reviu o caso e considerou que o estudante não havia provado nada sobre o vírus, apenas enviado estudos feitos por outras pessoas, então não fazia jus ao prêmio. Caso um autor de estudo o tivesse enviado, a história seria outra.

A partir daí, Stefan Lanka viu diante de si uma mina de ouro. Histórias burocráticas da Justiça são um prato cheio para distorção. Como ganhou a ação, saiu dizendo que tinha provas judiciais de que os vírus não existem e começou a advogar pelo fim de todas as campanhas de vacinação.

O passo seguinte foi a criação de uma marca: "A Nova Medicina Alemã". É uma ressurreição das ideias do médico Ryke Geerd Hamer, que teve sua licença cassada e foi preso em vários países da Europa por negligência e más práticas.

Nos anos 1970, ele dizia que vírus, bactérias e fungos não causam doenças e podem ser controlados pelo cérebro, não precisam de remédios. Aplicava o mesmo princípio aos pacientes de câncer. Convenceu muitas pessoas a simplesmente abandonar o tratamento tradicional, mesmo com boas chances de cura, para definhar até a morte. Teve sua licença cassada em 1986.

A nova versão é um pouco diferente, já que nega a existência dos vírus e pouco se importa com os patogênicos. A teoria é de que todas as doenças são causadas por traumas psicológicos - especialmente o sarampo - e que resolvendo o trauma inicial a doença é imediatamente resolvida. Não há um único estudo que comprove ou embase a história, feita basicamente de muita imaginação.

Todos gostaríamos que houvesse alguma solução mágica para o que estamos vivendo e que ela chegasse o mais rápido possível. Eu queria muito que fosse apenas um pesadelo ou teoria da conspiração essa história de pandemia. Infelizmente não é. Que saibamos nos cuidar e nos unir para, juntos, atravessar mais essa tempestade.

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